Mulheres
Mulheres tem longos e intensos orgasmos, mas – por escolha ou não – podem resultar em nove meses de progressivo aumento da barriga e no desejo de comer a legítima pamonha de Piracicaba às 4 e meia da manhã.
Mulheres variam o humor entre brava “eu capo esse desgraçado” e triste “existem milhares de filhotinhos com frio e sozinhos no mundo” no mesmo dia, por uma semana ou mais. Mulheres crescem peitos, e depois os carregam pela vida afora amarrando-os junto ao corpo com elásticos apertados e incômodos.
Mulheres se apaixonam, têm tesão, desejo, vontade. Mas tem que esperar o convite para a dança, esperar que percebam os sinais que seu corpo entrega como óbvio, um “sim, pode vim, eu não mordo. Eu também quero”. Chegam a deixar de suportar o ardor de uma depilação para não apressar as coisas, como quem deixa a ponta achocolatada do Cornetto pro fim ou segurando-se por mera convenção de um mundo onde homem é “pegador” e mulher é “biscate”.
Transformam a palavra teimosia em plena convicção em seus argumentos, não arredando o pé mesmo quando sabem que estão muito perto de estarem equivocadas. Podem esquecer a chave de casa a cada saída, mas não esquecem o que aconteceu em maio de 2001 para vencer um argumento. Nunca.
Mulheres picham “o amor é importante, porra” sem nunca terem tocados numa lata de spray na vida. Degustam paixões pueris, platônicas, com plena consciência. Pelo cara do sétimo andar, pelo cachinhos que pega a mesma linha de ônibus.
E mais que tudo, acreditam no amor. Na existência da pessoa certa. No homem do seu anúncio de margarina, encantador como quem ela dedicou cartões coloridos com giz de cera no dia dos pais. Acreditam em instantes de taquicardia por estantes da livraria Cultura, na apresentação do amigo da amiga em um aniversário que foi de última hora, sem um lápis no olho ou com a calça de moletom do sábado a tarde.
- E ai, faltou alguma coisa?
- Ah um pouquinho... Quase tudo.