Boneca de lata.
A desagradava aquele percurso nítido em meio à multidão. Olhava o rosto dele vindo de longe, que com carinho lhe fitava. Mas a moldura que via em sua mente do quadro que iria surgir nos próximos minutos era de vidro e corte, sangramento e dor.
Ele sentou com ela na porta de um botequim qualquer já fechado. Ela apertou as pontas do casaco contra o peito, acendeu seu cigarro e sorriu, olhando para ele.
- Que foi? - Ele perguntou.
E ela pediu:
- Deixa eu ser tua amiga?
Ele deu uma alta gargalhada e a beijou ligeiramente.
- Mas que bobagem, nós já somos amigos, somos mais que amigos!
Ela sorriu com apenas um canto da boca e tragou em silêncio olhando para uma árvore qualquer, com cem milhões de pensamentos na cabeça.
- Não é isso, é que eu não quero isso pra mim. Essa relação que a gente tem tá ficando cada vez mais séria. E relacionamentos só complicam. Eu gosto tanto de você, mas não posso mais continuar com isso. Acho melhor sermos só amigos.
Lágrimas corriam nos olhos dele, que virou o rosto, mas enfim a deu um beijo no rosto, levantou e partiu com o coração quebrado e deixando o silêncio mudo e indiscreto tomarem conta dos pensamentos dela.
Ela sorriu, tragou seu cigarro e foi para casa dormir seu sono pesado.