Bullying

Tímida, às vezes calada, às vezes moleca... devoradora de amores baratos: Júlia, Bianca, Sabrina... outros mais... Sempre o melhor esconderijo.

Enfiava-me nos livros na tentativa de me proteger dos ataques. Os tanques de guerra estavam por todo lado. Colegas, colegas dos colegas, desafetos. Ataques sempre devastadores: Bruxa, cabelo de fogo, pixaim... puxões, empurrões, desaforos... Dia após dia. Nunca faltava munição.

Para os adultos brincadeira de criança, para mim tiros certeiros.

Quase sempre conseguia segurar as lágrimas... mas o coração sangrava continuamente. O semblante fechado era uma armadura. Sofrimento solitário.

Viajar na imaginação. Dormir soluçando. Acordar para mais uma batalha.

A escola era o campo onde se reunia a maior quantidade de soldados, mas os piores ataques aconteciam no percurso até em casa. A sirene era o prelúdio dos insultos.

O portão se abria, saía a passos firmes e diante da igreja, sem parar, clamava por Deus. Fé de menina. Mais um refúgio.

Os apelidos eram em alto e bom som. Humilhação horizontal e vertical. Credo em Cruz!!! A vergonha é um sentimento por demais doloroso. Vontade de morrer rápido e sem dor, mas o terror da tortura é morrer aos poucos, de pés e mãos atadas.

Como em toda guerra, algumas batalhas são mais intensas e devastadoras do que outras. E dessa vez tinham levado uma foto de infância, que passava de mão em mão entre conhecidos e desconhecidos. Risos, piadas, comparações maldosas... Meu rosto estava no retrato, mas minhas mãos nunca conseguiam alcançá-lo. Dor, confusão, desespero, vergonha, vergonha, vergonha... Quem me dera poder simplesmente desaparecer.

Sirene. Alívio? Amargo engano. Os covardes ainda não tinham terminado. Queriam me ver sangrar!

Corrida desesperada... Seguiam-me sedentos, impiedosos, escandalosos.

Insultos ferindo os ouvidos, lágrimas arranhando os olhos. Corri tanto quanto podia, abri o portão e me dei por vencida.

Enfim estava em casa! O ar me faltava, estava engasgada. Meu peito parecia que ia explodir... Sentia a garganta queimar...

Minha mãe veio correndo. Os vizinhos, assustados, plantados nos portões.

Os gritos saíam contínuos, longos, agudos... Estava entorpecida!

Apenas angustia num transbordar incontrolável...

Escutava a voz de minha mãe ao longe quando de repente comecei a ouvi-los. Meus próprios gritos rasgando minha garganta....

Aos poucos fui me sentindo estranhamente vazia e cansada. Os gritos foram cessando... E no fim... restaram apenas lágrimas quentes, grossas, salgadas... Minha mãe me levou para dentro sem pedir explicações... Arrumamos a mochila e fomos dar uma volta.

Não me lembro quando tudo isso acabou, mas enfim... acabou.

Cristiane Muniz
Enviado por Cristiane Muniz em 27/10/2010
Reeditado em 16/10/2015
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