Afinal, por que nos beijamos?

Estou na rodoviária. Sentada em minha poltrona, no interior do ônibus, espero sua partida. Na calçada um casal chama a minha atenção: eles se beijam o tempo inteiro. Quinze minutos de espera. Quinze minutos de beijos.

Um hábito bizarro. Um prazer irresistível. De onde vem esse costume exclusivamente humano de encostar lábios, roçar línguas e trocar salivas com outra pessoa?

Onde foi dado o primeiro beijo? Adão e Eva? Acho que não. Na pré-história? Mas não há desenhos em cavernas que indiquem esse hábito. Bem, se foi na pré-história, ninguém sabe, ninguém viu. Sei que em livros como o Kamasutra e também o Satapatha ( textos sagrados sobre o bramanismo), existe textos assim: “ pôs a sua boca na minha boca, fez um barulho e isso produziu em mim um prazer” .

Quem inventou mesmo, eu não sei, mas ao passar por kamasutra, povo hindu e depois pelos soldados de Alexandre , o Grande, o beijo se disseminou como um hábito. Na Roma antiga, o poeta Ovídio definiu o beijo de língua como voluptuoso e vergonhoso; já o poeta Catulo disse que ele “ era mais doce do que doce de ambrosia” . Puxa, gostou mesmo! (Achei incrível já existir ambrosia!!)

Isso sem falar nas músicas dos cancioneiros desde sempre que falam da cumplicidade (“ ei, psiu, beijo me liga, eu tô curtindo a noite, te vejo na saída” – Michel Teló) e da magia do beijo(“ se o teu beijo fosse meu, eu não estaria assim” –Sorriso Maroto), da sua alegria ( “ vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval..” )

E de lá para cá, só se perpetrou. Existe até um dia mundial do beijo!

Mas afinal, por que nos beijamos? Pois, convenhamos, enfiar a língua na boca de outra pessoa, percorrendo-lhe os dentes, acariciar as gengivas alheias, fazer movimentos ritmados de sucção engolindo saliva que não é sua, é no mínimo esquisito.

Só os humanos se beijam. Há comportamentos similares nos animais mas sem conotação sexual ou emocional.

Parece que ao nos tocarmos com os lábios de outra pessoa, inerente o misterioso fascínio de nos misturarmos com o outro. O sentimento amoroso carrega a intenção de incorporar, de comer o objeto de nosso afeto.

Durante o beijo, enquanto duas bocas se abrem e permitem a penetração mútua das línguas, há um estímulo sexual muito forte. Isso provoca prazer.

Mas eu quero ainda dizer que o beijo fala.

Fala sobre quem beija. Muitas vezes muito mais do que quer se contar ou do que a consciência permite externar. Concordam?

Então, posso dizer que o beijo é parte sexo, parte sentimento. Legal, né?

É uma autorização para entrar.

Ânsia de afetividade entre amantes e desejo de explorar o novo.

O beijo pode transformar pessoas, criar clima perfeito entre amantes e ainda pode ser poético e romântico. E viva o beijo!

O ônibus está saindo da rodoviária e o rapaz corre para entrar, mas antes, pára e dá mais um beijo na moça, que saltitante o engolfa com os braços. O motorista sorri.

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 29/10/2010
Código do texto: T2586303