Crônica da Copa, crônica da vida.
Esta última copa do mundo serviu para confirmar aquilo que sempre tive como certo: uma partida de futebol é o microcosmo da vida em sociedade; é a síntese do que desenrola no dia-a-dia, em todos os aspectos das relações humanas que se queira comparar. É impressionante como, dentro das quatro linhas, durante o jogo, a vida se desenha como ela é nas coisas do mundo; como os sucessivos acontecimentos no vai-e-vem da bola retrata fielmente a totalidade dos fenômenos da produção social humana. Num jogo de copa do mundo isso é mais nítido ainda, porque este evento super-dimensiona os acontecimentos. Nenhum lance é banal, tudo entre para estatísticas, vira clássico, será visto e lembrado pelo futuro afora sempre que o assunto for pertinente. O maior frango, a melhor defesa, quem correu mais, o melhor lançamento. Enfim, detalhes que passariam despercebidos num jogo de qualquer outro campeonato, na copa é visto com toda nitidez.
E esta copa foi de muitas novidades: quebra de tabus e de preconceitos; quebra de hegemonias política, econômica e de títulos mundiais. A quebra da hegemonia dos títulos foi a mais interessante; poucos países detinham os dezoito títulos da copa do mundo de futebol disputados até hoje. Eu, como torcedor, gostaria que o Brasil ganhasse todas, mas é bom para o futebol que o clube dos campeões se alargue; cria mais equilíbrio e melhores expectativas para as próximas disputas.
Uma partida de futebol nos possibilita observar as nuances de erros e acertos, que podemos estender, como análise reflexiva, para todas as esferas e campos da vida. A começar pelo caráter de atuação em equipe: assim como no jogo, em qualquer outro campo da vida ninguém faz nada sozinho; somos mais dependentes do que podemos imaginar. Repare que, no desenrolar da partida, há uma sucessão de erros e acertos e as diferenças entre os melhores e os piores, perdedores e vencedores, geralmente são ínfimas, nos mínimos detalhes. Pois na vida também é assim:
Um bom time se faz com as pessoas certas nos lugares certos, com a correta distribuição das qualidades e dos talentos. No gol, na zaga, meio de campo, laterais, volantes; e mesmo nestas posições ainda existem subdivisões: alguns goleiros e zagueiros têm qualidades particulares para fazer jogadas de ataque, como cobrança de faltas, de pênaltis, para cabecear, etc; laterais que defendem, que avançam; meio-de-campo que armam jogadas, lentos, rápidos, que têm habilidades para lançamento; atacantes que sabem marcar, servir, que são rápidos, habilidosos. Enfim, há particularidades em cada um, talentos natos, que, corretamente distribuídos, formam o time ideal.
Assim é também nos campos da vida; ninguém reúne todas as qualidades, ninguém é auto-suficiente em todos os desafios. Os erros acontecem, até mesmo com os melhores, e os “piores” podem oferecer mais. Não desanimemos com os pequenos percalços de todos os dias, temos que procurar corrigi-los acreditar sempre que é possível a vitória, atingir os objetivos, mesmo diante de adversidades que aparentam maior que a gente.
O negócio é matar a bola no peito, baixar na terra e chutar pro gol.
Principalmente as bolas chamadas OPORTUNIDADE.