Os três astrônomos
Os três astrônomos
Observo três astrônomos conversando sobre o fim da Terra, num documentário desses.
Três homens discorrendo sobre os perigos que nosso planetinha azul sofre sem sabermos (aliás, eles sabem): asteróides, expansão solar, raios gama vindos dos confins dos fins dos infinitos etc. e tal.
É curiosa a ciência: três homens que odeiam a vida e o universo dedicam suas vidas ardorosamente a dois estudos: da vida e do universo.
Por que afirmo que eles detestam a vida (ou algo nela)? Porque, quando falam das piores catástrofes, das mais horripilantes destruições em massa, dos mais escabrosos atentados à incolumidade da Terra (pobrezinha), só faltam ejacular na lente. Eles se lambem, deliciam-se com a antecipação da catástrofe; eles adoram, curtem, jogam os olhos para cima quando desfrutam da imaginação deste mundo e seus habitantes sendo devorados pelas forças que eles imaginam dominar por supor.
Tá na cara que, ao lado das verdades científicas, há ali algo da catarse de uma frustração: eles querem lascar com a gente. Talvez nos desprezem por, de sua ótica, não atentarmos à ciência, que é sua vida – porque sejamos “ignorantes da grandeza”; talvez por não nos darmos conta da magnanimidade que eles sonham ostentar em si por entrever, de uma brecha, o Indecifrável da extensão; talvez porque eles tenham um complexo, um recalque de C.D.F.; ou talvez porque, simplesmente, eles queiram suicidar-se (levando-nos!), e lhes falte coragem, daí implorem ao infinito que “acabe com essa droga toda de uma vez” – isso, aliás, me lembra outra classe de homens que, como disse Schopenhauer, “têm óculos no lugar de olhos”, mas deixa para lá...
Sei não! Sei que tem algo maléfico ali, algo de Gargamel, e ninguém me tira essa impressão da cabeça. Aqueles três astrônomos não me enganam...
Fico com uma velhinha erudita, astrônoma também, que, com um puta sorriso na cara, tacou, noutro documentário sobre o universo, algo assim: “Tudo acabando ou não; nossa individualidade perseverando ou não; sendo a vida curta ou não, vale demais a pena viver para tentar compreender um milímetro que seja desse deslumbre que nos cerca e que, por ser tão grandioso e inexplicável, chamamos obra de Deus... Imagine quando, um dia, viermos a compreender o que é essa supremacia de inteligência a que chamamos Deus, que nos deixa estupefatos só de a conjeturarmos! Nesse dia, amiguinho, compreenderemos quem somos nós: o grandioso e o desprezível em nós...”