NÓS, PREDADORES DE NÓS

Não é o primeiro texto que inicio com a citação daquele velho ditado de que tanto gosto:"O HOMEM É O LOBO DO HOMEM".

Verdade seja dita, este dito popular não apenas se refere à predação do HOMEM no que tange às suas potenciais traiçoeiras relações humanas, mas aqui eu o extrapolo para a própria predação do Homem ao seu próprio meio ambiente, que infelizmente tanto tem se acelerado nos últimos tempos, a destruir dramaticamente o nosso habitat.

Na cadeia ecológica alimentar, todas as espécie se respeitam na logística de ascensão natural, apenas nós, o famigerado Homem, dotado de consciência insana, além de desrespeitar a si e ao seu "próximo", também destrói a natureza que lhe dá a sustentação da vida.

E tudo isso para ilustrar duas chamadas ecológicas que me ocorreram recentemente, uma das quais consegui fotografar para mostrar minha indignação.

Pelas ruas duma cidade serrana, os carros se agitavam no burburinho das ruas quando visualizei um Bem- te- Vi, praticamente "aculturado " ao Homem tentando atravessar de cá para lá.

Impressionante: O passarinho se postou no meio dos carros, driblou todas as rodas sobre o asfalto como se não mais tivesse asas, e parecia sofregamente pedir licença para retomar o seu lugar que lhe fora roubado pela incivilizada civilização Humana.

Aquilo me impressionou, porque percebi o passarinho "urbanizado", já sem os reflexos mais ariscos próprios dos pássaros das matas.

Como se atrapalhou no asfalto, voltou para a calçada e seguiu de patas no chão, frustrado, a catar suas migalhas de alimento, e sequer se incomodou quando dele cheguei bem pertinho para fotografá-lo na sua saga ecológica.

Aquilo era a consumação simbólica do quanto predamos.

E foi pensando nesse fato que, outro dia, ouvi um barulhão de bate-estacas pela mata dum parque, já um tanto acostumada com o ruído das betoneiras da construção civil do entorno.

Imediatamente me veio a mente a história do Bem te Vi urbanizado.

Pensei: "mais um ato predador da mata que soa por aqui".

E conforme eu me aproximava o barulho aumentava, um som forte de batuque em madeira oca. Nunca tinha ouvido algo acusticamente parecido...

Parei para conseguir identificar o que era, donde vinha aquela barulheira toda.

Eis que era um legítimo operário da mata, elegantemente penteado com um topete fashion vermelho, tipo "moicano", que bicava a madeira lá no alto com o primor dum mestre de obras.

Ao me perceber largou seu árduo trabalho e sobrevoou a mata com a astúcia dum Puma. Senti que o incomodei.

Aquele pequeno Pica -Pau já é uma raridade aqui pelo parque.

Imediatamente pensei na má sorte daquele Bem- te -Vi que já não consegue cantar, ofuscado e sufocado pelos motores lá do alto da serra, que roubaram seu habitat.

Que pena.

Foi então que deduzi minha triste hipótese: O Homem não é tão somente o lobo do Homem.

É uma rara espécie animal, que cegamente trabalha contra si mesmo.

Nota da autora:

Em homenagem à Natureza a quem aprendi a apreciar,amar e respeitar.

Já ao Homem...nem tanto.