Fragmentos da Minha Alma

Dia em que refleti. Foi num dia solitário e qualquer.

Tudo bom? Aqui não está muito bom, mas estou levando. Acredito que não está lá essas coisas aí também. Eu sei como é. Hoje eu resolvi colocar para fora o que sinto da forma mais exata possível. Sei que posso parecer louco e mentiroso por muitos, mas hoje, simplesmente preciso.

É estranho falar de mim para mim já que o meu amor é invisível. É estranho porque os fragmentos da minha alma concordam plenamente com esse pedacinho esmiuçado que quer se revelar. Todos eles querem falar um pouquinho e “eu” resolvi concordar com eles.

Lá no meu passado tive dores profundas, dores que custaram sair, dores que deixaram seqüelas e que me fizeram ser este homem torto que hoje vês. Essas dores mexeram com meu caráter, com a minha índole e com o meu temperamento, mas não conseguiram mexer com meu coração. Meu coração clama por justiça mesmo que esta justiça não o favoreça, porque o amor é justo. Ele sente amor.

E quando me vi só entre muitas pessoas e amigos tu me apareceste com lágrimas plangentes. Eu vi tuas lágrimas e além delas: vi uma pureza, uma meiguice, uma sensibilidade e a ternura que muitas pessoas não compreendem... Tu eras solitária, vivias num desgosto profundo por não ser amada, perdida em absortos que revelavam as ficções encantadoras que era ter um pai presente. Teus pais eram separados de modo que tu não vias teu herói. Aquele homem bonito e bem vestido, pobre, mas trabalhador, alegre e forte de repente não existia mais. Todos os amigos pareciam ter um pai dentro de si e tu te deliciavas no sorriso masculino e na fidelidade da amizade masculina, coisa que não vias nas amizades femininas. E de repente aparece uma figura masculina sensível. Este alguém era eu.

Lá estava um homem solitário almejando ser feliz. Tu estavas na mesma situação. Lá estava um homem coerente. Recebi os teus carinhos e te admirei. Mais que isso eu te amei. Tu vias em mim um pai. O pai sempre é visto como um herói. Então, eu não poderia cometer erros porque a minha ternura de pai não me permitiria. Mas, o que teu pai fez? Largou-a, deixou-a por nada, por causa de dez segundos. Depois de tempos aquele homem bonito e elegante de antes aparece em tua frente como um mendigo e tu nem sabes o que dizer, nem sabes se chora ou se o abraça. Pelo que vi o abraçou. Mas, a tua indignação era grande, pois não aceitava vê-lo naquela situação. Todo o teu carinho que fora guardado há meses era dado por misericórdia tal era o teu amor. Era o teu amor incondicional, independente de bons ou maus feitos vindos da parte dele. Simplesmente sentias e demonstravas com mansidão.

Ali em meu canto vi essas cenas muitas vezes e te admirei por isso. Anelei do fundo da minha alma receber aquele amor. E “fiz poesias e versos aos teus olhinhos perversos, aos teus pezinhos meu bem” revelando a minha inteligência, caridade e tempo gasto contigo. Diante de tal atitude de minha parte tu me admiraste, porque tinhas se tornado o centro de meus pensamentos. “Oh, um homem assim eu não encontro em lugar nenhum.” Pensamento tolo. Porque o teu pai que dizia te amar muito te deu o desprezo; eu que fiz tantas coisas boas para tu te magoei. Só que a reação para ele e para mim foram diferentes: o teu sentimento por ele não mudou, mas o teu sentimento em relação a mim mudou completamente. A admiração nunca fora mais forte do que uma mágoa. Então, no primeiro solavanco o tombadilho pendeu.

Agora cá estou analisando a minha vergonha em meio à solidão. Um dos fragmentos, magoado, quer ser mais forte que meu “eu verdadeiro” e salta com grande voz: “ela não te merece.” Mas o meu “eu verdadeiro” o empurra para baixo com a palma da mão e diz: “calado.” Um outro fragmento diz: “eu invejo o pai dela, porque mesmo com todo desprezo, falta de atenção, carinho e afeto, ela o perdoa.” Meu verdadeiro eu chora nesta hora, porque também almeja o teu perdão. O fragmento Caridoso diz: “eu te amo, por isso te perdôo de todas as ofensas e faltas mesmo que tu não me acredites”, enquanto os outros dizem: “tu és um verdadeiro tolo por perdoar alguém que não te perdoa. Todos os fragmentos sabem e concordam entre si que o amor só vem à base do perdão, que quem não ama não consegue perdoar.

O fragmento Invejoso quer por quer receber um amor igual ou maior a que tu tens pelo teu pai. O fragmento Promíscuo diz que todas as mulheres são iguais, por isso não há diferença entre esta ou aquela e que a carência pode ser morta nos lábios da meretriz ou de uma infeliz apaixonada. O fragmento Vingativo diz que a justiça está na vingança. O fragmento Sensato diz que o amor é justo e que todas essas coisas não são certas. O fragmento Caridoso, sofrendo, diz que tudo carece de paciência e tolerância, para que não se cometa a injustiça, dá-se o perdão onde o Justo concorda, menos com a parte do perdão.

Então, ouve-se um brado do fragmento Sensato que diz:

- Se ela não te perdoa é porque não te ama. Tão-logo não há necessidade de doar-se no silêncio e no sofrimento que não será visto por ninguém.

É claro que ele diz isso conforma a justiça pobre humana, porque se fosse o Justo veria as próprias faltas cometidas.

O verdadeiro fragmento responde categoricamente:

- Eu a perdôo não porque ela mereça; eu a perdôo não porque ela só faz questão de admirar as minhas qualidades; eu a perdôo porque a amo. Não quero ver a condição física e mental dela, não quero ver o buraco que ela se encontra. O que sinto é amor, puro e incondicional. Assim como o pai dela recebe darei a ela. Um dia ela plantou isso hoje ela colhe através de mim. Amanhã chegará o meu dia e eu serei feliz.

21/10/2010 13h40

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 22/10/2010
Código do texto: T2571212
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