No Morro tem muito mais do que Tráfico e Funck
Ontem eu recebi um comentário, que, aliás, apaguei, repreendendo-me sobre a minha opinião a respeito do funck! Ela chamou-me de radical, de insensível à realidade das pessoas que “funckeiam”. Disse-me que a realidade deles é essa, que na favela ninguém tem a oportunidade de crescer ouvindo Caetano, Djavan, Bach, Beethoven ou Mozart (acho que ela nem citou todos esses, mas vamos lá). Falou-me também que lá no morro, ou eles cantam funck ou vão traficar, que não tem opções, que bom gosto é só pra rico, pra burguês e pediu, no final, que eu pensasse muito bem nisso e que não me ofendesse.
Agora, dou-me o direito a replicar as palavras acima (em clima eleitoral!). Eu digo-lhe que nos morros (favelas) encontraremos uma cultura riquíssima, que se estende muito além de um funck inspirado na vida sexual de algum traficante! Isso mesmo! Será que essa moça (ou senhora) nunca ouviu o refrão de um Samba sensacional, cantado pela “nossa” Marrom (Alcione visse?): “... não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar, o morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar”... Imagino mesmo que não. Será que ela nunca ouviu falar de “um sambista”, denominado “Zeca Pagodinho”, que nasceu, cresceu, casou, amadureceu e construiu numa favela (Xerém - RJ, exatamente). E eu juro pra ela: ele não é funckeiro e muito menos traficante. Foi pobre, favelado, mas o bom gosto nasceu com ele.
Será também, que a tal “comentarista” conhece um dos maiores tenores da atualidade (e eu estou falando a nível mundial), o Rinaldo Viana? Este rapaz, minha cara "defensora dos funckeiros pobres e oprimidos", nasceu na periferia de São Paulo, era assistente de mecânico (não de traficante), foi à pé até o “Programa” do Raul Gil, para fazer, enfim, sua primeira aparição pública, por que não tinha dinheiro pro ônibus. Bendita sola de sapato, bendito bom gosto!
Incrível né, mas eu poderia ficar aqui um tempão ainda citando nomes e personalidades que saíram dos confins de alguma favela e não são funckeiros nem traficantes! Mas acho que os exemplos supramencionados já são suficientemente argumentativos à minha réplica.
Ah, e ainda em tempo, eu não me ofendi de maneira alguma com as suas palavras, "querida comentarista”, até porque o número da carapuça era bastante diferente do meu, e tenho dito!
E resta-me agora saber de quem será a tréplica!