Tirando a máscara

Eu olho incrédulo para a propaganda eleitoral, onde se santifica o indivíduo, mas nega-se a pessoa. Duvidoso de tudo que se diz no horário eleitoral, quedo-me espantado com o candidato sorrindo com aquele contentamento tão falso quanto uma cédula de três reais; as cenas dos campos paraibanos a florejar uma produção agrícola abundante; os testemunhos de gente do povo e artistas com histórias e tradições respeitáveis; as promessas, compromissos e juramentos dos candidatos, alguns deles tão venais que são capazes de negociar a própria mãe e não entregar, para vender de novo. Enfim, a vileza costumeira da eleição.

Entretanto, o que quero afirmar é a tese de que na nossa sociedade se glorifica o indivíduo, mas se oculta a pessoa. Não deu pra entender? Percebe o disparate do que acabo de escrever na minha toca? Não é nenhum absurdo, desde que saibamos a diferença entre indivíduo e pessoa. Indivíduo é o candidato, um produto à venda, rotulado, caracterizado e descaracterizado, guiado, induzido e maquiado. O indivíduo não tem nenhum relevo que o torne um ser único. Ele é um ente artificial, ou, no máximo, o resultado de uma estratégia de mercado.

O que é uma pessoa, então? O que nos dá contorno existencial? Penso que não sou uma pessoa a partir do fato de possuir carteira de identidade. A pessoa que sou e que você é, e continua a construir durante toda sua vida, é o que você pensa, os seus sonhos, sua perspectiva de visão do outro, sua habilidade em estar no mundo equilibrando seus instintos mais primitivos com os fatores inatos de bondade, nobreza, lealdade e valentia para defender o bem. Você é único, com seus defeitos e suas virtudes, suas taras e sua crueldade animal.

Essa pessoa jamais saberemos quem é, ao ver a propaganda eleitoral. Os candidatos são apenas indivíduos, não se apresentam como pessoa. Pois bem. É algo que não se pode explicar facilmente. Não podemos imaginar o candidato chegando na TV e mostrando quem ele é realmente, desnudando-se enquanto pessoa. Se tentar fazer isso, vai provocar reação negativa do eleitor. A população, que é viciada em hipocrisia e propaganda dissimulada, vai demolir a carreira do cidadão que assim se ponha a nu.

No entanto, que desejo de conhecer a verdadeira personalidade desses heróis midiáticos! Quem é Dilma? Que personagem veste Serra e quem é o ator por trás da máscara? Será José Targino Maranhão exatamente o oposto do seu Zé do Quinze? E Ricardo Coutinho, a marca de suas convicções estará mesmo estampada no seu caráter? Ou é tudo jogo de cena, engano dos sentidos e da vulgarização de falsos predicados, embaralhados pelo jogo sutil do indivíduo encobrindo a pessoa?

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 22/10/2010
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