Coletivos Horripilantes
Coletivos Horripilantes
Quando consulto dicionários sobre coletivos de animais, sinto-me como sobrevivente nesse mundo, e chego a pensar que viver é a arte de sobreviver no dia-a-dia. Relatarei algumas experiências horripilantes que tive.
Já fui atacado por enxame de abelhas, quando era adolescente... Consegui proteção num abrigo, mas não deixei de receber uma ferroada - que nunca esqueci -na mão esquerda, tão dolorida como enfiar uma agulha de aço no dedo sem anestesia. Fiquei com o dedo indicador inchado durante dois dias.
Quando residia num condomínio ecológico, em plena Mata Atlântica, pisei descuidadamente numa correição de formigas “lava-pés”, e esses insetos não titubearam, nem por um segundo, em escalar minhas pernas, por dentro da calça, picando-me ferozmente. São os mais temíveis insetos, com seus exércitos em ordem de batalha na floresta.
Pescando traíras numa lagoa, em Minas Gerais, acabei entrando num ninho de cobras venenosas. Minha cesta com o pescado estava atrás no chão, quando percebi, nas touceiras de sapé e taboa, que havia quatro ou cinco jaracuçus à minha espreita, com bote preparado, atraídas pelo cheiro-de-peixe. Joguei meus apetrechos de pesca para o alto e, de um salto, escapei do local.
Numa bela e ensolarada manhã, num sítio de lazer, eu e o meu caseiro estávamos averiguando o potencial de um olho-d água... O rapaz começou a escavar num barranco, nas proximidades da mina, sem perceber nos terrões que o local era ninho de escorpiões, os quais transitavam ali, expostos aos meus pés. Ainda bem que estava m cegos pela repentina luz solar, deixando-me escapar sem nenhuma picada.
Igual sorte não tive com uma infestação de carrapatos, em pleno cerrado goiano... A vegetação era rala, à beira do rio Corumbá, e indicava que o local servia de dormitório para bois e cavalos, pois o capim estava todo amassado. Senti um formigamento nas pernas e nos braços, e fiquei arrepiado... Eu era vítima de um ataque de carrapatos... Não pensei duas vezes: Despi-me e mergulhei no rio, o que ajudou a eliminar a maior parte dos parasitas... O restante, que já sugava, só mesmo com remédio.
Os terríveis carrapatos me perseguem... Em visita à fazenda de um amigo, em Goiás, despertei numa bela manhã ensolarada com uma infestação de carrapatos nas paredes... Enormes, quase todos, e aos milhares... Curiosamente, não me atacaram... Pareciam saciados ou estavam em fase reprodutiva. Uma visão aterrorizante. Foi preciso muito carrapaticida para exterminá-los.
Quando eu prestava o serviço militar, fui vítima de uma infestação de chatos. Para mim desconhecidos, esses parasitas decidiram me pegar durante o meu plantão na telefonia do quartel, quando eu repousava num colchão de capim, daqueles antigos e que nos espetavam à medida que ficavam deformados. Os chatos passeavam pelo meu corpo inteiro, mordiam(ou picavam) como minúsculas lâminas afiadas, desde a virilha até a os dedos dos pés. Sinto arrepio até hoje, só de pensar como foi difícil combater aquele inimigo.
E o que dizer de uma infestação de piolhos que sofri ao visitar um galinheiro? Meu pai criava galinhas. Eu, adolescente, imprudentemente, numa tarde de verão, fui apanhar uma das aves e ali fiquei contemplando o ninho de uma galinha- no- choco, num cesto pendurado no poleiro. Quando me retirei, senti os piolhos pelo meu corpo inteiro. Fui correndo me banhar, mas não consegui evitar a coceira na cabeça e na virilha por alguns dias. Lembrei-me da estória de Diógenes, “o cínico”, da filosofia grega, que morreu de um ataque de piolhos, segundo o historiador Laërtius.
O mais terrível ataque é o de uma infestação de pulgas... Dormia, quando criança, num colchão de algodão. Morava numa vila operária, casa pequena, condições pouco confortáveis, muita gente para pouco espaço... Madrugada de verão (sempre o verão-vilão!), acordei com pulgas passeando pelo meu corpo, picando-me e sugando-me... Centenas daqueles asquerosos sifonapteras. Meu pai defenestrou o colchão, e pode constatar, no sol da manhã, que o colchão tinha se transformado em criatório dos parasitas. Fogo no colchão!
Gosto de pescaria e, nas minhas andanças, fui inúmeras vezes atacado por nuvens de mosquitos e “borrachudos”, os quais nem sempre respeitam repelentes ou fumaça de fogueira. Esses insetos se urbanizaram e hoje até sobem andares de edifícios pelos elevadores, para infernizar moradores como transmissores de várias doenças, entre as quais a dengue e a malária. Acho que o homem nunca vai vencer a batalha contra eles.
Deparei-me, certo dia dos anos 70, em Brasília, com uma ninhada de ratos em batalha campal entre si. Ratazanas enormes, pelo menos umas vinte, com os dentes à mostra, estridentes, guinchavam numa feroz disputa por comida – um pacote de carne apodrecida que puxaram de uma lixeira. Um cão passava por perto e fugiu assustado ao ver a aquela cena... Acompanhei o animal.
Cena que chega a ser risível é uma infestação de baratas, no calor do verão, mas eu testemunhei essa ocorrência envolvendo minha namorada. Estávamos numa chácara, e ela abriu uma gaveta de um velho armário, de onde saíram voando dezenas de baratas, algumas se pendurando nos cabelos e percorrendo os braços da vítima, que caiu primeiro em transe e depois numa histeria sem fim.
É verdade que também tive uma experiência desagradável com aranhas..Eu sempre apreciei o montanhismo.Quando resolvi escalar uma falda da Mantiqueira, no Sul de Minas, arrastei sem ver uma teia com dezenas de aranhas, creio que não venenosas, mas daquelas fiadoras que metem medo pelo tamanho. Durante alguns segundos, senti no rosto e nos braços umas cinco delas, assustadas e tentando fugir, e eu mais assustado ainda tentando desvencilhar-me daqueles fios de seda.
Com esses relatos, poderia candidatar-me a sobrevivente, porque esses coletivos (enxame, correição, infestação, ninho, bando, etc.), foram todos testados por mim, ainda que involuntariamente. Confesso que não sei se isso é comum na vida de todos os seres humanos, mas a Bíblia Sagrada narra as sete pragas do Egito, o que prova que o terror vem de longe.
Mas, para não encerrar meu relato de forma negativa, quero deixar a visão paradisíaca do “panapaná”, coletivo aplicado pelos indígenas brasileiros para descrever um bando de borboletas em reprodução. Já vi, pelo menos, umas três vezes, à margem de rios, e acho que é um bálsamo para todas as experiências negativas que tive com coletivos de animais horripilantes.