A gaveta
A gaveta de minha cômoda tem um ruído estranho quando procuro
em seu ventre meus segredos mais íntimos .
Parece que ela me condena por invadir seus domínios, que na opinião dela, não são meus.
Ela range como o vagar de um fantasma de minhas roupas.
Sei que elas são antigas peças descoloridas, mas, não fantasmas.
Procuro as horas mais desertas para, talvez surpreende-la adormecida.
Por mais cuidado que eu tenha, ela desperta e reclama com seus sóbrios ruídos roucos.
Tento disfarçar e timidamente colho um par de meias.
Ela resmunga e volta a dormir.