Trovas de Amor
- Dona Zuleica, me ajuda aqui?
- Ajudo... o que foi?
- Tô aprendendo trovas no supletivo.
- Ué? Agora vai trovoar? Já não basta o tanto que choveu pelo Roberto?
- Ai, dona Zuleica... Não brinca! Esse negócio é difícil!
- Bobagem, Helena! Vamos lá! Olha aí no teu livro...
- Tá aqui: Trova é um poema monstro... monostro...
- Monostrófico!
- Isso! E o que diabos é mo-nos-tró-fi-co?
- Tem uma estrofe só. Continua lendo, vai ficar mais claro.
- Trova é um poema monostrófico com quatro versos hepta... he-p-tas-sí-la-bos. Vixe! Danô-se!
- Não, Helena! É simples... A trova é um poeminha curtinho com só quatro linhas, cada uma tem até sete sílabas.
- E dadonde que a senhora leu isso aqui??
- Heptassílabo quer dizer que tem sete sílabas...
- Ah! E verso é linha?
- Isso.
- "Tendi"... E as rimas?
- Ah, sim! Tem que rimar a primeira linha com a terceira e a segunda com a quarta. Olhaí o exemplo...
- Eita! Bonito, né?
- É, sim! Pronto?
- Não! Agora é que a coisa complica.
- Por quê?
- Tenho que escrever uma.
- Ué! Tá fácil! Já conhece as regras... Sobre o que você quer falar?
- Ai! Quero falar de amor, igual a essa...
- Então vamos lá.
- Hummm! Tá! “Roberto você mentiu pra mim”...
- Opa! Já passou das sete sílabas...
- Ih! É!
- Tira o “pra mim” que dá certinho.
- Ro-ber-to vo-cê men-tiu! Oba! Deu!
- Ok! Continua...
- Roberto, você mentiu. Partiu meu coração. Par-tiu meu co-ra-ção. Ih! Só tem seis.
- Põe o artigo...
- Ar-ti-go são três, dona Zuleica! Vai passar!
- Não, Helena! O artigo “o”!! Partiu O meu coração!
- O seu também, dona Zuleica?
- Não, Helena! Esse seu drama com o Roberto partiu foi com a minha paciência!! Vamos acabar logo com isso?!
- Já acabei, dona Zuleica! Já disse adeus...
- Ai, Helena! Tô falanto da trovinha... Vamos lá! Agora, tem que rimar com mentiu...
- Ah, tá!
“Roberto, você mentiu
Partiu o meu coração
Não sei pra que insistiu”
- Boa, Helena!!
- “Se eu já te disse adeus!”
- Não, Helena!!
- Por quê?
- Tem que rimar com coração...
- Ih, é! “Não quero você mais não!”
- É! Ficou feio, mas deu certinho!
- Ficou feio???
- Ficou... Esse último verso ficou... Com esse monte de “não”...
- Hum! Mudo?
- Você quem sabe...
- Tá! “Não quero apurrinhação”... Não! Passou! Pera! “Para de incomodação”... Passou de novo!
- Bom, Helena! Já vi que você entendeu... Vai tentando aí... quando tiver pronto, você me chama.
- Tá...
- Dona Zuleica, acabei...
- Certo! Lê para mim...
“Roberto, você mentiu
Dessa vez não tem volta
O meu amor tu traiu...”
- Argh!
- O que foi???
- Tu traiu, Helena??
- Não, dona Zuleica! Quem traiu foi ele!!
- Você já aprendeu conjugação, Helena! É tu traíste!!
- Mas aí não rima!!
- Helena!!
- Tá! Tá! Já volto!
- Vê agora, dona Zuleica...
“Roberto, pra que mentir?
Partiu o meu coração
Não adianta insistir
Desta vez não tem perdão”
- É! Ficou bom... Podia ter umas rimas mais ricas, mas...
- Ah, não! Vai dizer que tem injustiça social até na poesia??
- Não é bem isso, Helena...
- Eu sou pobre! Só posso fazer rima pobre, né?
- Nada disso, Helena! Machado de Assis era de origem humilde.
- Tá... Agora encasquetei! Vou fazer esse treco com a tal da rima rica. Assim que eu descobrir o que é.
- Rima rica é quando as palavras começam a rimar antes da vogal tônica e não têm a mesma classe gramatical...
- Viu??? Tem guerra de classes na gramática!
- Vai estudar, Helena! Tá tudo no seu livro.
- Tá... Depois eu volto...
- Helena!! Você dormiu aí, menina?
- Ai, dona Zuleica... Fiquei embatucando a tal da rima rica aqui e acho que cochilei...
- E escreveu?
- Não... Mas, sonhei com o Roberto.
- Ihhhhh!
- Ai, dona Zuleica... Se penso nesse cara, a saudade é danada, coração escancara. Não posso fazer nada!
- Como é?
- Tô com saudade dele, dona Zuleica! Pra quê negar?
- Não Helena! Repete o que você disse!
- Por quê?
- Você fez uma trova perfeita! Com rima rica e tudo:
“Se penso nesse cara
A saudade é danada
Coração escancara
Não posso fazer nada”
- Eita! É mesmo! Rima rica, nada! Rima milionária!
- Menos, Helena! Menos.
- Vou usar este, então...
- Mas neste você não disse adeus...
- E quem disse que eu quero?
- Helena!!
*****
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Disse Adeus
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/eudisseadeus.htm
- Dona Zuleica, me ajuda aqui?
- Ajudo... o que foi?
- Tô aprendendo trovas no supletivo.
- Ué? Agora vai trovoar? Já não basta o tanto que choveu pelo Roberto?
- Ai, dona Zuleica... Não brinca! Esse negócio é difícil!
- Bobagem, Helena! Vamos lá! Olha aí no teu livro...
- Tá aqui: Trova é um poema monstro... monostro...
- Monostrófico!
- Isso! E o que diabos é mo-nos-tró-fi-co?
- Tem uma estrofe só. Continua lendo, vai ficar mais claro.
- Trova é um poema monostrófico com quatro versos hepta... he-p-tas-sí-la-bos. Vixe! Danô-se!
- Não, Helena! É simples... A trova é um poeminha curtinho com só quatro linhas, cada uma tem até sete sílabas.
- E dadonde que a senhora leu isso aqui??
- Heptassílabo quer dizer que tem sete sílabas...
- Ah! E verso é linha?
- Isso.
- "Tendi"... E as rimas?
- Ah, sim! Tem que rimar a primeira linha com a terceira e a segunda com a quarta. Olhaí o exemplo...
- Eita! Bonito, né?
- É, sim! Pronto?
- Não! Agora é que a coisa complica.
- Por quê?
- Tenho que escrever uma.
- Ué! Tá fácil! Já conhece as regras... Sobre o que você quer falar?
- Ai! Quero falar de amor, igual a essa...
- Então vamos lá.
- Hummm! Tá! “Roberto você mentiu pra mim”...
- Opa! Já passou das sete sílabas...
- Ih! É!
- Tira o “pra mim” que dá certinho.
- Ro-ber-to vo-cê men-tiu! Oba! Deu!
- Ok! Continua...
- Roberto, você mentiu. Partiu meu coração. Par-tiu meu co-ra-ção. Ih! Só tem seis.
- Põe o artigo...
- Ar-ti-go são três, dona Zuleica! Vai passar!
- Não, Helena! O artigo “o”!! Partiu O meu coração!
- O seu também, dona Zuleica?
- Não, Helena! Esse seu drama com o Roberto partiu foi com a minha paciência!! Vamos acabar logo com isso?!
- Já acabei, dona Zuleica! Já disse adeus...
- Ai, Helena! Tô falanto da trovinha... Vamos lá! Agora, tem que rimar com mentiu...
- Ah, tá!
“Roberto, você mentiu
Partiu o meu coração
Não sei pra que insistiu”
- Boa, Helena!!
- “Se eu já te disse adeus!”
- Não, Helena!!
- Por quê?
- Tem que rimar com coração...
- Ih, é! “Não quero você mais não!”
- É! Ficou feio, mas deu certinho!
- Ficou feio???
- Ficou... Esse último verso ficou... Com esse monte de “não”...
- Hum! Mudo?
- Você quem sabe...
- Tá! “Não quero apurrinhação”... Não! Passou! Pera! “Para de incomodação”... Passou de novo!
- Bom, Helena! Já vi que você entendeu... Vai tentando aí... quando tiver pronto, você me chama.
- Tá...
- Dona Zuleica, acabei...
- Certo! Lê para mim...
“Roberto, você mentiu
Dessa vez não tem volta
O meu amor tu traiu...”
- Argh!
- O que foi???
- Tu traiu, Helena??
- Não, dona Zuleica! Quem traiu foi ele!!
- Você já aprendeu conjugação, Helena! É tu traíste!!
- Mas aí não rima!!
- Helena!!
- Tá! Tá! Já volto!
- Vê agora, dona Zuleica...
“Roberto, pra que mentir?
Partiu o meu coração
Não adianta insistir
Desta vez não tem perdão”
- É! Ficou bom... Podia ter umas rimas mais ricas, mas...
- Ah, não! Vai dizer que tem injustiça social até na poesia??
- Não é bem isso, Helena...
- Eu sou pobre! Só posso fazer rima pobre, né?
- Nada disso, Helena! Machado de Assis era de origem humilde.
- Tá... Agora encasquetei! Vou fazer esse treco com a tal da rima rica. Assim que eu descobrir o que é.
- Rima rica é quando as palavras começam a rimar antes da vogal tônica e não têm a mesma classe gramatical...
- Viu??? Tem guerra de classes na gramática!
- Vai estudar, Helena! Tá tudo no seu livro.
- Tá... Depois eu volto...
- Helena!! Você dormiu aí, menina?
- Ai, dona Zuleica... Fiquei embatucando a tal da rima rica aqui e acho que cochilei...
- E escreveu?
- Não... Mas, sonhei com o Roberto.
- Ihhhhh!
- Ai, dona Zuleica... Se penso nesse cara, a saudade é danada, coração escancara. Não posso fazer nada!
- Como é?
- Tô com saudade dele, dona Zuleica! Pra quê negar?
- Não Helena! Repete o que você disse!
- Por quê?
- Você fez uma trova perfeita! Com rima rica e tudo:
“Se penso nesse cara
A saudade é danada
Coração escancara
Não posso fazer nada”
- Eita! É mesmo! Rima rica, nada! Rima milionária!
- Menos, Helena! Menos.
- Vou usar este, então...
- Mas neste você não disse adeus...
- E quem disse que eu quero?
- Helena!!
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Disse Adeus
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