De um certo ponto de vista pai d’égua...
Uma cidade com características peculiares eu diria. Há quase um sol para cada morador, mas também há uma generosa quantidade de pingos de chuva para cada ser que transita nas tardes da capital. Só que agora não mais de hora marcada, chuva ou chuvisco tem chegado de surpresa. Mudança literal dos tempos.
Belém, de um povo alegre, hospitaleiro e pacífico até certo ponto. Por vezes se confundem entre o passivo e o pacífico. O excesso de calor, a umidade que encharca corpos e roupas faz efeito direto na paciência e na tolerância das pessoas, um pequeno atropelo e lá se vão xingamentos, gestos exaltados e até ofensas.
Mas que a cidade é uma graça, isto é. De ruas largas e cheias de árvores frondosas pelo caminho há que se protegerem os carros e as cabeças quando é temporada de frutos, o susto e a dor de cabeça literalmente falando podem ser grandes. Formam-se em algumas das mais tradicionais avenidas, longos túneis a partir das copas das mangueiras, e quando chega a noite, com uma iluminação indireta em verde, as frondosas árvores ganham um ar mais charmoso ainda.
Alguns políticos, no entanto, insistem em fazer dela a capital da região, mas o máximo que tem conseguido são os arroubos do poder enchendo seus bolsos e bolsas, sujando fichas, e sujando muito a cidade, especialmente nesta época, os passeios públicos são inteiros disputados por cavaletes-propaganda fincados nas gramas e/ou os cavaletes-andantes. Certo mormaço protege os ousados propagandistas que burlam as regras do jogo.
Belém precisa saber escolher, ficar ou sair da mesmice, é tempo de avaliar cada um que prometeu e não fez, ou fez aquém, muito aquém do que prometeu.
Para ilustrar as tantas peculiaridades deste caloroso canto, em um mercado gigantesco e a céu aberto, o maior da América Latina, encontra-se de tudo mesmo e entre sabores e aromas os mais distintos, um recanto do mercado é exclusivo para as ervas nativas, os banhos, os preparados que segundo afiançam as “Tias Cheirosas”, são tiro e queda, e os nomes então: “Chora nos meus pés”, Agarra e não larga mais”, “Amansa Corno”, Chega-te a mim” e por ai vai, sem contar os amuletos para levantar o “astral” dos homens, segundo dizem, feitos do sexo do Boto.
Falamos uma língua muito pessoal, que já mereceu até um dicionário só de palavras e expressões daqui. Muito comum para nós, mas quem não sabe até se surpreende, pensando estar sendo ofendido, é que a palavra ou expressão “égua” por aqui, funciona como uma vírgula, como um elemento de exclamação ou surpresa, cai bem e tem um significado diferente em cada frase, em cada fala e dependendo da entonação, do prolongamento da pronuncia vai adquirindo diversos sentidos. Um “égua” bem silabado pode ter enormes e diversificadas traduções.
Belém, um lugar para realmente ser visitado e não esquecer.
Uma cidade para ser cuidada. Apreciada.
Um recanto para provar os sabores quentes, ardidos e exóticos da culinária, das frutas, e sair daqui dizendo: Eita cidade Pai d’égua!
Belém do Pará, Cidade das Mangueiras, em um caloroso setembro de 2010.
Ainda valendo, em especial até amanhã, quando decidimos quem vai nos governar nos próximos anos.
Adendo:
Pai d’égua em Belém significa: legal, bacana, espetacular.