Leituras inesquecíveis IX: Livros, minha cesta básica para a alma


             A minha mais remota lembrança de infância é de inveja e de livro. Inveja de minhas irmãs que iam a escola  e já sabiam ler . Inveja que me impulsionou a aprender a ler rapidinho e desde que aprendi, minha vida girou em torno de livros e mais livros. Não me imagino num mundo sem eles. Não quero um mundo sem eles.
          Lembro que quando recebi meu primeiro salário como professora, comprei toda a coleção de Monteiro Lobato. Já havia lido todos os volumes na biblioteca da escola, mas queria para mim os livros e a companhia  dos personagens que me fizeram tão bem num tempo bem difícil de minha vida e paguei com um orgulho danado as parcelas da compra.
         Abro um parênteses para dizer do quanto estou indignada com a polêmica sobre a "sugestão" de  proibição do livro Caçadas de Pedrinho, para as escolas públicas  desse país. Li Monteiro Lobato a partir dos oito anos, por iniciativa própria, e nada na minha vida se aproxima de práticas racistas. Ao contrário! Espero que o Sr. ministro de Educação não cometa o deslize de, homologando uma arbitrariedade, uma sandice, generalizar, declarar que acha que os professores/as são mesmo uns  "burros" sem "preparo teórico" para lidar com situações de conflito, sem "discernimento" para entender e trabalhar pedagogicamente determinadas questões.
        Voltando ao assunto dos livros, criei, desde então, o hábito de comprar livro todos os meses. É um dos itens da minha cesta básica. Se consigo ler tudo que compro ou ganho? Não. Minha pilha está sempre aumentando e eu sonho com feriados prolongados, com férias, com dias de sombra, água fresca e muita leitura...
         Meu trabalho como educadora não necessariamente tem a ver com literatura, mas, pela minha relação com os livros, fui e sou convidada sempre para algumas atividades ligadas a eles. Uma delas me deu muito prazer em fazer que foi participar, alguns anos atrás, de uma escolha anual da coleção Literatura em minha Casa do PNBE, Programa Nacional de Bibliotecas Escolares, do MEC.
         Vários itens são objeto de análise para a escolha de um livro, dentro de uma faixa etária e de determinado gênero textual e durante quinze dias, na linda Pousada dos Pirineus, em Pirenópolis, Goiás, li montes de livros e junto com uma parceira fizemos  para cada coleção lida relatórios diversos. O melhor de tudo foi, meses depois, receber toda a coleção - mais de 70 livros! - e saber que em todas as escolas públicas  do país, muitos estudantes e professores teriam aqueles tesouros que eu também ajudara a escolher.
         Sempre digo que um livro é bom quando me emociona. Não importa em que categoria esteja, se é best seller ou se foi lido por meia dúzia. Gosto da aventura de descobrir autores novos. Tenho mania de me enfiar em livrarias ou sebos e sempre saio feliz com o que garimpo, sem contar do prazer que é zanzar entre livros e escolher alguns que me chamam a atenção.
         Dia desses conversava com um amigo que sempre faz em suas oficinas de trabalho com leitura junto a escritores a pergunta: Quem você lê? E quase sempre ouve as mesmas respostas: os clássicos. E todos lêem Machado, Drummond, Cecília, Saramago, Adélia, João Cabral, Suassuna, os filósofos, enfim... Então porque se publica tanto por ai, se ‘ninguém’ lê? Ninguém compra livros de autores iniciantes? Fazemos apenas concessão ao que produz os amigos? Ninguém se aventura a ler, a conhecer autores novos?
        Na minha curiosidade de vira - lata descobri e descubro sempre autores bem interessantes. Li e leio os medalhões da literatura, mas também leio os Joãos, os Josés e Marias como eu, que sentem prazer em escrever e nem todos publicam, já que isso tem um custo que nem todos querem ou podem bancar.
      Todos os livros que compro são para o meu prazer e se valem a pena eu os recomendo, empresto, comento com quem me pergunta sobre e ainda presenteio os amigos, quando surge a oportunidade.
       Bons livros são o combustível, o alimento para a alma. “E também para o cérebro, mãe”, arremata Vinícius, aqui do lado bisbilhotando o que escrevo, do alto da sabedoria dos seus 13 anos.