Cuidado um dia pode ser você!

Às vezes nós ouvimos dos mais velhos que devemos respeitá-los, e por vezes é até muito chato quando dizem que um dia seremos nós os idosos, mas estão cobertos de razão... Pois se não morrermos antes, iremos alcançar a tal idade, que tanto discriminamos e desrespeitamos, desde á fila do banco ou o lugar no ônibus, que não cedemos reclamando por terem eles o direito.

Ontem ouvi de um senhor que carregava penosamente seus oitenta anos, onde lhe somavam as preocupações e dores e lhe faltava o carinho dos netos, a companhia dos filhos e daquela com quem um dia dividiu a cama e lhe chamou de meu bem. Hoje se não bastasse a ausência de saúde física natural da idade, sua solidão lhe comprometia a saúde psicológica! Chorosamente queixava-se de uma goma na garganta que lhe impedia a respiração, como repetidas vezes reclamava tal senhor, o que mais me deixou sensível aos sentimentos dele, foi ouvir seu desabafo, que já desejoso de morte, arrependido talvez, amargamente dizia que quando jovem, maltratava os idosos, em suas palavras mais ou menos assim:

- Eu judiei bastante dos velhos, já chutei , dizia a eles que não deveriam cruzar meu caminho, dizia: “ oh, infeliz morre! Já está fazendo hora extra na terra!” Hoje, não consigo nem me perceber, olha bem para mim, como estou vestido, veja só esta calça – com as mãos sobre a barra da calça mostrava-me o rasgado que continha.- Gasto tudo com meu neto, tenho quatro netos, mas o que eu mais gosto é o que cuido dele, ele tem quatorze anos, compro tudo que ele precisa e a tia dele é quem usa, Ah! Como amo meu neto! Ele? Ele não liga para mim, sou velho de mais para ele! Ah! Essa goma que entope minha garganta e não me deixa respirar... Acho que não passo desta noite, oitenta anos meu Deus! Já não preciso viver mais!

E aquelas palavras entupiram minha garganta e não me deixaram palavras, Eu que tanto admiro os idosos, não tinha uma só palavra amigável para ofertar àquele senhor e retribuir-lhe por sua companhia naquele quarto vazio e silencioso preenchido pelo cheiro e a dor dos medicamentos, fechei meus olhos por um instante, tentei demonstrar-me simpática, por que o passado não se pode mudar, e eu não iria lhe dizer qualquer coisa que pudesse aumentar-lhe a dor da culpa que ele já carregava penosamente junto a seu peito.

De repente, subitamente, me pediu que rezasse por ele, seu nome disse – me que era Wanderley, claro que não recusei seu pedido, então olhou me com os olhos mais profundos que já vi, carregado de mágoa e com uma certa esperança disse-me:

- você orou por mim? Bastou um pensamento seu e eu já estou me sentindo melhor, até a goma não está mais aqui... Obrigado!

Pensei: “ como é triste a solidão!”

As ultimas palavras daquele senhor e adentrou o médico que viria me ver, com olhar aprovador me liberou para casa, deu-me alta! Ufa! Que alegria poder voltar para casa, pois corticóides dão muito sono e eu não via a hora de deitar minha cabeça no travesseiro... Mas fiquei com um tamanho pesar, pois o Senhorzinho ficaria mais algumas horas , chegou até a pedir ao médico que me deixasse com ele até que fosse liberado e também ganhasse alta, mas o doutor não lhe deu ouvidos e quando minha amiga que viera me buscar para me levar para casa chegou ao quarto, ele suplicou-lhe que me deixasse como companhia para ele...

Despedi-me carinhosamente dele, e o trouxe em meu pensamento, pois um dia ele não pensou que poderia se ele e hoje sofre por sentir na pele o que já fez aos outros...

Que tomemos cuidado de fazer com os outros àquilo que queremos que façam à nós!

O dialogo descrito neste texto tentou manter a fidelidade das palavras ditas pelo senhor que veridicamente apareceu na minha vida para reforçar alguns conceitos que já se faziam parte da minha vida!