No ônibus
Chegando na rodoviária, a tristeza estampada na cara.E eu querendo cada vez mais me ver livre daquilo tudo, eu queria voltar, eu não queria ir pra casa.
O meu amor estava me inchando, era demais.Era muito mais do que eu imaginava, e eu estava triste por ter que ser assim.Mas eu aceitei a tristeza, até que me dei muito bem com ela.
Pra me distrair comecei a observar as pessoas e talvez tentar adivinhar o que elas sentiam.Percebi que tinha uma loira ao meu lado.Feia.Mas sua tristeza me chamou atenção, deveria ser bem maior que a minha, pois ela chorava, porém eu, agüentava, era suportável.Além de chorar, ela escrevia, talvez poesia, Ela chorava, olhava para a paisagem e escrevia.Na certa era poesia.Senti pena dela
Me cansei de tentar saber o motivo.Deveria ser banal, pois as pessoas gostam de ser dramáticas.Separação, doença, saudade.Um desses motivos.Coisa simples.
O ônibus chega.Há um sinal para nos aproximarmos.Me perdi do mundo naquele tumulto.Vou procurando o número da minha poltrona, de repente um cara me chama atenção.Eu o achei bonito, até comentei com a garota ao lado.Depois percebi que não.Era feio demais.As pessoas são feias nessa cidade.Até eu.
Quando olho para o lado dele, lá estava a loira triste.Pronto.Agora seriam dois pontos pra mais observação.
Eles se deram bem.Isso estava mais que óbvio, melhor do que eu imaginava.
Tentava conquistar ela?Poderia?Tão rápido?
Sim.E ela queria.
Ela se fazia de difícil, mas estava afim.Não se dava o menor valor.Aquilo me fez sentir raiva, nojo, ao contrário de outrora.Continuei a observar-lhes.
Eram inconstantes.Ela dava a mão, ele beijava, acariciava.Ela tirava a mão, e ele ficava estranho.Eu já nem sabia o que realmente eles queriam.
Eram feios.Essa era a minha maior preocupação.
O rapaz tentou beijar-lhe, a moça foi mais esperta do que eu esperava.Beijaram-se.Idiotas, eles são completamente, mal se conheciam.
A viajem horrível, o tempo passava, e eles conversavam.
Parecia que eles queriam fazer algo a mais que aquilo, mas se limitavam, pois não podiam.
Então continuavam a conversar.
Tédio.Tédio.Tédio.
Chegamos.
Eles desceram no mesmo lugar que eu.Estavam perto demais um do outro, como se já se conhecessem a um tempão.
Eu descia a rua puramente, seguindo o caminho de casa.Eles, ah...
Eles não eram puros.Não sou tão ingênua.Talvez eles comeriam ali por perto, e depois se comeriam ali por longe...