Boa a vista dele, do São João.

Hoje, por volta das duas e meia da tarde, eu estava na rodoviária de uma cidade do interior, esperando o ônibus de volta para a minha cidade, também interior. Eu havia ido lá, nesta cidade, em nome de prazer e de negócios, mas, na verdade, mais de prazer, que de negócios. Conhecê-la e o tudo de bom que falavam dela, era o plano. Praça bonita, comércio idem, gente simpática e, pra lá e pra cá, fomos indo.

- “Olha, Bem, um cinema e tá aberto.” Não tinha reparado e olha que o cinema era grande.

- Mas ver filme agora? Vamos aproveitar aquela casa de material de construção que o cara indicou. Precisamos de massa acrílica pro muro, antes da segunda mão na pintura.

Passei duas vezes em frente a tal da casa e só a notei na terceira. Sei lá por quê, parecia outra coisa, mas não material de construção. Comprei a massa e, depois, fomos almoçar. Demos um tempo na praça principal, “olhando” o movimento das pessoas. O aspas no olhando é meu, pois nessa coisa de olhar, Fátima olha bem mais que eu. Isso de olhar é mesmo estranho comigo. Às vezes olho, mas não vejo, como se não quisesse ver. Noutras eu olho e vejo o que não há ali, no que se vê.

Passeio terminado, fomos à rodoviária, comprar as passagens de volta. Chegamos lá às duas horas. O horário de saída do próximo ônibus? Ah, só às três e quinze. Fomos até a lanchonete. Eu tomei um café, ela, um copo d’água e um sorvete. Saímos sem pagar. É, sem pagar. Isso porque é Fátima que paga as coisas e ela, pra variar, esqueceu. Sempre paga, mas, às vezes, só se lembra depois. Por educação, a moça não foi nos cobrar.

-Bem, você pagou a mulher?

-“Nossa, amor, eu esqueci”.

Lá fomos nós de volta à lanchonete, pedir perdão à moça e pagá-la. Feliz, ela deu ampla margem a um bom papo, tudo que precisávamos para passar o tempo, até sair dali, no ônibus. Conversa vai, conversa vem, notei duas pobres plantas, ladeando o balcão, com o solo todo esturricado. E mesmo que a aparência delas fosse boa, tomei as suas dores, pedindo uma jarra d’agua à moça.

-Nossa, o senhor deve estar com muita sede.

-Não, é para as plantas. Respondi.

-Mas elas são artificiais. Disse a jovem, sorrindo.

Eu, meio sem jeito, com aquele jarro d’água na mão, fiz o que pude pra sair com classe da situação. Lembrei à moça do nome da cidade, da cidade dela. São João da Boa Vista. Boa a vista dele, do São João, pois a minha deixou a desejar. Ela sorriu de modo sincero. Mas riu mais, quando disse a ela que iria se lembrar de nós, um casal cujo homem pede pra regar uma planta de plástico e a mulher que sai sem pagar. Sofia é o nome da moça, bonito nome, aliás. Muito educada a menina. Sei lá se lembrará de nós, mas, com certeza, dela iremos lembrar.

Dassault Breguet
Enviado por Dassault Breguet em 25/10/2010
Reeditado em 26/10/2010
Código do texto: T2578437