Não sou eleitor, não gosto de politica e muito menos dos políticos mas, mesmo não tendo tal obrigação a cumprir, hoje eu quebrei um período de intenso trabalho de Segunda a Segunda erguendo da cama de madrugada e a ela voltando tarde da noite, decidindo-me afinal por tirar um dia de lazer caminhando no calçadão de Icaraí de mãos dadas com a minha companheirinha e em seguida, percorrendo em silêncio alguns sites e blogs que há muito abandonei por falta de tempo.
Encontrei na web uma referência a Antônio Pinto Basto, admirável cantador de fados, que de engenheiro mecânico não lhe conheço os dons. Conheci Basto dirigindo um soberbo programa na RTPi onde, confesso, eu perdi a minha histórica aversão a esse gênero musical, tal a minha admiração por suas interpretações e voz castiça de afinação irrepreensível! Mas uma dia, (há sempre um dia), Basto abandonou-nos, neo apreciadores do fado, para mergulhar na neblina das odiosas coisas políticas. A minha revolta foi genoína, mandei até E-mails falando em "Traição", mas ele lá seguiu seus passos que, felizmente, parece não haverem passado de uma vereança! Ainda bem, para o bem da arte...
Basto é nascido em Évora, cidade que acolheu a maravilhosa e inesquecível Florbela Espanca durante seus tempos de estudante na fase Liceal. Havíamos saído, eu e a Nina, da famosérrima Capela dos Ossos e calcurreávamos os labirintos de estreitas ruas sob calor sufocante, em busca da casa onde morou a ínclita poeta. Buscando a sombra nos arcos de um histórico edifício, perguntei a um comerciante que à porta da loja esperava pacientemente algum cliente, onde encontrar o que procurávamos. O homem varreu o em torno com seu olhar e, quando eu esperava a informação de em qual das ruas deveríamos entrar, ele indagou: "Essa Dona Florbela...O que é que ela vende?..."