Equação do atraso

Na sua mais estúpida expressão, a política deixa rastros de ódio e incivilidade. A tal “festa da democracia” está mais para circo dos horrores, com suas picuinhas e rivalidades idiotas contaminando o povão que de nada sabe. Sem instrução, serve apenas de massa de manobra para políticos profissionais, carreiristas corruptos.

Para se ter uma ideia do nível de mentalidade dos patrícios, na minha terra, Itabaiana, as pessoas saem pelas ruas com um crucifixo numa mão e uma garrafa de cachaça na outra, exorcizando determinado candidato e enchendo os quibas em louvor ao rival. Vizinhos deixam de se falar, e quando conversam é pra trocar insultos. As ofensas são pessoais mesmo. A rivalidade política inconsequente já é tradição. Nas campanhas, os dois cordões saem às ruas com suas passeatas amalucadas, tomando como deliberação importunar o sossego público com gritarias, bebedeira, som altíssimo e músicas de baixíssimo nível.

No último sábado, 23 de outubro, os dois cordões realizaram suas passeatas. Na mesma data, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar fez entrega de diplomas e certificados, culminando com apresentação teatral do Grupo Xudu, de São José dos Ramos. O evento aconteceu na Câmara de Vereadores, onde o vereador Ubiratan Correia de Melo foi homenageado pela Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba. Nenhum dos seus colegas esteve lá para prestigiar o ato. Estavam nas passeatas. A prefeita também não deu o ar de sua graça, passeando que estava com seus eleitores fiéis. O Secretário de Cultura foi para a passeata do 40 e o Subsecretário resolveu aderir à passeata do 15. Daí que aparece a equação do atraso: 40 + 15 = 55. E 5,5 é o Índice de Desenvolvimento Humano da cidade, no quesito educação. O Índice de Desenvolvimento Humano é uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e expectativa de vida ao nascer. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população. Nossos índices são comparáveis aos das nações mais atrasadas do mundo.

A terra de Erasmo Souto Camilo e de Vladimir Carvalho precisa urgentemente de um choque de civilidade. Estamos perigosamente à beira do abismo da barbárie.

Na contramão dessa falta de desprendimento dos entes públicos para com a cultura, a prefeita Cida Amorim, de São José dos Ramos, esteve no evento, para prestigiar os jovens do teatro. Ela se destaca na região pelo respeito que demonstra com a criação intelectual e artística do seu povo, fazendo sua parte na preservação das tradições. Lembro de uma roda de exposição de arte popular do mamulengo promovida pelo Ministério da Cultura em João Pessoa. O mestre Inaldo de São José dos Ramos foi destaque na apresentação. A prefeita Cida Amorim estava lá para prestigiar seu artista. Aliás, foi a única que teve essa atitude. Da mesma forma, vai onde for o pessoal da dança, os jovens do teatro e os talentosos aboiadores de sua terra. Com esse apoio, os artistas de São José dos Ramos ficam cada vez mais orgulhosos e mais conscientes do seu valor.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 26/10/2010
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