Um despertar feliz
Hoje acordei feliz. Pela vidraça da janela do meu quarto observo raios de um sol dourado difundindo a claridade de mais um dia que acabara de surgir. Havia ido dormir sorrindo e acordei cantando uma singela canção que há muito esquecera. Ainda não totalmente desperto, sinto o perfume das flores do jardim impregnando-me a alma com os mais suaves olores. O gorgeio dos pássaros qual ensaiada sinfonia se difunde por todo o ambiente como num festival harmonioso. Hesito em permanecer deitado juntamente com a lembrança de um amor distante a inundar-me o peito com os mais puros sentimentos ou, por outro lado, levantar e sentir de perto todo o espetáculo que a natureza oferecia. Deparo-me com a dúvida retardando a decisão. Mesmo assim, diante de uma gostosa indecisão, opto por levantar.
Dirijo-me à janela e, ao abrí-la, uma suave brisa do amanhecer penetra na intimidade do quarto trazendo consigo uma sensação de bem estar em toda sua plenitude. Sinto por todo o corpo como se fora um afago da mulher amada sob a forma de inebriantes carícias. Detenho-me estático e de olhos semi-abertos entrego-me, sem relutância, àquela sensação esplendorosa no afã de que jamais teminasse. Revolvo no mais íntimo da alma lembranças do amor realizado na noite que se fora. Nos abraços dos nossos corpos e na fusão de nossas almas entremeados das mais lindas juras de amor eterno. Éramos, então, conduzidos na suavidade do tempo para regiões desconhecidas do mais profundo encantamento. Perece-me, ainda, ter a boca úmida dos beijos que trocamos. Como se os lábios permanecessem impregnados daquele sabor exalado de um grandioso desejo.
Lembrança travestida de saudade. Saudade de momentos vividos na mais perene sensação de felicidade. Felicidade da sutileza de um amor puro; de uma entrega total; na fusão de dois corpos e no entrelaçamento de duas almas sequiosas da sublimação do prazer. No entanto, somente lembrança de momentos ditosos transformados em saudade. Saudade a nos conduzir à regiões ignotas onde a alma se extasia em deslumbramento.
Mas volto a realidade. Afasto de mim toda lembrança tansformada em saudade e, já desperto, extasio-me diante das belezas daquela manhã. Manhã de raro esplendor, emoldurada pelos mais belos sentimentos de amor. Jardins engalanados de flores e matizes díspares. Quem sabe, rosas vermelhas! Gotas de orvalho sobre pétalas de rosas como lágrimas de saudade. Pássaros saltitantes em maviosos gorjeios enchendo o ar de melediosa sonoridade. Borboletas multicores na voluptuosidade de um ósculo, num cadenciado bailado por entre flores.
Ah! como o amor nos inflama a sensibilidade. Amar é fruir nas alturas e extinguir desencanto sufocando todo pranto. Amar é sonhar acordado onde o coração pulsa de emoção.