Pau nos nordestinos? Não

                    Nordestino não é gente. 
                    Faça um favor a SP: 
                    mate um nordestino afogado.

                                        Mayara Petruso

     A jovem Mayara, com esta declaração, está comendo o pão que o diabo amassou.
     Mas quem a mandou mexer com os nordestinos? Inda mais sendo ela uma paulista?
     De repente o porteiro do seu prédio ou o cara que zela pelo jardim de sua casa é um cearense ou um paraibano.
     De repente o motorista do taxi que a leva para o seu escritório ou para sua faculdade nasceu no Piaui ou em Pernambuco.
     De repente foram os nordestinos que construíram seu edifício, seu restaurante preferido, e a igreja que frequenta, se é que ainda tem um tempinho para conversar com Deus.
     De repente a cozinheira que lhe prepara os quitutes, a rainha da sua cozinha, é filha do Maranhão ou de alguma cidade da Bahia.
     Em São Paulo é assim: tem nordestinos nos altos postos e nos cargos mais humildes, todos ajudando a paulicéia a ser o que ela é: uma mega-metrópole.
     A menina Mayara podia, perfeitamente, ter exteriorizado sua indignação pela derrota do seu candidato à Presidente da República, mas sem xingar os filhos do nordeste, aos quais admite terem dado os votos que elegeram a pupila do Lula. 
     Podia tê-lo feito sem chegar ao extremo de pedir o afogamento dos nordestinos, esquecida do quanto São Paulo deve a eles.
     Elegeram a Dilma Vana, quem sabe, querendo agradecer, com o seu voto, a "esmola " que, mensalmente, recebem do Palácio do Planalto.
     Sem emprego, mas com o café da manhã garantido.
     Mayara não descobriu, a tempo, que ninguém neste planeta sabe ser mais grato do que o pessoal daqui do nordeste. Os nordestinos não cultivam a ingatidão.
     Pedindo e agradecendo, agradecendo e pedindo, assim vive o bom povo dessa região sofrida, mas altaneira. Vive como disse o poeta cearense, cantando o Jaguaribe, o maior rio (seco) do Ceará: "Resistindo e morrendo; morrendo e resistindo."
    
     Apesar dos seus 21 anos de idade, e ser estudante de Direito, Mayara Penteado Petruso foi, no mínimo, imprudente. Faltou alguém, mais experiente, para impedi-la de falar mal de quem só o bom e o bem tem, através dos tempos, levado para a sua gloriosa Sampa.

     Acho, porém, que a mídia vem dando a este episódio  exagerado destaque. 
     Se a imprensa não houvesse trombeteado, com incomum estardalhaço, a bobagem que Mayara escreveu no seu twitter, seu inconsequente apelo teria se diluído no tempo e no espaço.
     Passaria despercebido, posto que, não teria força bastante para afrontar a Constituição da República, que condena e pune o crime de racismo.
     Crime de racismo? Olha, há juristas que não veem no desabafo da jovem acadêmica  os requisitos que possam  tipificá-lo com crime de racismo. 
     E aí, amigos, a defesa da jovem arguirá, na hora aprazada, o principio jurídico da legalidade, ou seja, que só é crime aquilo que a lei previamente prevê - Nullum crimen nulla poena sine lege.
     
     Condenável, redigo, a declaração da Mayara. Ela, estudante de Direito, podia ter manifestado seu descontentamento com o resultado das urnas utilizando, digamos, a habilidade que Deus nos dá, a nós advogados. Sem agredir.

     Aqui pra nós: muito pior do que fez a Mayara, faz, diariamente, a maioria dos politicos nordestinos. 
     Eles se elegem prometendo mundos e fundos. Uma vez aboletados no poder, limitam-se a falar baboseiras e a defender o seu bolso e a sacolinha de seus familiares, numa atitude calhorda.
     Esses, sim, devem ser notícia todos os dias; apontando a imprensa sadia, claramente, os seus defeitos, e tudo o que deixam de realizar - cumprindo promessas feitas - em favor dos valorosos homens e mulheres da Bahia, de Sergipe, de Alagoas, de Pernambuco, da Paraíba, do Ceará, do Piaui e do Maranhão, estados do nordeste que a Mayara precisa conhecer, e já.     


     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 05/11/2010
Reeditado em 06/11/2010
Código do texto: T2598681