Bondade! Bondade! E, lá iam aquelas pessoas acordando os moradores de João Pessoa apregoando bondade. Gritavam á quatro ventos, e tão forte que ainda ressoa em meus ouvidos. Bem, imagina só ser acordada com essa saudação. E, era de madrugada ainda, vinham com o raiar do dia, vinham disputando com o sol. Seguiam rua á rua, sempre com o mesmo grito: Bondade!
Aquilo me fazia acordar, deixar a preguiça de lado e correr para a janela. E, os divulgadores de bondade tinham os olhos extremamentes amendoados. Naqueles momentos, dentro de minha cabeça, eram criaturas sobrenaturais e não o que vim a descobrir posteriormente. Só depois de muito tempo, soube que se tratava de uma anomalia familiar.
Bem, me habituei com os gritos de bondade. A bondade era peituda. Um peito de adolescente com os mamilos arrebitados. Já pensou os homens se deliciando com eles na refeição matinal? Bem, fantasias á parte, durante anos á fio, escutei bondade a me despertar. Ela já fazia parte de meu acordar. E, a bondade era quentinha, de uma cor amarela, quase dourada. Da janela recebia minha bondade. Logo depois, me empanturrava com ela. Que maravilha! Como a bondade era gostosa...E, para coroar, sobre os mamilos escorria um leite de coco grosso, delicioso. Era um manjar dos deuses.
Nunca entendi bem o por que do nome bondade. Mas, na verdade, eu adorava. Minha cabeça já tinha a fantasia dos poetas. Mal o dia clareava, lá estava eu a esperar, não pelo canto do galo do meu quintal, mas pela bondade.
Um dia, a bondade calou. Um dia não mais fui acordada, não mais ouvi a bondade. Nunca procurei saber o motivo. Para mim, teriam se cansado de apregoar algo tão difícil de ser aceito pelos homens: Bondade!
E, eu nunca mais comi cuscus Bondade.