Gordelícia
Isso mesmo, você leu o título. Ela é gordinha. E ela é uma delícia.
Ao contrário do estigma que as mulheres rotulam, não é só de bundas e peitões dignos de uma assistente de palco que vive o desejo e a libido masculina. Ali, entre as fantasias de loiras curvilíneas e morenas de corpos que tocam bossa nova, existe uma mulher que enche a cama, que tem carne para apertar, que tem um recheio digno de ser esmagado entre rodelas de chocolate e ser empacotado para vender como Negresco.
A gordelícia. Prima da mulher que dá um caldo, mas com uma pitada de pimenta e por que não - um tenro pedacinho de bacon.
Uma gordelícia não é simplesmente uma mulher com alguns quilinhos a mais. Nelas, as famosas “alças do amor” abrem portas para um sexo tão fogoso que assa carnes e peixes na churrasqueira. Melhor que isso, elas tem a explosiva combinação entre horny e carinhosas. E homens percebem - e valorizam - essa charmosa dinamite.
A história prova seu lugar de destaque. Expressada na arte e na música, o gosto pelas gordelícias inspira muitos.
Bon Scott, falecido vocalista do ACDC, após uma noite de tórrido romance escreveu “Whole Lotta Rosie”, uma verdadeira ode Rock N’ Roll às gordelícias. O colombiano Fernando Botero pincelou seu lugar entre os grandes pintando e esculpindo gordelícias com as mãos que com toda certeza já contornaram as mais belas formas. Até num plano municipal, a bela cidade de Americana, no interior paulista, decidiu receber seus visitantes com um portal que é uma clara homenagem a este belo estipe mulheril.
Deixemos para lá o debate sobre o padrão de beleza atual, que cultua um corpo que substituí as delícias da boa mesa por alface, e se der, uns cubinhos de torrada. Entremos no nosso DeLorean e voltemos muitos anos no passado.
Os quadros não mentem: antigamente as gordelícias eram o padrão de beleza. Comer bem e bastante era para nobres, para os inquilinos originais do Castelo de Caras. Quem morava mal e longe era magro, e até esculpido pelo árduo trabalho no campo. Provável dono de uma barriga tanquinho que roncava com frequência.
Hoje, num mundo que (pelo menos nas grandes cidades) todos tem acesso a pelo menos um prato de comida, o que é bonito é a falta de peso. Comer alimentos orgânicos, lanches de pão integral com queijo branco, sucos de 3 frutas com uma pitada noz moscada, que você sabe, é cheio de vitamina A.
Segue a mesma lógica de antigamente, mas de forma inversa. Os ricos e famosos que renovam seus votos de amor no Castelo investem para contratar um personal trainer e uma equipe de nutricionistas para ficar bem na foto.
Mas aí, quando o mundo conspira para incitar-nos a procurar o que está estampado nas revistas ou dançando ao fundo do Programa do Faustão, quando a marca do meu desodorante lança uma campanha pela “real beleza”, lá vem elas, as gordelícias, e acabam com toda necessidade de argumentação.
A atração por gordelícias está na sua autencidade, no uso do inconfundível charme feminino a seu favor, em mostrar que uma mulher gostosa vai muito além de um padrão de medidas para bundas, coxas e peitos.
Elas são provas vivas e levemente rechonchudas de como o charme feminino permite a adição de “delícias” para todo tipo físico.
Afinal, ela é uma mulher. E é uma delícia.