Não sei bem porquê
Não sei bem porquê
Estou até convencido de que poderia avançar alguma explicação bem a propósito do facto, simplesmente não me apeteceu seguir por esse caminho, em todo o caso os trabalhos pictóricos de Gilberto Bernardo, mesmo os mais vagamente figurativos, levam-me quase sempre ao cheiro da flor do incenso, à luz da Primavera e ao canto do melro negro.
Quando começará a Primavera?
A noite das Estrelas sempre foi para nós a despedida do Inverno. Até mesmo o incenso mais tardio já deita cheiro que consola.
Não sei bem porquê, nem quero lá saber porquê:
As pinturas do Gilberto sempre me deram cheiro a flor de incenso.
As cores suaves, juro, sempre me cheiraram a incenso. A incenso dos quartéis de laranjeira. As expressões suaves (das formas, sejam quais forem) sempre me cheiraram a incenso. Ao incenso dos tapetes vegetais calcado pelos pés. Mas nunca, dou-vos a minha palavra de honra, me cheiraram ao incenso queimado nas festas. Só à dos Espírito Santos.
E ao canto do melro negro.
Não sei ao certo porquê. Nem quero lá saber bem porquê.
Basta-me sentir.
Mário Moura
RG, 14-03.2006