Um 4.º Equívoco
Um 4.º Equívoco
umquartoequivoco@oquartoequivoco.pt
Chamam-me Mário Moura, já me chamaram outros nomes, uns de bem saudosa memória, outros nem por isso, para ser mais rigoroso, deviam chamar-me Mário Fernando Oliveira Moura, nunca antes porém me haviam chamado de Mário Mesquita. Ser confundido, ainda que fruto natural de uma revisão de fim-de-semana, com o autor de ‘O 4.º Equívoco’, é, no mínimo, outro equívoco; e é mérito alheio que não devo aceitar, ainda que o desejasse.
Seria bom demais para ser verdade, não por odiar a minha escrita a ponto de desejar trocá-la pela de outrém, nada disso, mas por imaginar a razia que o prestígio e o verbo incisivo e mordaz de um Mário Mesquita não causariam às hostes dos que se servem da minha Cidade; mas a verdade é que Mário Mesquita não foi o autor de ‘O nosso Círculo dos Amigos da Ribeira Grande’. Sendo o equívoco uma enorme honra para o Mário Moura, não deixa de ser um tremendo embaraço para o Mário Moura, e seguramente para o Mário Mesquita e, estou em crer, para o meu delicado amigo Santos Narciso, culpado confesso desta inocente troca de identidades, por isso condenado sem apelo a publicar esta nota. Se um bom negócio, ao que se diz, é aquele que acaba por ser bom para todas as partes, este é claramente excelente para a causa do Círculo dos Amigos da Ribeira Grande, mau para o Mário Mesquita e assim-assim para o Correio dos Açores. Creio eu.
outroquartoequivoco@tambem.pt
Tenho sido frequentemente confundido com outros dois Mário Moura: um destes dois Mário Moura é ou era um conhecido jornalista da RTP, meu parente, segundo rumores não confirmados, o outro Mário Moura foi deputado regional pelo CDS/PP na anterior legislatura. A confusão com o primeiro abriu-me em três ais as portas do gabinete da direcção da RTP/A, então ocupado pelo meu eficiente amigo e antigo condiscípulo Lopes de Araújo, de quem havia perdido o contacto há quase duas décadas, desde o longínquo tempo em que se entretinha a exercer publicamente o ilusionismo. Foi, por isso uma muito boa e proveitosa confusão. Como tenho sido, por vezes, dizem-me que pela voz, confundido com o meu igualmente amigo e antigo condiscípulo, fabuloso escultor da palavra, conhecido por Sidónio Bettencourt. Também não me tenho dado mal com esta última confusão. Prouve a Deus não cometer nenhuma grave inconfidência de lesa majestade, se me referir neste local a uma das muitas confusões com o Mário Moura do PP, o segundo Mário Moura. Confesso desconhecer o seu nome completo, de só o ter conhecido em carne e osso numa viagem de barco a caminho de Santa Maria. É da casa do Sr. Mário Moura? É o próprio. Ah, esquecia-me de vos dizer que confundem com arreliadora frequência o meu número de telefone com o de uma industriosa padaria da Ilha. Por isso, por instantes pensei que pudesse ser a habitual pergunta: É da Padaria da Relva? Daqui é do jornal X (obviamente não digo qual), fala o jornalista Y (pelas mesmas razões não lhe divulgo o nome) e gostaríamos de saber se o PP vai derrubar o governo [Regional dos Açores] do PS? As circunstâncias eram as seguintes: estava-se em plena crise da primeira legislatura do governo minoritário PS, cuja sobrevivência na Assembleia Legislativa Regional parecia depender do voto do deputado Mário Moura da bancada do PP, o qual havia, para alívio de muitos em boa hora, substituído há pouco o truculento e instável deputado Barata.
Não tenho rigorosamente nada a ver com o assunto que me propõe, respondi em tom que pretendi fosse delicado e suficiente para ultrapassar polidamente o evidente equívoco. Quer dizer com isso, atalhou pressuroso o jornalista, que vai mesmo derrubar o governo? Eu não sou deputado, às vezes bem gostaria de ser pelas alcavalas e outras prebendas que dizem dar, sou apenas um simples cidadão eleitor. Normalmente voto e fico o resto do tempo calado, de resto como no fundo se espera. Mas como tratam a minha Cidade abaixo de cão, como se fosse uma qualquer freguesia da Capadócia de Baixo, cada vez ando mais furioso, e se dependesse do meu voto, derrubava por inteiro toda a classe política: verde, vermelha, amarela, cor de rosa, azul, toda sem excepção. Quase que rebento. Apenas isso. O senhor, juro que me tratou por senhor, voltou à carga o jornalista, está a querer esconder o jogo. Assim mesmo. Mas então é ou não é o Mário Moura? É ou não é do telefone número xyz? Acrescentou, já em tom menos delicado. Sou o proprietário do telefone número xyz e sou Mário Moura desde que me baptizaram com o nome do meu padrinho Mário Moura, irmão de meu pai, mas não sou o Mário Moura que quer que eu seja. Mesmo que quisesse não podia ser. Em tom contrariado, acabou por desligar o telefone com a delicadeza própria de quem esgotara a pouca que tinha. Fosse como fosse, fiquei com a suspeita, de resto nunca confirmada, de que a minha resposta evitara um fim de semana de cólicas intestinais ao governo chefiado pelo meu companheiro do oitavo grupo do então denominado Liceu Nacional de Ponta Delgada.
Mário Fernando Oliveira Moura
Fotografia de há dez anos atrás na Cidade-Berço da nossa Nacionalidade