19. Fontana di Trevi: cinco cêntimos de sossego?

Vim à Piazza di Trevi pedir à fontana di Trevi cinco cêntimos de sossego. Não sei se é isso que se pede quando se vem à fontana de Trevi, mas no caso de se poder também pedir sossego, serão os cinco cêntimos suficientes para satisfazer o meu pedido? O Júlio ao telefone disse-me que se pede para voltar de novo a Roma e à fontana.

Um italiano dos poucos que distingo por aqui, disse: ‘porta-fortuna. Un desiderio de cuore à tornare à fontana.’

Supondo que dê também para pedir sossego, será caso para pensar se deveria atirar para trás das minhas costas, não uma miserável moeda de cinco cêntimos mas uma de um euro ou até uma de dois euros?

A julgar pela sorte que tenho tido desde o momento em que vi a luz do mundo saído da barriga da minha mãe num Domingo de Páscoa até agora, nem toda a reserva federal norte-americana guardada em Forte Knox atirada à fontana di Trevi seria capaz de me conseguir algum sossego que desse para sossegar.

Sorte à parte, sossego incluído, este lugar é mágico, tem ar de festa permanente, os milhares de pessoas que aqui estão de todas as raças e feitios e idades, como na Mona Lisa ou na Capela Sistina, têm ar de peregrinos: por pequeno que seja, querem um milagre. Como eu.

Já jantei, hoje deliciei-me na capela Sistina, fui lá uma segunda vez, depois com calma fui admirar as pinturas de Rafael, ontem emocionei-me na missa que participei na basílica de São Pedro, agora estou a pedir com ‘cuore’ sossego à fontana de Trevi.

Não peço dinheiro, nem casa, nem carro de luxo, nada que se pareça com isso, apenas sossego. E basta.

Pedi ontem na missa sossego, na missa mágica das cinco horas do Vaticano, acho que eram cinco horas, venho hoje aqui, pensei comigo mesmo e telefonei ao Júlio a dizer-lhe o mesmo, quando se quer uma coisa mesmo pede-se a todos os santos sejam lá de que religião forem, pedir a este Deus do panteão antigo a mesma coisa: sossego.

A noite caiu calma sobre Roma, o ar quente da tarde refrescou um pouco, estranhamente há gaivotas por aqui. Isto é lindo, estou sentado num degrau defronte do tal Deus do panteão antigo, já tirei algumas fotografias que me pediram para tirar, há fotógrafos indianos por todo o lado a oferecerem os seus serviços. Não quero sair daqui, vou dormir aqui mesmo neste degrau, encosto a cabeça e fecho os olhos e durmo, mas antes vou atirar-me ao tanque e nadar no tanque de um lado para o outro.

Posso não conseguir o sossego que pretendo da fonte de Trevi, mas ao menos saio daqui refrescado.

Será pedir muito por apenas cinco cêntimos?

Mário Moura

Roma, 9 de Julho de 2010