Sorriso de Vendedor
Estava na concessionária esperando por um documento que levaram mais de 2 meses para entregar e a vendedora, muito simpática, aliás, vendedores têm a obrigação de ser simpáticos. Creio que deve ser uma lei escrita em algum lugar que determine isso. Com esse objetivo recebem cursos e treinamentos. São condicionados a exibir simpatia mesmo que o cliente se manifeste um vulcão em pleno êxtase da erupção.
- O Senhor aceita um cafezinho enquanto espera?
- Claro que aceito.
Tomei dois e ainda me ofereceu um biscoito de queijo afirmando que era o melhor da região. Recusei-o. Não sou daqueles que fica beliscando tudo a toda hora. Já estou engordando sem essas ¨ofertas-extras¨, imagine o que aconteceria comigo se ainda beliscasse a cada parada que realizo em um dia?
Desmanchavam-se em desvelos por mim, o que era natural, o que não era esperado foi o constrangimento que surgiu por ter ido ao Procon reclamar da demora - o que deve ter gerado na concessionária um verdadeiro rebuliço. Sentia que tentavam me agradar além da conta, o que seria desnecessário visto ser uma pessoa educada a não me impressionar com excessos, principalmente de gentileza. A seguir veio um dos gerentes se compondo em múltiplos risos me tratando como um velho amigo de 500 anos. Ofereceu de novo o cafezinho:
- Obrigado, já tomei.
- Aceita um biscoitinho? É o melhor da região. – Polidamente recusei enquanto buscava um jornal para folhear liberando-os de fazer sala. Justiça seja feita: meus compromissos anteriores foram antecipados involuntariamente e cheguei 15 minutos antes do combinado, e chegar adiantado nem sempre é bom, ao passo que chegar atrasado é o pior dos mundos.
Peguei o jornal e sentei em um confortável sofá para apreciar as manchetes quentes, frias e mornas do dia. O rapaz da placa chegou de moto embaixo da maior chuva com aspecto de quem tinha levado um chute da namorada. Polidamente ignorei-o enquanto trocava a minha placa esperando que a despachante me passasse os documentos:
- Esses seus documentos foram uma novela, dizia-me, houve uma troca de despachante e os processos tiveram que ser revistos por uma auditoria interna (E eu com isso? Pensei.), e, para piorar, tivemos muitos feriados além da morte do presidente do Detran. – Atesto que tudo o que ela dizia era verdade. Podem até não ter tido culpa voluntária, mas que a documentação demorou, demorou.
O rapaz terminou a troca e continuou com cara de poucos amigos. Realmente devia ter perdido a namorada, afinal, não sabia sorrir. Logo deduzi que ainda não recebera treinamento suficiente. Despedi-me de todos e dos seus fartos sorrisos. A chuva lá fora havia parado e a cidade estava um caos – era quase hora do rush. Uma obra na pista fez com que o asfalto se enchesse de lama. Um veículo passou ao meu lado correndo e meu carro ficou vermelho, e não era de vergonha. O motorista do mesmo freou a seguir em uma rótula quase causando uma colisão. Recebeu um xingamento e devolveu com outro. Atesto que aos motoristas falta treinamento, e cortesia, vou sugerir às autoridades que invistam em cursos para que tratemos uns aos outros como os vendedores nos tratam: isso sim tornaria o mundo perfeito; ou não?
Estava na concessionária esperando por um documento que levaram mais de 2 meses para entregar e a vendedora, muito simpática, aliás, vendedores têm a obrigação de ser simpáticos. Creio que deve ser uma lei escrita em algum lugar que determine isso. Com esse objetivo recebem cursos e treinamentos. São condicionados a exibir simpatia mesmo que o cliente se manifeste um vulcão em pleno êxtase da erupção.
- O Senhor aceita um cafezinho enquanto espera?
- Claro que aceito.
Tomei dois e ainda me ofereceu um biscoito de queijo afirmando que era o melhor da região. Recusei-o. Não sou daqueles que fica beliscando tudo a toda hora. Já estou engordando sem essas ¨ofertas-extras¨, imagine o que aconteceria comigo se ainda beliscasse a cada parada que realizo em um dia?
Desmanchavam-se em desvelos por mim, o que era natural, o que não era esperado foi o constrangimento que surgiu por ter ido ao Procon reclamar da demora - o que deve ter gerado na concessionária um verdadeiro rebuliço. Sentia que tentavam me agradar além da conta, o que seria desnecessário visto ser uma pessoa educada a não me impressionar com excessos, principalmente de gentileza. A seguir veio um dos gerentes se compondo em múltiplos risos me tratando como um velho amigo de 500 anos. Ofereceu de novo o cafezinho:
- Obrigado, já tomei.
- Aceita um biscoitinho? É o melhor da região. – Polidamente recusei enquanto buscava um jornal para folhear liberando-os de fazer sala. Justiça seja feita: meus compromissos anteriores foram antecipados involuntariamente e cheguei 15 minutos antes do combinado, e chegar adiantado nem sempre é bom, ao passo que chegar atrasado é o pior dos mundos.
Peguei o jornal e sentei em um confortável sofá para apreciar as manchetes quentes, frias e mornas do dia. O rapaz da placa chegou de moto embaixo da maior chuva com aspecto de quem tinha levado um chute da namorada. Polidamente ignorei-o enquanto trocava a minha placa esperando que a despachante me passasse os documentos:
- Esses seus documentos foram uma novela, dizia-me, houve uma troca de despachante e os processos tiveram que ser revistos por uma auditoria interna (E eu com isso? Pensei.), e, para piorar, tivemos muitos feriados além da morte do presidente do Detran. – Atesto que tudo o que ela dizia era verdade. Podem até não ter tido culpa voluntária, mas que a documentação demorou, demorou.
O rapaz terminou a troca e continuou com cara de poucos amigos. Realmente devia ter perdido a namorada, afinal, não sabia sorrir. Logo deduzi que ainda não recebera treinamento suficiente. Despedi-me de todos e dos seus fartos sorrisos. A chuva lá fora havia parado e a cidade estava um caos – era quase hora do rush. Uma obra na pista fez com que o asfalto se enchesse de lama. Um veículo passou ao meu lado correndo e meu carro ficou vermelho, e não era de vergonha. O motorista do mesmo freou a seguir em uma rótula quase causando uma colisão. Recebeu um xingamento e devolveu com outro. Atesto que aos motoristas falta treinamento, e cortesia, vou sugerir às autoridades que invistam em cursos para que tratemos uns aos outros como os vendedores nos tratam: isso sim tornaria o mundo perfeito; ou não?