Dói, eu sei que dói... e muito!

Um tarde destas, passei por uma pessoa amiga, que já não via há algum tempo. O papo rolou muito bem até que senti que o olhar de Joanna denunciava uma tristeza profunda, ainda que um sorriso de "tudo bem" insistisse em disfarçar. Respeitei o momento, mas num silencio oportuno, mandei: "Dói!". A amiga olhou meio que assustada e antes de que me respondesse continuei: "Eu sei que dói! e dói pra cacete!". Joanna continuou me olhando até que finalmente desabou num choro.

Chorou, chorou, chorou e eu fiquei alí, parado, contemplando aquele sincero desabafo.

Não marquei tempo. Esperei com paciência até a última lágrima. Ajudei-a a se recompor. Com um beijo me disse "obrigada" e se foi.

Por mais um tempo continuei naquele ambiente de encontros pensando o que é realmente ser humano. Seria viver uma vida sem problemas? ter uma situação financeira privilegiada? ou mais um monte de coisas que classificamos como relevantes? Acho que não. Ser humano é construir a vida e regar as plantas que representam vida, mas que esperam o tempo e a boa estação para dar seus frutos, ainda que haja seca. Ser humano é rejeitar os atalhos e assumir o caminho como escolha e viver cada estação com a coragem de ser humano e chorar para regar as sementes de algo novo que surgirá.

Ser humano é ser e não ter ou estar.

Nunca soube o que causara a dor de minha amiga. Porém, aprendi uma importante lição: Ao permitir que ela fosse ela mesma, também me encontrei além dos meus disfarces.

Joanna só precisava chorar. E eu, só estar ali com ela.