TEMPO!!! Substituição...

- Apronte-se depressa, traga suas malas, mude -se hoje para minha vida!

Eu teria o convidado, mas não foi necessário, antes que eu pronunciasse as palavras já tinha invadido tudo em mim. E antes que eu percebesse eram os seus Cd`s que tocavam no meu som, os seus livros estavam na minha cabeceira, o seu cereal e iogurte favoritos no café da manhã (antes dele eu nem tomava café da manhã, minhas manhãs não mereciam serem celebradas com refeição nenhuma, um café puro e amargo estava de bom tamanho). Haviam roupas dele entre as minhas, coisas dele espalhadas por todos os lados e eu deixava tudo dessarrumado mesmo que era pra tê-lo em reticências à minha volta, também funcionava para me lembrar que as coisas estavam pela primeira vez fora de meu controle e por mais aberrante que parecesse, eu achava tudo aquilo maravilhoso.

Inquietante, mas maravilhoso ainda assim.

Você me tratava por anjo, e anjo é o que lhe fui (fada, gênio da lâmpada...), bastava um olhar e lhe concedia desejos, é que ele usava as palavras de tal modo e eu permitia que me ordenasse, mesmo lhe advertindo dos males que poderiam advir daquilo que pretendias... lhe fiz sempre o que sua alma ansiava.

Minha única missão parecia mesmo ser a de lhe servir, abri sempre mão de mim por nós. Ele no entanto nunca abriu mão de si e assim esqueceu-se de que até mesmo um anjo precisa ser alimentado de oração.

Um dia qualquer me apanhou chorando, acho que aquele dia ele suspeitou de que minha existência era mesmo real, até titubeou antes de me fazer uma petição. Depois que eu lhe disse "não", até pensou em me amar, mas já havia um outro alguém dentro de mim: -Eu!

- Arranque suas digitais de sobre minha pele, leve seu cheiro de minhas narinas, seu gosto de minha saliva... Não te dou tempo sequer de se aprontar, vá embora!

E aqui eu fiz uma substituição. E eu não trouxe minha família comigo, frustrações do passado, traumas, uma conta no vermelho, caprichos... Nada! Nem roupa no corpo. Vim desnuda, leve... Amor? Sim, sempre haverá, mas isso se transforma todos os dias.

E se meu julgamento for demasiadamente severo, então essa história talvez seja a mesma pra quem está do outro lado da rua.

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 29/10/2010
Código do texto: T2586341
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