Minha Impotência
Debato-me em minha impotência. Sei que perco muito tempo ensimesmada. Sinto a angustia me envolver por não me importar como devia com a sorte de quem precisa de um ombro. Eu gostaria de ter mais recursos humanos, materiais e conceituais para ajudar muitos que não conseguem enfrentar a dureza da vida.
Vez por outra, no desespero de ajudar, quero fundar escolas, associações, asilos e sei lá mais o que. Quero deixar de lado muitos escrúpulos éticos e receitar fórmulas caseiras para que as pessoas tenham um "como" para contornar seus dilemas existenciais. O sofrimento me agride tanto que sou tentado a repetir frases "clichês" de alguns manuais com cinco passos de “como alcançar vitória”.
Quem sabe mais gente responderia se eu fosse mais coloquial e mais pragmática. Até agora percebo meus escritos bonitinhos, mas fraquinhos. Não passo de uma pessoa chata e detalhista, daquelas que aborrecem a todos com seu jeito e forma de viver. Procuro comunicar, esforço-me com toda a sinceridade de minha alma, mas acabo percebo a dificuldade de alcançar o amago de cada um. E mais gente me procura com dilemas existenciais desesperadores. Agora sou eu que vivo mais um dos meus.
A maré dos altos e baixos do sofrimento humano não para de rebentar nas portas de minha vida. As pedras que ergo não conseguem conter a fúria deste mar que expele dor. Estou cercada de pessoas perdidas nas decisões que precisam tomar, ouço reclames de mulheres que amargam casamentos horrorosos, tomo conhecimento de crentes angustiados com o jugo de doutrinas corretas, mas inclementes.
Tento ensinar sobre outro jeito de organizar a vida, mas noto as pessoas sem a menor disposição de escapar de velhas bitolas. Quero mostrar que a percepção de um Deus que rege e ordena todos os micros detalhes do universo parece oferecer conforto e segurança, mas depois, quando a vida se impõe com todas as suas incoerências, essa percepção de Deus como um supremo dramaturgo, as deixará arrasadas.
Há enorme resistência em ver que a vida é contingencial. Quero fugir da realidade de que bem e mal chegam indiscriminadamente. Por isso, quantas vezes ouvi ou li sobre pessoas questionando Deus. Suas interrogações não nascem de rebelião, mas por não aceitarem que Deus os tenha abandonado quando mais precisavam de sua ajuda.
Tento mostrar que há outra maneira de perceber o amor de Deus. Mas fico frustrada ao notar que mesmo com tanta angústia, poucos estão dispostos a abrir mão de antigos pressupostos. Vejo-me como aquele velho marujo que acena sua lanterna no alto de uma colina. Pareço uma doida. Mas, quem sabe, algum viajante em alto mar não virá a minha pequena luz para achar seu rumo?
No Amor de Cristo
Cleusa de Souza Klein.