QUE MARIDÃO!

No dia das mães? Um rodo emborrachado. No dia dos namorados? Enxadãozinho pra cavar jardim. No aniversário? Uma panela mil e uma utilidades. No natal? Lixeiras inox pra todos os banheiros e pia da cozinha.

Tudo bem. Ela tinha engolido até agora. Mas lixeiras não ia suportar! Que desaforo! Ele pensava o quê? Sentiu-se também meio lixo. Atirou a reluzente lixeira bem na cara dele

_Escuta, Sérgio Murilo! Seu baranga, cê não entende nada de mulher, viu? Panaca! Esdrúxulo, insolente, canalha, cafajeste, pilantra, crápula, miserável, energúmeno...

_Virgininha, por favor!

_ Virgininha, por favor, né? Seu... seu... _ entre lágrimas, lembrou um adjetivo pra lá de chique, lido em Romeu e Julieta _ seu pária! Pária, pária! Isso é o que você é, tá? Ai, que ódio!

_Virgínia Paula, chega!

Totalmente ofendido e injustiçado, ele sacou do bolso sua cadernetinha de anotações. Estava tudo lá! Registradinho, com data e tudo. Sonhos do meu amor:

Dia 05 de dezembro “sonho ter um rodo emborrachado”.

Dia 09 de fevereiro “sonho ter um enxadãozinho pra cavar jardim”.

Dia 04 de julho “sonho ter uma panela mil e uma utilidades”.

Dia 11 de outubro “sonho com lixeiras inox pros banheiros e pia”.

Pois é, Sérgio Murilo era sim, um maridão muito apaixonado e atento aos desejos da mulher. Virgínia Paula? Ah, essa andava meio modesta e distraída ao sonhar...