Saudades de mim. 1 A vida na fazenda.

Que saudade da minha terra, de minha gente. Saudades de meu pai, de minha mãe, saudades de mim. Meu pai era alto, magro, pele clara, cabelos lisos e pretos, e até na velhice os cabelos dele ainda eram pretos. Minha mãe era alta, magra e batalhadora, e gostava de cantar modas enquanto fazia os trabalhos da casa. Moravamos numa grande fazenda de café e leite no interior se São Paulo nos idos de 1950, onde eu e meus irmãos nascemos. Lá, meu pai era pau prá toda obra, como se diz, trabalhava no cafezal, roçava pasto, tirava leite, fazia de um tudo! Mal clareava o dia, depóis de tomar uma caneca de café preto, lá ia ele prá lida carregando nas costas num saco de estopa a moringa de água e no bolso de trás da calça levava um canivete, um pedaço de fumo de corda, palha de milho para fazer picadão e uma caixa de fósforo. Na hora do almoço que era entre nove e dez horas, levavamos a comida para ele num caldeirãozinho de alumínio com um garfo amarrado por um elástico na tampa. A tarde ele vinha cansado, empoeirado, colocava o saco da moringa num canto da cozinha, pegava uma caneca de ágata toda esfolada e o litro de pinga na prateleira e sentava na escadinha da porta da cozinha prá "matar o bicho" como se dizia ao beber pinga, e depois de tomar banho e jantar ele ia lá na venda tirar um dedo de prosa com outros camaradas e sempre que ele ia eu e meus irmãos pedíamos prá ele trazer dôce e ele sempre dizia não, mas acabava trazendo. A fazenda era muito grande e os cafezais a perder de vista prá todos os lados, as vezes muito longe das colonias. No total havia umas quarentas casas todas ocupadas por famílias numerosas, a casa sede que era um sobradão antigo, tinha tambem uma igrejinha, uma escola e uma venda com campo de bocha. Era um movimento constante de gente nas estradas e nos trilhos que cortavam os pastos para irem prá lida, prá escola ou comprar alguma coisa na venda, a fazenda era cheia de vida, principalmente aos domingos que havia jogo de futebol num campo improvisado no pasto perto da venda. Era uma festa!. Agora tudo acabou, as casas foram demolidas, o cafezal foi cortado, o pasto arado e tudo se transformou num imenso canavial. Onde foi parar tanta vida? Por onde andarão as pessoas que lá nasceram e viveram? Onde? Que saudade!

Madaja Dibithi
Enviado por Madaja Dibithi em 24/10/2010
Reeditado em 12/12/2010
Código do texto: T2576312
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