Solidão

Assisti a uma reportagem em que um escritor disse que para ler é preciso solidão. E que a leitura requer silêncio para concentração.

De fato. Para penetrar no mundo descrito em palavras, é preciso que o ambiente não atrapalhe a fusão obra-leitor. Mas tem muita gente que lê em movimento, com música, barulho de todo tipo, conversas paralelas, interrupções. Como é o aproveitamento, eu já não sei.

Lembrei que para escrever também é preciso silêncio e concentração. Eu escrevo mais nos momentos de solidão. É na solidão que a gente se encontra com a gente mesmo. Mais ninguém. Somos quem somos, sem fingimento ou manipulação. Uma vez ouvi que é quando estamos sós que a nossa verdadeira identidade se manifesta.

E o texto é uma parte de nós. A solidão faz com que a gente se concentre na gente mesmo e dê voz às palavras que sempre existiram lá dentro, caladas, solitárias.

Quando sinto solidão, busco a companhia das palavras. E quando elas nascem, fico feliz e pronto para realizar outra tarefa. Porque é preciso buscar um antídoto. A solidão enlouquece, obscurece a razão, nos faz enxergar fantasmas. Solidão maior é aquela que sinto quando me perco dentro de mim. E as palavras me guiam, me iluminam, me trazem de volta ao caminho da tranquilidade de sentimento e serenidade de pensamento.

“Solidão” lembra escuridão, coisa ruim. Mas nem sempre. A pior solidão é aquela que a gente sente em meio a uma multidão de pessoas. E isso só acontece quando a gente não encontra a gente mesmo, quando a gente está perdido dentro da gente mesmo. Goethe disse: “Tudo nos falta quando faltamos a nós próprios.”

Quem está feliz, vive uma solidão alegre, produtiva. E neste caso, a palavra “solidão” me lembra algo “sólido”, muito sólido, no aumentativo – “solidão”. Quem resiste e é feliz, estando só ou acompanhado, é forte, é “solidão”.

(S. J. Rio Preto, 17/10/2010)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 27/10/2010
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