207 - MEMÓRIAS EM TEMPO DE PAZ...
De parques e circos...
Das lembranças lá no Campestre, as mais marcantes nos remetem ao tempo de jogar futebol nos campinhos do bairro e dos muitos circos e parques de diversões que se instalavam nos arredores da Igrejinha Nossa Senhora da Piedade.
Dos parques o que eu mais recordo foi um que teve um acontecimento insólito: Uma mocinha da roça ficou com medo do rodopiar do brinquedo e soltou a corrente que a prendia na cadeira, ficou apavorada... Ainda, segundo ela: - Quando o “danado do trem” começou a rodar, ela a ficar tonta e passar mal, se livrar do brinquedo denominado “Chapéu Mexicano”, era tudo que ela queria... Com o brinquedo em movimento. Pulou fora!
Foi lançada, aterrissando no meio do cascalho.
Sorte dela, se é que se pode dizer assim, que o brinquedo não estava à plena velocidade. Confirmação dela depois da queda.
E ela caiu do lado contrário do abismo, isto é, para dentro do espaço do parque, senão iria descer no meio do capim meloso até os fundos do Sindicato Metabase cuja sede era na Rua Santana, mais ou menos, onde tempos depois foi depois o Escritório das Florestas Rio Doce e hoje a TV Cultura. Ou ainda estatelar-se contra a parede da Igreja. Exageros à parte.
Nos dias que se seguiram ela era vista pelas ruas do bairro Campestre mancando e com as pernas arranhadas, cotovelos e ombros escalavrados da queda no cascalho, mesmo assim, anunciando: - “Quer comprar mel e côco!?. Produtos que ela e suas duas irmãs traziam lá do Córrego da Laje.
Do outro lado (direito) havia um caminho que todos usavam para se chegar à Rua Santana era uma forma de economizar tempo, passando pelo Morro do Cruzeiro. Pelo caminho se descia margeando os fundos das casas da Rua Nossa Senhora da Piedade era providencial, apesar de muito perigoso. De um lado cerca de arame farpado, do outro um abismo. Se escorregasse e caísse, estaria rolando morro abaixo até hoje! Nós, moradores do bairro só usávamos a viação canelinha, era o tal negócio de descer e subir a Rua Santana várias vezes ao dia.
As construções da casa paroquial do lado direito e depois o Seminário e o Salão Paroquial do lado esquerdo fecharam os caminhos para os casais de namorados que ao fugir da aglomeração dos parques e circos se dedicavam ao pega-pega.
Isto quando conseguiam suportar o mau cheiro daqueles que urinavam atrás da parede dos fundos da Igrejinha.
No passeio a urina, no chão a massa sólida defecada como diriam os monitores e chefes do Grupo de Escoteiro Padre Olímpio.
Quando algum casal mais afoito se esquecia, atolavam os pés na merda, era um salvem-se quem puder.
O Padre Zé Lopão não poderia ser onipresente, mas tudo que acontecia por aqui no bairro, ele ficava sabendo de primeira-mão e de vez em quando, para alertar os namorados, extrapolando na homilia, dizia com voz de trovão!
- Tô sabendo de tudo que acontece aqui, no Arraial do pau-fincado, expressão que gostava muito de usar.
Se houvesse as facilidades da internet, acho que o Padre ficaria sabendo em tempo real. Seus comentários não afastavam os fieis da Igreja... Creio que nem do pecado. Felizmente o tempo era outro...
desmembrada e reeditada