A Política, na Praça de Táxi
Já vi de tudo e ainda escutei outro tanto. Ouvi um taxista, escolhendo um candidato, justificando o seu voto: - “Tinha um carro como o meu e bateu o motor. Ele precisa... Os outros candidatos já ganharam a vida; ele não quer tudo do que receber, dará um pedaço à nossa igreja”. Barbeiros e taxistas são bons conversadores, fazem de sua “praça” uma ágora. Assim, logo, um deles retrucou: - “É melhor ele já ter dinheiro para não furtar do da gente”. Comecei a pensar como a arte de fazer política se desvirtuou, deixando de ser um serviço que se presta à comunidade ou à sociedade para se tornar uma “profissão” de interesses particulares, como dizia, nos seus Cadernos, Henri Montherlant (França,1896): “A política é a arte de se servir das pessoas” e não às pessoas...
Por princípio, político não deveria receber salário, apenas um pró-labore, enquanto desligado da sua profissão a serviço do povo. Mas, continuou justificando: “Ele é honesto, dos muitos que conheço”. Diante de tantas desonestidades, mentiras, traições e incoerências, de repente, candidato é aquele considerado honesto. Tentei perguntar se aquele candidato “necessitado” se enquadrava também dentro de um perfil mais adequado às finalidades a que se propunha; que, além de honesto, demonstrasse ser competente, trabalhador e que, sobretudo, tivesse espírito público; ainda que a honestidade consigo e com os outros fosse dever de todos os cidadãos, candidatos ou eleitores. Escutaram-me. Um que se mantinha, sentado, com a porta semiaberta do seu carro, quebrou o silêncio: “- Isso é besteira!”.
Convencido de que tinha perdido o meu latim, lembrei-me do “Commentariorum Petitionis” (Manual do candidato às eleições) do político, orador e escritor romano Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.C), que versa sobre esses assuntos, de hoje, do meio da rua e de como ser candidato. E, lá, não encontrei que o conceito de exercer cargos públicos, servir a “polis” ou ser político, advenha puramente da noção de ser honesto. Porém, nos escritos de Cícero, o candidato se vestia de uma túnica alva, branca, limpa, sem manchas, que simbolizava candidatura. Farda ebúrnea e pura que também realçava a candura do candidato, distinguindo-o dentre os demais cidadãos honestos. Voltei à roda de taxistas e encerrei a minha participação no bate-papo: -“Desonesto, jamais! Mas, ser honesto não basta, é preciso que o candidato seja também competente, trabalhador, experiente; de conduta coerente com os princípios éticos e morais da sociedade. E que, depois de eleito, demonstre interesse em continuar desse jeito”. Sem concordar nem discordar, voltaram ao silêncio. Olhei o relógio e fui cuidar da minha vida.
Já vi de tudo e ainda escutei outro tanto. Ouvi um taxista, escolhendo um candidato, justificando o seu voto: - “Tinha um carro como o meu e bateu o motor. Ele precisa... Os outros candidatos já ganharam a vida; ele não quer tudo do que receber, dará um pedaço à nossa igreja”. Barbeiros e taxistas são bons conversadores, fazem de sua “praça” uma ágora. Assim, logo, um deles retrucou: - “É melhor ele já ter dinheiro para não furtar do da gente”. Comecei a pensar como a arte de fazer política se desvirtuou, deixando de ser um serviço que se presta à comunidade ou à sociedade para se tornar uma “profissão” de interesses particulares, como dizia, nos seus Cadernos, Henri Montherlant (França,1896): “A política é a arte de se servir das pessoas” e não às pessoas...
Por princípio, político não deveria receber salário, apenas um pró-labore, enquanto desligado da sua profissão a serviço do povo. Mas, continuou justificando: “Ele é honesto, dos muitos que conheço”. Diante de tantas desonestidades, mentiras, traições e incoerências, de repente, candidato é aquele considerado honesto. Tentei perguntar se aquele candidato “necessitado” se enquadrava também dentro de um perfil mais adequado às finalidades a que se propunha; que, além de honesto, demonstrasse ser competente, trabalhador e que, sobretudo, tivesse espírito público; ainda que a honestidade consigo e com os outros fosse dever de todos os cidadãos, candidatos ou eleitores. Escutaram-me. Um que se mantinha, sentado, com a porta semiaberta do seu carro, quebrou o silêncio: “- Isso é besteira!”.
Convencido de que tinha perdido o meu latim, lembrei-me do “Commentariorum Petitionis” (Manual do candidato às eleições) do político, orador e escritor romano Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.C), que versa sobre esses assuntos, de hoje, do meio da rua e de como ser candidato. E, lá, não encontrei que o conceito de exercer cargos públicos, servir a “polis” ou ser político, advenha puramente da noção de ser honesto. Porém, nos escritos de Cícero, o candidato se vestia de uma túnica alva, branca, limpa, sem manchas, que simbolizava candidatura. Farda ebúrnea e pura que também realçava a candura do candidato, distinguindo-o dentre os demais cidadãos honestos. Voltei à roda de taxistas e encerrei a minha participação no bate-papo: -“Desonesto, jamais! Mas, ser honesto não basta, é preciso que o candidato seja também competente, trabalhador, experiente; de conduta coerente com os princípios éticos e morais da sociedade. E que, depois de eleito, demonstre interesse em continuar desse jeito”. Sem concordar nem discordar, voltaram ao silêncio. Olhei o relógio e fui cuidar da minha vida.