18. La Feltrinelli
La Feltrinelli, Libre e Musica fica no largo di Torre Argentina. No regresso a pé do Vaticano à praça de Veneza, entrando simplesmente por entrar, como entrei em outras lojas e livrarias, sem permanecer muito tempo em cada uma delas, na La Feltrinelli passei três horas saborosamente sossegadas.
Fazendo o que?
Lendo aqui e ali obras expostas para venda, que acabei por não comprar, escrevendo crónicas no meu portátil, ouvindo música, procurando filmes, comendo e bebendo.
A Feltrinelli ocupa um enorme espaço e é grande sem ser gigantesca. Mas é sedutora.
E, além disso, isso ficará na minha boa memória, por me ter rido da aspereza da vida. Conto: não sei bem o que me deu ou não me deu ao certo, pensando melhor até sou capaz de saber, a vida, em todo o caso não deve ser levada tão a sério, seja como for desatei a rir alto como se me tivessem contado uma das boas anedotas do Bocage.
Chorei de tanto rir, as pessoas por perto, olharam para mim, primeiro sem saber o que fazer, depois, riram comigo: pensei numa história vagamente semelhante de Ítalo Calvino e ri mais e eles riram outro tanto.
Que se passa? Perguntaram. Levantei os braços: la vita!
Tudo isto, acabei por me lembrar, por em tempos idos, aí por alturas do primeiro soco, ter tido um projecto de café livraria aprovado, sonho benemérito que obviamente ruiu com estrondo como primeira consequência do primeiro soco.
Senti-me tão à-vontade na Feltrinelli, que tenciono lá ir amanhã antes de tomar o comboio de regresso a Bercy. Além do mais, o café é bom e só custa um euro e quero ainda reler em italiano em voz alta num canto do café um trecho da Divina Comédia.
Isto só acontece a mim.
Roma, 9 de Julho de 2010