Crônicas da nova era - III - Fundamentos de economia da nova era

Existem duas coisas muito diferenciadas: o preço de uma mercadoria, e o seu custo.

Muitos produtos que compramos tem custo de produção baixíssimo apesar de alto preço, isso se deve ao fato de que o preço é arbitrário, enquanto o custo de quase todas as coisas vem sendo reduzido ao longo do tempo em decorrência da mecanização. Inúmeros produtos são confeccionados hoje de um modo inteiramente mecânico, isso significa que um número muito reduzido de horas de trabalho é suficiente para produzir uma infinidade de bens, de modo que o custo de cada unidade torna-se baixíssimo, ínfimo de fato.

Se averiguarmos o conjunto de itens que vestimos nesse momento, perceberemos que, provavelmente, cada um deles foi produzido em segundos por funcionários usando máquinas poderosíssimas. Utilizando esse ferramental, um funcionário que recebe, digamos, mil reais por mês e produz de mil peças nesse tempo, investe, dessa maneira, apenas dez centavos na produção de cada item, sendo o seu valor real apenas um pouco maior que esse, embora os mesmos objetos possam ser vendidos por centenas de reais nas lojas.

O significado disso é que a manutenção de um indivíduo contemporâneo, ou seja a soma dos custos de todos os itens necessários a sua sobrevivência é muito baixa. Munidos das máquinas apropriadas, um conjunto de funcionários é capaz de prover todos os bens necessários à vida de milhões de indivíduos.

Isso resulta no fato de que uma infinidade de indivíduos estará alijada da produção, não conseguirá obter emprego, simplesmente porque poucos indivíduos conseguem produzir tudo o que é necessário, e esse número se reduz a cada dia em decorrência de mais mecanização.

Mas, longe de ser uma tragédia, tal fato deve ser visto como uma dádiva, desde que, de algum modo, essa vastíssima produção seja distribuída entre todos.

Se cada indivíduo dedicar alguns meses de sua vida à produção de bens utilizando as máquinas atuais, em conjunto, todos produzirão a quantidade suficiente para a sobrevivência de todos, e depois desses poucos meses de labuta útil e organizada, estarão libertos e aptos a viver uma vida livre e digna, desfrutando todos os prazeres humanos advindo das artes, dos esportes e de toda a cultura.

Desse modo, a libertação do homem contemporâneo, o fim dos grilhões, terá um custo baixíssimo e significará para muitos um futuro esplendoroso.

Note que a mecanização de toda a produção se acentua a cada dia tornando desnecessário o trabalho de cada vez mais pessoas, portanto, as alternativas a essa utopia são péssimas:

1) A mecanização pode simplesmente acarretar a demissão dos funcionários inúteis, isso acarreta a redução da massa salarial total (já que muitos, demitidos, deixam de receber) e consequentemente a redução do consumo total, gerando ainda mais demissões para alimentar a bola de neve.

2) Mantém-se o emprego de funcionários inúteis apenas para não jogá-los na miséria. Trata-se de uma falsa caridade, os que apregoam tal solução desejam manter a população agrilhoada apesar da inutilidade de tal providência, trata-se de mera maldade.

3) Criam-se dois mundos: o mundo e o submundo. O mundo, povoado por senhores e feitores desfruta todas as maravilhas advindas da tecnologia, e exclui uma multidão vivente em um submundo que assiste extasiada o espetáculo fútil da vida dos senhores durante seus momentos de descanso entre uma aguilhoada e outra.

É só em nome da crueldade que poderemos pleitear qualquer das três alternativas desumanas aventadas.

Mas é em nome da humanidade que devemos não apenas sonhar, mas lutar par que uma utopia tão próxima quanto frutífera venha a iluminar as nossas vidas, o nosso mundo, em um futuro iminente!