DÁ PRA ENTENDER?
 
 

Existe uma indagação, não feita por mim, mas por Artur da Távola, que bem me cabe: “Se tudo é paz, por que estou inquieto”. Penso nisto enquanto me penitencio ouvindo o tedioso Réquiem do compositor e organista Gabriel Fauré (1888).


De fato, feito o Artur, ao meu redor, também reina tranqüilidade, paz e harmonia, mas por vezes me incomoda a ponto de impedir que usufrua em toda a sua plenitude dessa tranqüilidade, dessa paz e dessa harmonia que me circundam.

 
É sabido que o homem é um bicho meio complicado... A propósito, li um artigo escrito pela psicóloga e psicanalista Viviane Mosé,  sob o titulo “Um Nenhum”, que me foi enviado gentilmente pela escritora Norma Suely Fachinetti, onde é sustentado que
Todo homem constitui-se na tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer. Mas, por razões extensas e difíceis, a história humana parece ter se ordenado em torno da vontade de não ser.

E nessa vontade de não ser, é opinião da Viviane, que é assim que se comporta o homem:  
Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem. Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo.

Assim, feito um substantivo vou caminhando com essa minha inquietude um tanto desajustada  cercada de paz, amor e tranqüilidade por todos os lados.


Dá pra entender?

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 26/10/2010
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