Já são duas horas da tarde

Já são duas horas da tarde – e ainda estou fora da cena. Largar o drama, o cigarro, o álcool – quase minha essência dá nisso, sai tão rapidamente que nem sei como se deu. Acho que no final das contas apenas fui substituída, como as coisas sempre são.

A vida segue seu rumo tão naturalmente, que se torna estranho até eu reclamar a ausência, sinto-a quase como posse, relembro como memória os dias de glória. As marcas no meu cotidiano ainda são tão profundas, quanto as minhas olheiras. Quero voltar, apesar de não dever.

A alma e a persona falastrona que dividem o meu corpo andam se esbarrando, a calma e a solidão tem andado de mãos dadas, carências à parte, tenho sentido falta até das manhãs frias. Mas ando seguindo o conselho que eu dei a ele na despedida, apenas que fosse feliz, e em pleno corte eu quase acreditei que eu também seria. Não digo que sinta a falta, supri a ausência com uma receita antiga, permeada a base do descompromisso.

Caminho perigoso e antagônico, o deixei pela necessidade de mais, e hoje vivo com muito menos. E para que tentar entender o que se passa? Caminhos loucos estes que permeiam meus lençóis. E quem vai finalmente entender minhas necessidades? Só sei que o silêncio me machucava e hoje ainda reclamo da solidão que se deu por falta de cuidado. E o pior que nem sei se sente culpa ou saudades das manhãs de sábado. Sinto saudades mas não me arrependo. E chega a diferença – retiro meu personagem, para caso volte, voltar inteiro.