NUNCA SE SABE O DIA DE AMANHÃ

Lêda Torre

Certa manhã do mês de setembro de 2010, ao tomar o ônibus que me levava ao Terminal Rodoviário, onde fui comprar passagem para viajar para a cidade de Presidente Dutra , a serviço, deparei-me com uma situação, no mínimo incomum, e triste. Foi o seguinte: numa certa parada do percurso, lá pela Avenida Guajajaras, no bairro São Cristóvão, aqui em São Luis, entrou um senhor de mais ou menos uns 48 anos no máximo, creio eu, se muito tivesse, não seria mais de 50 anos de idade.

Ele subiu o veículo com certa dificuldade, devido as muletas que o apoiavam. Firmou-se de pé, encostado numa barra aluminizada do ônibus como apoio. Prontamente ofereci-lhe a poltrona que eu me sentava, porém, ele não quis agradecendo-me com muita educação.

Mas o que mais me chamava atenção, era além da educação, a altura e a beleza dele, uns dentes muito bonitos e sua performance em geral.

Eu até pensei que ele ao se arrumar ali mesmo de pé, bem trajado, imaginei tratar-se de mais um pregador da Palavra de Deus, e segurando um banner, com algumas fotos de um acidente horrível, cuja vítima era o próprio, ele foi logo solicitando a atenção de todos os passageiros, e se identificou, nem lembro o seu nome, narrando o que havia acontecido de acordo com a demonstração no banner.

Todos o olhavam bem atentos e com certo ar de compaixão, pois derramado de lágrimas ele expunha seu discurso tão emocionante e triste. Aquelas fotos eram de um acidente de carro chocando-se com um ônibus que veio em cheio.e meio àquele evento desolador, ele era o homem atingido em cheio pelo ônibus, num dia de sua folga. Era motorista interestadual de ônibus, trabalhava e vivia uma vida até bem sossegada, segundo ele, com conforto e sua família, trabalhador que era, também um homem muito honesto.

Mas aquele fatídico dia do desastre que quase levara sua vida, ele não viu mais nada, ficou semimorto, fora apanhado depois pela equipe de pára – médicos , corpo de bombeiros e polícia, foi levado em coma para um Hospital da cidade, daqui de São Luis. Sendo depois avisado para a família. Passados muitos dias sem ver o mundo, foi que Deus o salvou e ele ficou bom , literalmente falando.

Bom do estado de coma, mas impossibilitado de andar com as duas pernas normalmente, pois uma delas estava quase que morta, totalmente insensível, assim mesmo , dava graças a Deus todo dia, por estar vivo. E, como a família dependia totalmente dele, todas as economias se foram com a fase difícil e com a recuperação; filhos ainda menores, e a esposa mais do que nunca , jamais poderia deixá-lo naquele momento, ainda que fosse para trabalhar.

As coisas iam de mal a pior, sem dinheiro certo, sem emprego, pois a essa altura ainda não conseguira se encostar pelo INSS, o dito órgão alegava que segundo a perícia médica de lá, desse órgão, não aprovara a sua invalidez. Mesmo assim, ele e seus familiares insistiam tentando esse benefício, até que conseguiu ficar temporariamente por conta do INSS.

Passaram-se meses... anos... e , o prazo da carência, ou seja, o prazo do INSS pagar benefício dessa natureza, havia expirado. E agora? A família voltava a passar por dificuldades. E os parentes e amigos, cadê todo mundo? A coisa ia cada dia pior. Diante disso, ele não pensou duas vezes, o negócio era partir para alguma alternativa, mesmo que fosse a contragosto de seus familiares.

Resolveu sair com suas muletas, sem rumo, e pensou que o jeito era andar pelos terminais de ônibus e pelos ônibus, rua acima, rua abaixo, pedindo ajuda, pois ele jamais iria suportar mais essa situação: ver sua família passar mais uma vez tantas necessidades básicas, visto que não tinham ajuda de ninguém, só DEUS era o seu único amigo de verdade. Não fosse esse pai maravilhoso, até pensara algumas vezes em dar cabo de sua vida...mas graças a Deus isso nem chegou perto, afinal aquela vida tem um propósito de Deus, creio que ele jamais o desamparará. Essas coisas muitas vezes acontecem é para nosso próprio crescimento como imagem e semelhança do pai.

E , quanto à empresa que ele trabalhou com dedicação tantos anos e com lealdade, na hora que ele muito precisou dela, a mesma, achava que por ter pago seus direitos, estava tudo certo, afinal, a empresa não tinha mais nenhum vínculo com esse cidadão, e além do mais a vida continua e já tinha outro no lugar do moço.

E ali, naquela manhã ensolarada, no interior de um ônibus estava acontecendo essa situação. E após o senhor, personagem principal dessa narrativa, ter relatado o ocorrido com ele e sua família, nos pediu ajuda, pois já havia mais de oito meses que ele tentava para que a perícia do INSS aprovasse a sua inaptidão para o trabalho. Perdera além dos movimentos da perna, outros movimentos de seu corpo, e ainda não conseguira se aposentar por invalidez.

Era evidente e notória a sua situação de carência humana e financeira. Vi algumas pessoas chorando, inclusive outro senhor que também ia pra Rodoviária. E muita gente o ajudou, eu, inclusive e, aquele homem realmente estava falando a verdade, pois infelizmente hoje em dia, é muito difícil acreditar nas pessoas, nunca se sabe quem está com a verdade.

E sabemos também, que nunca devemos negligenciar com as pessoas, porque nunca se sabe o que pode ocorrer conosco ou com as pessoas amadas.

____________São Luis, 30/10/2010__________________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 31/10/2010
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T2588186
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