Amor à 124ª vista...
A primeira vez que te vi, não senti nenhum "click" em mim. Nenhum tremor, nenhum calafrio.
A primeira vez que te vi não te comi com os olhos, não detive o meu olhar em ti por mais que uns segundos fracionados.
Nenhum frenesi, nenhum despertar dos sentidos de forma misteriosa... nem na primeira, nem nas várias vezes depois que te vi.
No primeiro beijo não ouvi sininhos, não senti nenhum efeito analgésico.
No nosso primeiro abraço não houve química, não houve a sensação de aconchego.
A primeira vez que coloquei meus olhos sobre os seus eles não cintilaram, as pupilas não se dilataram.
A primeira vez que falei contigo não existia nenhum interesse real de te conhecer ou sobre o teu pensar que me cercasse.
Um ano e meio depois... Uma passagem brusca de uma corrente elétrica além do normal e "Pow" (Onomatopéias, acho que não sei usá-las, mas acho que foi "Pow" mesmo...) um curto circuito!
Uma explosão de sentimentos e sensações mais que repentinas e uma fumaça saindo da fiação de nervos do meu corpo... Meus olhos se abriram de verdade para os seus e quase me cegou com um brilho que emanava de si. Uma pergunta envolveu meus pensamentos: - Como eu não te percebi assim antes? (Isso que é não enxergar um palmo diante do nariz).
Essa deve ser a 124ª vez que te vejo e só agora eu não consigo te encarar, me vejo intimidada diante de seu olhar. Só agora te vejo mordiscar os lábios e desejo no mais intímo estar dentro deles. Só agora mergulho dentro das suas palavras tentando absorver você. Só agora deito a noite me abraçando e fingindo que te entrelaço comigo.
Não duvido que exista aquela pessoa que vai te causar imediatamente um desconcerto incomparável com tudo que já sentiu por alguém “à primeira vista” até então.
Mas é exatamente aí que mora o perigo. Atordoados pela taquicardia e pelo calor causados por aquele primeiro impacto, torna-se mais fácil esquecermos que o amor é uma emoção completa. Completa porque para caracterizá-lo é necessário o uso de mais sentidos.
Além da primeira vista deve haver o primeiro cheiro, o primeiro toque, o primeiro gosto ou o primeiro som. Confiar apenas na primeira vista e desprezar a perfeição de nossos sensos é não enxergar verdadeiramente. Vemos melhor quando usamos o corpo todo. O amor precisa da comunhão dos sentidos. E também precisa do tempo.
Falei sobre o tempo e explico: só o tempo é capaz de revelar nossas ilusões de ótica, porque geralmente vemos o que queremos ver.
Pessoas carentes, em busca desesperada de companhia, se deixam enganar facilmente por estelionatários afetivos, exatamente porque projetam ali um grande amor. Mas a verdade aparece com o tempo.
O amor não existe na primeira vista, nem na segunda e nem na terceira. Não se deve ter pressa. Trata-se de um exercício de paciência que pode até parecer complicado mas que, aos poucos, vai se mostrando valioso e gratificante. É como um quebra-cabeça que vamos montando, a quatro mãos, colocando uma peça por dia. Com o passar do tempo já começamos a perceber ali a figura do amor, apesar de ainda haver muitos espaços vazios. Assim, com calma, continuamos posicionando as peças, preenchendo esses vazios, e o amor vai aparecendo cada vez mais, sua imagem vai se escancarando diante de nossos olhos tornando-se cada vez mais nítida. E sempre haverá espaço para colocarmos mais uma peça.
Esse deve ser o amor de verdade, o amor à 124ª vista.