Carnaval e alma cheia
Depois de ter escutado a narrativa de como arrecadar dez centavos pela web com literatura, e verificar que o sucesso desse entusiasmo seria regido por números, estava desfechado o novo enfoque. Qualquer criatura podia chegar perto do computador e arrancar dele alguns vinténs, apenas para nutrir sua vida nesse paraíso estranho, sem festas. Estes vinténs arancados dignamente pela produção intelectual pagaria talvez até o preço do soro num hospital sebento do mundo. Soava como liberdade dando verdadeiro brilho a famosa inteligência artificial.
O velho repórter havia se interessado pelo tema, afinal a imprensa estava demolida pelo seu próprio fracasso. Malogrado por se nutrir de poder a cada escândalo patrocinado. Naquelas páginas do passado nada de excepcional deixava de se transformar em troco alto. Por quê no plano virtual impedir o livre transcurso de caraminguás? Se na imprensa a “sociedade” era outro fator oral que implicava numa excentricidade de espelho sobre o lucro. Mas é certo que no ambiente ligado a imprensa havia sempre um bom lugar para enconbtrar Silvinha ou outra gostosa que além de escrever mal, podia cantar como Piaf em seus dias de tédio.
O extremo sul estava radioso com suas novas luzes de efeito produzida pela transformação climática. Merecia que alguém encantasse com sua verve o lodoso pântano, que afinal cobria parte bem singificativa da frágil economia popular. A juventude estava aos poucos se acostumando com os novos tempos e as redações de péssimo gosto intelectual estavam por quebrar definitivamente.
Podia-se até conviver com a solidão do universo sem colorido andando sem ter para onde ir desde que sobrasse algum raio de sol para aquecer essa atmosfera frígida. Só um demônio conseguia encantar estas lacunas onde todos viviam sem recursos. Foi isto pelo menos que marcou a primeira fase literária: um espantoso vácuo dolorido. Era como se as pessoas jamais encontrassem em si mesmas algo criativo como motivo para viver. Porém estavam tentando desesperadamente um pouco de ilusão dentro da rustividade vegetal dos latifúndios horizicolas a perder de vista, além do interior urbano com todos os bares fechados. Já a aridez folclórica e caricata estava aos poucos filmando seus piores frutos no filtro da nova consciência urbana da juventude civilizada. Monstruosidade patrocinada pela mídia para se tornar viva. Mídia como mulher exposta à visitação pública. Era difícil ter os olhos limpos de preconceito reproduzido como elemento formador de etnia em que o individuo não encontra a sua originalidade exceto pela padronização ridícula e forçada.
Era dinheiro que faltava para explodir como gênio no sentido da enorme capacidade de inventar, descobrir, vivificar uma atmosfera asfixiante. O teatro estava soterrado pela falta de público. A pintura pelos copistas, e se a palavra copista lembra bêbados, eles seriam pintores bem mais qualificados do que a ridícula mesmice. A literatura afogada na exibição historiográfica, único ponto de apego, único recurso fácil para quem possui pouca imaginação e muita vontade da eternidade.
Um violão ganharia o mundo, longe deste espetáculo absurdo, mas tendo ali o seu começo. A moda agora era tocar para o computador. A juventude, eternamente sacrificada pela autocomiseração teria que lutar para sair desta condição até alcançar o reino das mulheres febris de alegria e sensualidade. Desde que fossem capazes de fugir do acordeão horripilante, que não fosse de Donato, materializado nas canções de bugre surdo e melômano. A idéia que se tem é de que apenas existe campo e capim... Além da utilíssima lavoura. Nada mais brilha além da esterilidade. Todos atrasados com relação ao ritmo. Incapazes de viver momentos de verdadeira alegria, aquela calorosa graça, sem puxar a asquerosa linha do passado colonial. Passado onde os pobres era massacrados pelo talento dos patrões da tirania. Ao contrário das ilusões... Havia um vestígio na alma repleto de carnaval e alma cheia.