Paul, o polvo, morreu. Mas, Lusco, o nosso molusco, está bem e vivo.
Paul, o polvo, morreu. Mas, Lusco, o nosso molusco, está bem e vivo.
Paul, o simpático polvo do áquario do "Sea World", de Oberheim, Alemenha, que se notabilizou pela adivinhação do resultado dos jogos da Copa do Mundo, bateu com as oito. E o mundo inteiro sentiu e, manifestou pesar.
Diziam que Paul adivinhava. Nada! Apenas escolhia sempre a caixinha da direita de seu aquário, na hora de escolher qual a primeira porção de ração que devoraria. Bom malandro e, palpiteiro era seu tratador, que punha as bandeirinhas das seleções nas caixinhas que mergulha dentro da vivenda de Paul.
Mas, não se pode negar - ele era muito simpático, elegante e charmoso, em seu silêncio profundo e seus movimentos molóides e leves, subindo, descendo ou, se deslocando pelo exíguo espaço em que podia se mexer.
Paul vai deixar saudades. Mas, nós brasileiros, poderemos mitigar a lembrança de Paul, na figura de Lusco. Lusco? Uai, o Lusco...
Existe um molusco, muito conhecido no Brasil, brejeiro, e malandro (não é que bicho vive fora d'água tranquilamente?), chamado Lusco, que desperta a simpatia de muita gente e, que tendo um bico cartilaginoso embaixo das tenazes, acabou adquirindo características próprias dos psitacídeos e, fala.
E, como fala! Às vezes parece inacreditável que certas palavras tenham saído de sua boca, digo, bico, mas o fato é, que elas, de um modo ou de outro, estão em acordo com o jeito folgado de Lusco, nosso tipo nacional de molusco.
Em vez de advinho, prefere ser palpiteiro - e, como palpita. Lhe é indiferente que fale da vida e do mundo dos elefantes e savanas, de ursos e climas polares, ou de águas turvas, pântanos, lambaris, traíras e, tucunarés - tudo lhe é apreensível nas tenazes de sua mente volatizada pela água mineral na qual costuma mergulhar, para se amenizar do clima ou, gozar seus dias de fama (que ele é famoso pra dedéu!).
Mas, o melhor do molusco em questão, é a sua generosidade. Ô! É capaz de quebrar todas as grades, cancelas e, paredes da "caixa da sorte" - onde o colocaram já faz oito anos, usando as potentes ventosas de suas tenazes, para permitir que outros animais de seu nicho possam, tanto quanto ele, comer da mais pura e tenra ração, depositada num cantinho especial e, bem guardado.
Para chegar ao alimento, existe um labirinto muito bem urdido. Mas sem problemas, que existem animais especializados guiar outros animais pelo labirinto.
E, deixando que toda a animália de seu nicho se alimente (lambarís, ratos, traíras, fuinhas, raposas e, tubarões, em perfeita comunhão ou, pelo menos, articulação), ele mostra toda a sua generosidade.
Uns tipos, digo, bichos, chegam mais depressa, outros mais devagar, uns pegam mais e outros muito mais, dependendo da estratégia. Uns nem vão até lá. Ele manda entregar, nos sindicatos e ONGs dos bichos, com depósito em conta corrente e, comodidades do gênero..
E o Lusco é tão simpático que, às vezes, estendem a simpatia que lhe tem à sua prole, colocando na caixinhas de seu filhote primogênito, uma generosa porção de ração, visando talvez, garantir a sua sobrevivência e, a sua importante descendência.
É assim o nosso Lusco. Em poucos dias, entretanto, será obrigado a tirar férias. O tempo de usar a "caixa da sorte", depois de renovado o tempo inicial. E ele, coitado!, já dá sinais de saudades e, irritação com as férias compulsórias. Mas, como não poderia se sentir assim? A caixa em que vive parece ter sido feita especialmente para ele!
Vai daí, que ele inventou um estratagema para tentar voltar depois das férias compulsórias. Resolveu indicar um bicho, já que ele imagina que suas férias vão durar pouco tempo. E entre as escolhas possíveis - o pote da bandeira azul e, o pote da bandeira vermelha, espera que escolham o bichinho que ele indicou.
E qual foi a escolha do molusco? Uma tartaruga. Sim!, uma tartaruga. Uma tartaruga que está em cima de um poste.
Por esses dias, sob olhares e holofotes, ela também parece quase tão simpática quanto Lusco - ela acena, parece sorrir, faz discurso e muitas promessas - todas vinculadas à possibilidade de que seja tirada da ponta do poste e colocada no chão. Mas, quem é do ramo, recomenda cuidados. Dependendo do que ocorrer, dizem, volta ao "normal". Tipo assim, gritaria, murro na tina de comida - isto para não falar da nomeação de barracudas e, enguias amigas, para cargos de ajudantes...
Como foi parar lá, ninguém sabe, nem explica. Mas, ela à candidata indicada pelo molusco para ocupar a "caixa da sorte", em seu lugar...
Paul era simpático. Mas, ele bateu com as oito. Foi pranteado pelo mundo, e não há o que fazer, pois passou desta para a melhor.
Nós, porém, temos um tipo mais interessante de molusco - o Lusco. Está bem de saúde e, já garantiu para si, sua descendência e, a bicharada eclética que o cercava uma porção inesgotável e, eterna (quer dizer, mais ou menos), de ração, depois que sair da "caixa da sorte".
Ninguém se preoucupe. Ele vai continuar bonachão, falante e, palpiteiro. Ô! De férias, vai nadar de braçadas. Vai falar (e palpitar) pra carvalho!...
Que a alma aquática de Paul, o polvo, descanse em paz. E quanto a Lusco, o polvo esperto, falante, generoso com os amigos e chegado numa água mineral, não se preocupem - nada indica que não vá gozar muito bem suas férias e, que lhe venha a faltar algum dia, amigos e ração - até porque, em seu caso, uma coisa está ligada à outra...