E AGORA, DILMA?

E agora, Dilma?

Ganhou.

Uma enorme responsabilidade se abate sobre os seus ombros. Creio que todos os brasileiros lhe desejam sorte. O sucesso de seu governo será o nosso sucesso.

Estou convencido, como Tancredo Neves, que a chegada à Presidência da República é uma questão de Destino.

Lula sabe disto. Sabe, lá no fundo dele mesmo, que foi um mero agente. Reconheçamos - para o bem e para o mal – que se esmerou.

As razões do Lula?

Podem achar que sou ingênuo: não foi 2014.

Ele, melhor do que ninguém entende, tenho certeza, que “Alá sorri quando os homens fazem os seus planos”, como está dito no Corão. Sabe que muita água há correr sobre a ponte.

E que nada acontece se não estiver escrito por ELE.

Sua motivação maior foi, a meu ver, se assegurar da vitória para que, do seu ponto de vista, sua obra fosse bem conduzida.

Seu partido está cheio de nomes. Mas se escolhesse um deles logo se instalaria um divisionismo, dentro e fora do partido. A tal coligação seria muito mais difícil. E sem ela, não haveria Vitória.

Você, por não representar nenhuma das correntes, por não ser marcada por nenhuma gestão anterior fora os cargos de confiança que exerceu, e por ser de sua inteira confiança, foi a escolhida.

Decorre disto que muitos terão a ilusão que poderão influir. Ledo engano. Mas o Lula sabe que Você saberá distinguir o joio do trigo.

Não me cabe aqui lhe dar conselhos, principalmente administrativos. Nem discutir suas prioridades. Há os fóruns próprios para isto e gente muito mais competente e com muito mais autoridade do que eu.

O que faço, com humildade, é lhe passar o que me ensinou a experiência da vida. E lhe dizer o que me vai ao coração e, possivelmente, irá no coração de muitos. No coração dos que estão de fora, mas que têm olhos para ver.

Antes de mais nada, uma regra de ouro: procure passar uma posição de absoluta sinceridade. Nunca tente esconder do povo qualquer coisa. Seja absolutamente sincera e cristalina. Neste sentido faça o que o Lula diz, mas não faça o que ele faz. Apesar de seu enorme prestígio perdeu muito por causa disto.

Aja conforme a sua consciência. Aos que fazem parte de sua coligação e aos seus opositores cabe agir politicamente. Não a Você. A Você cabe agir conforme o seu melhor julgamento.

É claro que existem condições objetivas que devem ser consideradas, é claro que a política é a arte do possível, é claro que ninguém é dono da verdade, é claro que tudo é relativo, é claro que os diversos posicionamentos e interesses têm que ser considerados - são realidades e fazem parte das opções na arte de governar.

Mas à Chefe da Nação cabe decidir, aprovar e desaprovar conforme lhe pareça estar o interesse público segundo os ditames de seu melhor juízo e de sua consciência.

Você será testada, não tenha dúvidas.

São muitos caciques por este Brasil afora e mesmo dentro do seu Partido. A estes deverá, logo no início de seu Governo, mostrar quem manda. Quem tem a caneta.

A eles caberá ou baixar a cabeça ou assumir o ônus de se opor. A Você não.

Sua figura, ainda pálida, aos olhos do povo, assumirá sua plena grandeza, quando ficar demonstrado que em suas mãos estarão as rédeas do Poder.

Então, se num dado momento, for necessário contrariar o Lula, faça-o, ainda que com dor. Tenho certeza que ele, melhor do que ninguém, saberá se ajustar ao papel que lhe é devido nesta altura de sua vida. Suas ações provam isto.

Deixe, Dilma, os cães ladrarem enquanto a caravana passa, como dizia o Sued.

Deixe. Não se exponha. Eles logo ficarão em silêncio. E Você continuará o seu caminho.

Não me refiro aqui à imprensa. Ela tem a sua tarefa, apesar das distorções. Deve ser respeitada, não porque tem poder, mas porque é útil. A ela cabe aprimorar-se e informar. E se tomar partido, deixar claro porque o está fazendo. Quando não o faz, avilta-se.

Também não me refiro aos opositores honestos. Não é possível querer a unanimidade. Não só porque é burra. Mas porque é perigosa.

Refiro-me aos que trabalham na sombra, aos que aderem por interesse, aos que afagam com o punhal escondido nas vestes. Aos que em nome dos bons princípios apunhalaram César.Muitos destes podem estar ao se lado. Refiro-me aos aproveitadores, aos que se aproveitam da proximidade do poder para satisfazer as suas ambições pessoais e aos interesses políticos ou econômicos que têm por hábito tirar a sardinha do fogo com a mão do gato.

Cuidado com os aliados de última hora. Eles a abandonarão na primeira oportunidade.

O povo a elegeu, com dez milhões de votos a menos que elegeu o Lula. Há uma mensagem nisto.

O poder desgasta. E certas manias também. Tapar o sol coma peneira é uma delas.

Tudo indica que mais que uma oposição geral às políticas do Governo, há uma crítica aos métodos. Este desgaste continuará se os métodos forem os mesmos. E este é o seu maior desafio. Enganam-se os que pensam que o povo pode ser enrolado. Enganam-se os que pensam que certas práticas e atitudes podem continuar. Enganam-se os que pensam que certas reformas podem ser adiadas. Não podem.

Existe um preconceito ou interesse de classe contra certas medidas do Governo? Certamente. Mas isto não pode ser a desculpa para neutralizar o espírito crítico dentro do Governo. Tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir.

Grande é a solidão de quem exerce o Poder. O perigo é procurar compensar este sentimento doloroso com uma legião de áulicos. A verdadeira solução está em ouvir a sua voz interior e aprender a conviver com este preço altíssimo.

Não tenho dúvidas que a Providência Divina a escolheu, como a todos que chegaram à Presidência. Esta escolha envolve um fardo de grande peso. Mesmo descrente, se for o caso, logo verificará que sua única esperança está em Deus, em cujas mãos todos estamos, apesar de nossas crenças ou descrenças. Volte-se para Ele. E peça-lhe forças. Quanto mais alto se chega, mais rapidamente se compreende que nada mais somos do que um mero instrumento de Sua Vontade, cujos desígnios, aliás, são insondáveis. É indispensável ao governante a consciência que existe algo maior do que ele – A Lei. Mas a lei, alguns, com grande poder, conseguem ajustar aos seus desígnios. É indispensável que tenha consciência que existe um poder até maior do que a Lei – o Poder que em última instância a colocou lá. O Poder de Deus. Caso contrario poderá ser vítima de sua própria arrogância. Nunca esquecer que Deus dá, Deus tira. È como a própria Vida.

Humildade, portanto. Não pense que Você chegou à Presidência apenas por seus méritos. Ou pelo decidido esforço do Lula e de seus aliados.

Condições, boas e más, ocorreram para que isto acontecesse. É quase como uma loteria. São muitos ventos que sopraram numa só direção. Os ventos da História. Muitas causas podem ser apreendidas. Outras não. Aí entra o dedo do Destino.

O resultado é, mais do que a Vitória. É o peso enorme que lhe foi posto nas costas. Mas fique certa, o mesmo Destino que lhe pos diante deste fardo é o mesmo que lhe dará forças para carregá-lo, se ouvir a voz interior que lhe falará ao coração.

O povo, a quem mingúem engana por muito tempo, a elegeu com o coração. Vox Populi, Vox Dei (voz do povo, voz de Deus), já diziam os romanos. Saudemos.

Saúde, Humildade. Competência. Senso de Justiça. Consciência da verdadeira dimensão das coisas. E Fé, uma inabalável Fé.

É o que milhões de brasileiros, creio, lhe desejam do fundo do coração.

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 02/11/2010
Reeditado em 05/11/2010
Código do texto: T2593068