A Lição de Aninha

Ontem fiquei horas observando uma criança. Criança pequena, a brincar, na delicadeza ingênua de seus três aninhos. Por um bom tempo... leve, solta, distraidamente, brincava a menina, absorta... Lápis, papéis, bonecas, maquiagens e a pequena... uma bela cena!

Ora rabiscava, tracejava, ora de suas bonecas, tomava conta. Com instinto nato de maternagem, delicamente, embalando o sono das pequeninas filhas cantarolava uma cantiga de ninar e, as colocava para dormir... Depois, de posse de um pequeno espelho, graciosamente, maquiava o rostinho, ajeitava os cabelos e, assim... aparentemente, ignorando o que se passava a sua volta, espontaneamente, ia alternando a cena de suas brincadeiras.

Se o tempo passava, não sabia. Sabia do seu instante, do seu brincar, da sua fantasia... Então, quando por mim dei-me conta, me percebi também feito a criança, absorta... embevecida, diante da cena que se passava à minha frente e o refletir em minha mente. Acaso não residiria aí, o mister segredo de ser feliz? Entregar-se à brincadeira-séria de se viver intensamente o instante, alheio ao tempo e, às circunstâncias?! Brincar com o momento presente?! Brincar seriamente, com o que o ‘aqui e agora’ nos apresenta, livre das preocupações com o ontem ou a ansiosidade com o que poderá vir depois (quiçá virá)?

Penso, que Aninha, sem imaginar jamais, ensinou-me uma grande lição... Enquanto, os adultos ao seu redor preocupados, discutiam sobre o tempo, a chuva, o custo de vida, o resultado das eleições e, tudo mais que poderia advir daí, o que menos faziam, era curtir o que a vida naquele instante lhes propunha. Um agora tão simples e, ao mesmo tempo tão interessante, quando em meio ao corre corre da vida agitada, onde se corre não se sabe muito bem para onde, para que ou porque, amigos verdadeiros ainda acham tempo para se encontrar. Encontros estes, que poderiam ser tão mais prazerosos se ao desfrutar de boas companhias também, fosse um tempo para partilhar coisas saudáveis, agradáveis, um verdadeiro acarinhar à vida... Não, naufragando em suposições, em possíveis acontecimentos e, vãs preocupações, não se dispõem mergulhar no seu momento, desperdiçam-no... e, o viés dos assuntos, meros lamentos. Feliz de Aninha, que imersa no universo do seu ser e, alheia a tudo mais, curtia o seu agora...

Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 05/11/2010
Reeditado em 08/11/2010
Código do texto: T2598496
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