HÁ VITÓRIA DOS VELHOS NUS?

Agenor sorriu enquanto despertava a velha que ao seu lado roncava, envolvida nos braços de Morfeu.

– Geruza, Geruza, rápido, rápido... Acorda!

Ainda sonolenta, a mulher resmungou.

– O que foi, homem? O que aconteceu? O mundo está acabando?

– Que mundo acabando que nada, minha véia! Vitória, muié, simplesmente, vitória! – Sorriu, ainda fascinado e falando baixo, como que tentando fazer com que a mulher ouvisse as últimas frases que a jornalista acabara de anunciar.

– O que ouve Agenor? – Continuou – pela sua cara de felicidade, parece que o Brasil deve estar fazendo parte do primeiro mundo, não?

– Que lá mané de primeiro mundo, muié! Eu tô lá preocupado com coisas impossíveis? A notícia que acabo de ouvir são mil vezes melhores que isso – olhou para a mulher com um olhar de malícia.

– Fala logo ou me deixa dormir, home! Será que o governo achou a fórmula mágica contra o desemprego?

– Já falei, muié... vitória ainda maior! Você imagina, bem... Vou falar!... suas palavras ficaram na garganta por alguns instantes mas, por fim, falou...

– É o seguinte: inventaram uma pílula contra a impotência – disse essa frase enquanto olhava por baixo do cobertor observando sua genitália que estava mais murcha que rama de feijão na seca do nordeste brasileiro.

Depois de dar um riso de escárnio...

– Eu sou criança para acreditar em coisas impossíveis; acreditar em milagres? Vê se vai dormir e me deixa em paz, Agenor!– Enquanto dava bronca no homem que não a ouvia e, que continuava a fixar os olhos na ferramenta e a relembrar que a mesma há anos atrás trabalhara mais que operário de construção civil.

– Muié, a ciência está muito avançada, ué! E você vai me dizer que não se alegrou com essa notícia, heim, heim?! – sorriu, ainda querendo a resposta de cumplicidade da mulher. Só que as suas palavras ficaram soltas e a resposta no vazio.

– Hum... É cada uma que esse homem inventa!

Agenor ainda tentou reanimar a mulher que fingia dormir e roncar...

– Geruza, pelo amor de Deus, preste atenção no que eu tô lhe dizendo, minha véia! – Continuou – você já imaginou a gente começar a brincar?!

Naquele instante ela parou de fingir que estava dormindo...

– Homem, pela primeira vez você falou a verdade... Brincar! Estou morrendo de sono e agora só quero que você me deixe em paz, entendeu?

– Não é essa brincadeira que estou falando, Geruza. Olhe, que bom seria se a gente voltasse a relembrar os velhos tempos e matar saudades?

– E ninguém melhor do que eu pra sentir saudades – sorriu por sua vez deixando o velho irritado que não disse mais nenhuma palavra.

Mas Agenor ficou a meditar durante toda a noite e chegou a conclusão do que faria no dia seguinte.

Logo cedo foi para a fila da Caixa Econômica Federal a fim de retirar as economias que tinha feito durante anos para caso de eventualidades; para caso de doenças. Assim que colocou o dinheiro no bolso, pensou no que poderia lhe acontecer; a consciência estava falando mais alto: o dinheiro era para tratamento de saúde! Mas, a impotência não era um problema de saúde? Claro que sim! – conformou-se com a sua própria cumplicidade.

Procurou a primeira farmácia no Largo da Carioca e pediu ao balconista, quase em sussurros, um vidro do remédio por nome de milagroso, já que na empolgação da noite anterior não havia guardado o nome do medicamento que anunciara a repórter.

– Senhor, o nome do remédio é Viagra. Infelizmente ainda não o temos, mas, mesmo que o tivéssemos, o senhor teria que nos trazer uma receita assinada por um médico.

Quando o rapaz falou o nome do medicamento, anotou mais que depressa em um pedaço de papel e saiu do recinto sem ao menos agradecer a gentileza do funcionário.

Foi direto a outra farmácia na Praça Tiradentes onde um funcionário o atendeu. Assim que ele falou o nome do medicamento, o homem lhe sorriu com olhar sarcástico e não lhe pediu nem mesmo o receituário médico.

– Acabou de chegar dos States! O senhor é o primeiro cliente a adquiri-lo.

Assim que o homem falou o preço ele se assustou...

– Bastante caro esse negocinho, heim?

O homem, de bigode bem fino e com cabelos bem penteados onde a vaselina mantinha a extravagância das décadas passadas, se pôs sobre o balcão a frasear ao seu ouvido...

– Mas meu amigo, pelo que ele faz, o senhor não acha justo? - O homem ainda lhe sorriu com olhar de malícia.

– É, amigo, você tem razão! O que é bom sempre custa os olhos da cara. – Sorriu, por sua vez, enquanto repassava o dinheiro.

Foi para casa e lá chegando nada falou para Geruza. Sorriu e matutou seu plano: iria fazer uma surpresa à noite. Ela que se preparasse pois, a partir daquele dia iriam brincar à vontade. Iria reviver os velhos e bons tempos – sorriu Agenor, sem nada falar.

Tão emocionado estava que não quis nem mesmo olhar a bula que estava dentro da caixa com uma tarja preta ao seu redor. Para que perder tempo com essas porcarias? Ninguém sabe mesmo os nomes malucos desses produtos químicos. Para que preocupar-se com a bula? Não leva a nada mesmo! – Pensou.

Costumava dormir tarde, depois da última edição do jornal. Aquela mesma edição que informara sobre o remédio milagroso – mas naquela noite, não deixou nem mesmo o término do jornal das oito, para tratar de deitar-se.

Queria fazer surpresa a Geruza. Ele estava ansioso para que ela o visse tão vigoroso como fora há trinta anos antes. Deitou e aguardou que a velha fosse também deitar-se.

Agenor, fingindo não querer nada...

Assim que a velha, que tinha um sono mais pesado que pedra, deitou-se, foi até a cozinha e retirou a cápsula da caixa. Pegou um copo de água e a engoliu. Minutos depois sentiu como que tivesse tomado uma garrafa de cachaça limpa; sentiu-se tonto, sentiu uma forte e amargurante embriaguez nunca sentida antes.

– Será que esse troço está envenenado?

Assustado, correu para a geladeira e tomou um copo de leite. Garantiria que, se o remédio tivesse envenenado não morreria. Poucos instantes depois sentiu uma grande vontade de vomitar. Imaginou que talvez fosse o leite que havia tomado. Percebendo que não estava envenenado, e que não iria vomitar, tratou de voltar para a cama.

Mais seguro, tratou de despertar a velha por diversas vezes, que não queria ser incomodada. Por muita insistência, ela foi então despertada lentamente.

– Veja, minha véia, veja como isso tá... Veja! – Foram as palavras de Agenor, todo confiante.

Assim que a velha tocou a ferramenta do marido, sentiu que... quer dizer, não sentiu nada do que esperava, decepcionada, esbravejou.

– Você quer me deixar dormir, por favor?

Dando as costas para o homem que, por sua vez, tocou no seu órgão genital e percebeu que o mesmo estava como antes e que o remédio, que se anunciava milagroso, de nada lhe serviu...

– Meu Deus, será o que o meu problema é mais grave e que nem mesmo a medicina pode dar jeito?

Assustou-se e durante mais de duas horas não conseguiu dormir. A frustração estava estampada na sua face. Quando o sono estava querendo chegar...

– Não, não acredito! – Sorriu ao passar a mão na ferramenta e perceber que parecia a espada do Rei Artur.

Tentou mais uma vez despertar Geruza que praguejou.

– Pare de tolice, home!

Ficou a olhá-la e dessa vez ela não fingia, roncava.

Sem ter opção, depois que a mulher quase o derrubou da cama, resolveu dar uma voltinha. Passada mais de duas horas que a ferramenta não se acalmava, resolveu seguir até a Praça Mauá. Entrou em uma boite onde começou a sorrir.

Uma jovem, sabendo que os velhos não tem a nada a oferecer além de dinheiro e, se era aquilo mesmo que ela desejava, dirigiu-se até Agenor que, sem jeito, lhe sorriu. A mulher, assim que chegou à mesa em que o velho estava, pediu-lhe para pagar uma cerveja e tomaram juntos.

Trocaram algumas palavras, já que as mulheres daqueles ambientes são fáceis ...

Minutos depois do acordo, estavam em um quarto de motel. A única coisa que a jovem devia ter era paciência. Mas, ao deparar-se com a ferramenta do velho, a riste, ficou impressionada a ponto de tentar deixá-lo sem forças, sem energias. Só que ela não sabia que ele estava atrasado há quase vinte anos e foi a jovem que ficou sem energias. Tentava desvensilhar-se das garras do homem que não a deixou em paz durante toda a noite. Se despediram e foi a jovem a sugerir, que se encontrassem por mais vezes.

Quando Agenor chegou em casa, em plena madruga, Geruza ainda dormia como um anjo e não percebeu a sua chegada. Ele foi dormir todo satisfeito, sorrindo.

Na manhã seguinte, a mulher pediu que ele nunca mais a despertasse durante a noite. Ele, só a olhou e ainda relembrando da noite anterior, e falou:

– Você não sabe o que está perdendo...

– Hum! – Foi a resposta da velha enquanto olhava para ele sem dar muita atenção ao seu sorriso.

Ao relembrar da beldade que ficara com ele durante quase toda a noite e ainda o convidara para a noite seguinte, sorriu mais que criança nos braços do Papai Noel. A velha, que o observava, só dizia que ele deveria estar delirando.

– Deve ser a idade.

Na noite seguinte Geruza não notou a falta do velho na cama mas....

Naquela mesma noite ela foi despertada. Não por ele, que não estava na cama. Era o telefone que tocava incessantemente; ainda sonolenta, imaginando que ele estivesse no banheiro, foi atender ao chamado do aparelho. A voz no outro lado da linha falou...

– Senhora, Geruza Carregosa?

– Sim! Quem é, e o que deseja?

– Senhora, aqui é Dr. Alberto Luiz Martins, médico plantonista do Hospital dos Servidores do Estado, e desejo que a senhora venha rápido, pois seu esposo sofreu um enfarto.

Mais que depressa a mulher ligou para o genro que tratou de levá-la ao citado hospital.

Enquanto ela chorava, imaginando que velho tivera enfarto, por seu desprezo, adentrou uma mulher, jovem, com vestido muito curto, a gritar escandalosamente, que jamais havia encontrado um homem tão viril qual aquele e que pena não conhecê-lo antes.

Mas a velha, que continuava a chorar, não foi nem mesmo capaz de notar que se tratava de um velho que, por diversas vezes tentou despertá-la durante a noite. Mas ela também não soube que a morte não havia sido por desprezo mas, por um remédio que os velhos IMAGINAM-SE HERÓIS!!!

Todos os meus trabalhos estão registrados na Biblioteca Nacional.

carlos Carregoza
Enviado por carlos Carregoza em 09/10/2006
Código do texto: T259908