O Livro - Parte I

Sentara confortavelmente no sofá o calor era abafado, nem um vento sobre a sala, apesar das janelas estarem escancaradas. Sentia o livro na mão a capa parecia ter sido feita de couro de porco, apenas vinha à memória “porque não tinha título?”. Estava nervoso com stress do dia, queria relaxar, fazia tanto tempo que não lia, o ultimo livro que lembrara era um livro gospel sobre anjos e demônios o título indicava algo como tenebroso no final, puxava uma das almofadas pequenas e colocou-a atrás das costas, lembrava se não lhe faltava mais nada.

_Água!

Correu pra cozinha abriu a geladeira olhava a borracha que tinha que trocar assim que ganhasse um adicional pelos seus trabalhos artísticos. Bebeu em dois goles, a água escorreu pelos lados da boca, pulou de volta no seu cantinho e esperava que nem um barulho o perturbasse. Estava cansado, pois havia malhado em seu primeiro dia de academia, o corpo doía em cada parte que tinha trabalhado no dia anterior. Começaria a ler logo, pulava o prefácio indo de início ao conteúdo... Mas o início sobre via uma escritura com letras em púrpura um dizer ‘’O livro espelho reflete o sono de quem lê ‘’

_Estranho! - Pensou em voz alta.

_Sono! - Deu um leve sorriso, aquela palavra fixou em sua mente.

¬Foi lendo algo que misturava palavras que lembravam a ultima vez que lera a Bíblia, era como se embaralhasse religiosidade e ficção sobre demônios e seres que nunca ouvia falar antes, mas também tinha um lado muito atrativo, que lhe seduzia sobre um Ser belo que ressaltava formosura, algo o envolvia, o ar da graça na verdade era o que mais chamava atenção. O autor ou quem sabe Deus era quem o fixava no livro, sentia que algo a qualquer momento iria se revelar, e essa estória era por demais empolgante, falava sobre uma pessoa, ele não sabia ao certo se era humana. Pedro lia quase sem piscar e isso nunca acontecera antes. O que tinha de tão especial que lhe prendia? Não escutava nada! Nem se uma banda militar passasse ao seu lado. Jamais sentira essa vontade antes! As palavras do livro pareciam saltar a cada passar de olhos.

***

Já passava do meio dia e Jéssica ainda não havia levantado da cama. O seu celular já repetia o segundo despertador programado com a velha música “Nókia”, girou o corpo pra direita tentando tirar o braço que dormira encima e que formigava muito, com outro braço apertava o botão tentando parar o som agonizante.

_Merda de celular! Porra! - Atirou o aparelho longe, estourando a bateria voando pedaços do pobre pelo chão do quarto.

Agora já era, tinha perdido o resto da preguiça que a puxava pra cama, queria ligar para Pedro, mas como? Agora que destruiu o aparelho como uma raiva que invejaria qualquer atendente de telemarketing no seu ultimo dia antes de pedir demissão. Sentia saudades de Pedro já não o via a uma semana, seu relacionamento não ia bem há meses, depois de quase dois anos de namoro.

O Ser tinha poderes surreais impressionantes sobre os seres humanos que lhe permitia ser superior, ele passava um ar de autoridade o que lhe fazia parecer imortal... Talvez fosse. Os olhos de Pedro começaram a baixar, nem notara que ainda não havia mudado a posição inicial da leitura, pareciam que seus olhos estavam cheios de areia e as palavras saíram da mente, adormecera! acordava repentinamente tinha um compromisso daqui a duas horas não podia cochilar os olhos voltavam ao livro palavras agora sem nexo, sedução... dormir... espelhar... sono...lência.

_Petrussss! –Uma voz sedutora o chamava.

_Nossa!- pulou do sofá com a impressão de quem tivesse quase cochilado

Só se lembrou da suave e sedutora voz que ecoava em sua mente uma forte dor de cabeça.

_Como assim três horas?Eu nem cheguei a dormir! -tinha uma sensação esquisita, se sentia muito bem, o cansaço tinha ido embora, as dores, havia algo de errado com seus pensamentos

Resolveu dar uma volta...

Ao sair sentia o cheiro da grama molhada após uma chuva rápida matinal de Belém. Não era inverno, mas já estava acostumado com o clima da região. Havia algo diferente como o de costume, ao caminhar na praça sentia que todos o olhavam, crianças, homens, mulheres idosos, mas não era bem um olhar rotineiro, parecia que todos o apreciavam como se alguma coisa em sua aparência tivesse mudado seu jeito de andar, seu modo de olhar, de pensar. Sim seus pensamentos eram detalhados, como se a cada percepção, a cada olhar crítico estivesse descrevendo em sua mente era como se estivesse lendo um livro e o autor estivesse na sua cabeça era incrível nunca sentira esta sensação antes era magnífico!