Chato que é chato...
O mundo está repleto de chatos. Há chatos de todos os calibres e, infelizmente, não podemos nos excluir totalmente desta classificação, já que cada um de nós tem lá os seus momentos de ai-meu-Deus-como-eu-sou-chato. Mas não existe chato pior do que o chato solitário. O chato solitário, ao invés de arranjar uma namorada, um grupo de amigos, frequentar academia, passear com o cachorro, pegar um cineminha ou paquerar na praça, fica “pescando” vítimas para chatear. E quando consegue um desavisado, deita uma falação que não acaba mais. O Osvaldo Montenegro disse uma vez que chato é aquele que conta tudo “tim tim por tim tim” e ainda entra nos detalhes. E é assim mesmo. E os detalhes são sempre dramáticos ou escabrosos, porque todo chato sofre. E como sofre! Só sofre menos do que o pobre coitado que tenta bancar o educado, ou bonzinho, e dá trela pra ele. Arrependimento garantido.
Dia destes resolvi dar boas vindas pra uma vizinha nova e me arrependi amargamente. Dona de casa, ela viu os filhos saírem de casa, o marido trabalhando e ela o dia todo solita. Sem imaginação pra se ocupar, saiu buscando ouvintes e eu caí como um patinho. Sei toda a vida dela, com riqueza de detalhes.
Mas ainda pior do que o chato solitário é o que, além de solitário, é hipocondríaco. É difícil aguentar um hipocondríaco, assim que muitos acabam sozinhos. Com estes, um simples —Como vai ?— já é motivo para arder no inferno do arrependimento. Horas de falação com detalhes de doenças gravíssimas, médicos, hospitais. Conheci um destes que estava sempre “morrendo” e passou dos 90. Enterrou muitas das suas vítimas.
Eu tento fugir dos chatos, o que nem sempre é possível e, além disto, tento não ser chata o que, me parece, é ainda mais difícil. Todos têm lá as suas chatices e a minha é falar demais. Nunca me arrependi de ter falado pouco, mas vivo arrependida de ter falado muito. Sempre acabo dando minha opinião. Quando dou por mim, já “saiu”. Depois fico batendo cabeça, de arrependimento. Tenho sempre um comentário a fazer, uma história pra contar e, o que é pior, fico me repetindo. No bom estilo: digo, repito e trepito.
Tudo bem...sou chata! Mas juro de hipocondríaca não sou. Ah isto não!