Reféns da noite Cap. 2 Taylor Greed

Taylor Greed

Depois de pelo menos umas duas horas conversando, não tenho certeza, ele me levou até sua mansão, pois já estava amanhecendo e demorava muito para chegar na minha casa. Eu estava enfeitiçada pelas palavras daquele homem, que no mesmo instante aceitei o convite para ir até sua casa. Caminhamos em silêncio até chegar na mansão.

- Chegamos, esta é minha casa. – Ele afirmou sorrindo de leve.

- É linda! – Estarrecida eu respondi.

O lugar é extremamente belo, deve ter sido construída por volta do século dezoito.

Acho lindo aquelas mansões antigas, aquele ar de mistério que me assoma só de olhar para um lugar desses. Passagens secretas, calabouços, é a primeira coisa que pensamos ao olhar para uma antiga construção.

A mansão é mais linda por dentro do que por fora. Mais moderno, enorme, com um lindo tapete de veludo vermelho no hall de entrada. O lustre do salão principal é de cristal e se encontrava bem ao centro, no final do mesmo havia uma enorme escadaria, e no alto dessa escada havia um quadro de um homem imponente em trajes de general, tão belo quanto Taylor, só que mais velho. Perguntei-lhe quem era o homem no quadro e em resposta me disse que aquele era seu pai, seu criador e também o homem que construiu aquela mansão. Ao qual devotara todo seu amor.

- Como ele se chama? – Perguntei curiosa.

- Jonathan Coldheart, era assim que sempre o chamaram. – Taylor olhou para o retrato e continuou. – Ele era americano. Um homem muito respeitado pelos no exército. Coldheart possuía muitas posses. Comandou uma tropa em alguma guerra... – Ele parou e pensou. – Bem, não me lembro em que guerra foi, nem quando, mas quando lembrar eu te falo.

- E onde ele está agora? – Eu não ia perguntar, mas as palavras escaparam da minha boca.

- Ele morreu já faz algum tempo. – Ele se voltou pra mim e me encarou. – Foi assassinado pelos capangas do regente de Nova York, por traição.

- Traição? – Indaguei.

- Sim, traição! – Afirmou, seu tom de voz ainda era baixo e triste. – Apesar de ser americano, Coldheart era apaixonado pela Europa. Faria qualquer coisa pela Europa. Mataria se fosse preciso... – Sua voz ainda era triste e um pouco rancorosa. – Se não tivesse feito aquilo, ainda estaria vivo.

- O que foi que el... – Taylor me interrompeu.

- Ele assassinou uma mulher chamada Lilia, sob os olhos de David Gray...

- David Gray, esse nome me é familiar! – Eu olhei em seus olhos bastante expressivos. – Foi ele quem o matou?

Eu podia ver o sofrimento em seus olhos. Taylor amava seu criador, pude perceber assim que começamos a falar dele. Seu tom de voz indicava que guardava uma grande mágoa dentro de seu coração. Talvez fosse só pela perda da pessoa que amava do fundo de sua alma ou talvez fosse por outro motivo. Eu não sabia o certo, mas sofri junto com cada palavra, junto com ele.

- Venha, vamos sentar na sala de estar.

Taylor me levou através de uma porta dupla, de madeira rústica, com cerca de dois metros e meio. Adentramos uma enorme sala, na qual havia uma lareira toda em marfim e três sofás de veludo vermelho. Isso sem contar os quadros e outros objetos, como uma bela mesa de madeira que ao meu parecer, era do século quinze ou dezessete.

Ele se encaminhou até a lareira e a acendeu com bastante facilidade. Levantou-se e fez um gesto para que eu me senta-se em um dos sofás. Sentei no sofá mais próximo da lareira. Taylor andou elegantemente e se sentou a minha frente. Acomodou-se, seu olhar fixo nas chamas que dançavam. Um leve perfume adocicado se desprendia das chamas. Como não sei nada sobre os tipos de madeira, não posso lhe dizer qual foi á madeira que ele usou, para que liberasse aquele cheiro doce e envolvente.

- Você quer saber mesmo? Então irei lhe contar. – Seus olhos não desgrudavam das chamas. – Meu Senhor e acima de tudo irmão, estava de “férias” nos Estados Unidos. Coldheart já residia aqui em Londres. Eu estava sob sua tutela, era um neófito com pouco menos de oitenta anos... – Eu o interrompi.

- Isso foi pouco antes de você ir pro deserto? – eu olhava para ele, sua beleza me encantava e aquele ar triste me deixava mais encantada ainda.

- Sim, esse foi um dos motivos pelo qual tentei me matar. Mas vou lhe contar sobre meu querido e amado senhor. – Ele voltou seu olhar para mim, ternura e tristeza era o que eu podia ver. – Quando foi para Nova York, Coldheart foi informado de que um espião da tormenta estava na cidade, tentando descobrir algo sobre a sociedade de Londres.

- Mas por quê em Nova York? Ele não queria saber da sociedade de Londres? – Perguntei intrigada.

- Sim, mas é onde menos se espera que nós encontramos exatamente o que queremos. – Ele se ajeitou no sofá. – Eu não sei o que o tal espião estava procurando, mas o trabalho de meu senhor era mata-lo. Coldheart seguiu o rastro do espião, descobriu por fontes seguras, ser uma mulher. – Ele novamente desviou seu olhar para as chamas dançantes. O som da madeira estalando enfeitava o cenário. – Durante meses, meu senhor a seguiu, descobriu onde morava, quais lugares freqüentava. Para ele, a suposta “espiã” não passava de uma pessoa normal, uma humana normal. Ele não via razão para mata-la, porém, se não o fizesse, alguém o faria e acabaria matando a ele também. Coldheart resolveu o que fazer e tentou se aproximar dela, queria conhecer sua vítima. Iria mata-la, ela não ia sofrer, ele não permitiria. – A sombra das chamas dançava pelo rosto de Taylor. – Uma noite ele entrou no apartamento dela. A mulher estava na igreja, rezando para seu Deus. Ele vasculhou tudo, encontrou uma folha na qual leu seu nome. Lilia Gray. Deveria ser uma conta de luz ou coisa assim. – Ele parou um pouco, parecia tentar se lembrar de algo. – Ficou lá a noite toda, quando Lilia chegou em casa ele se escondeu e ficou a observa-la. A doce mulher magra e alta, porém, muito bonita, andava pela sala, seus cabelos curtos e claros balançavam com seu jeito de andar. Ele somente a observava. Só tinha um probleminha.

- Qual? – Perguntei.

- Ele havia se apaixonado por ela, não conseguia sair do lugar. A olhava com ternura e desejo. Queria possui-la, mas mesmo assim ele a mataria. – Ele sorriu. – Coldheart saiu das sombras e se mostrou a jovem mulher, ela não se assustou e isso o deixou intrigado. Ao invés de gritar e sair correndo como a maioria faz, ela ficou a olha-lo com o mesmo desejo que ele.

- Eu não estou entendendo! – Afirmei coçando a cabeça.

- Lilia sabia que Coldheart a seguia fazia muito tempo. Ela já desconfiava, mas também se apaixonou... – Taylor sorriu novamente. –...Pela beleza dele e mesmo assim ela não sentia medo, estava tranqüila. Ao ver aquele homem de cabelos claros e roupas sombrias sair da escuridão ela apenas o encarou e disse suavemente.

- Pensei que não fosse aparecer! – disse Lilia.

- Você sabia! – Coldheart afirmou.

- Sim, sabia!

- E você não está com medo? – Disse franzindo o cenho.

- Não, quero estar com você. Me apaixonei desde a primeira vez que te vi. – Lilia sussurrou. – Quero ficar com você.

- Mas ela simplesmente se apaixonou por ele? – Perguntei.

- Mais ou menos. Coldheart chamava a atenção de qualquer mulher, qualquer uma que olhasse em seus olhos, caia em seus braços e não foi diferente com Lilia. Era exatamente o que ele queria. – Voltando a ficar sério e pensativo.

- Ele realmente gostava dela e se aproveitou do fato dela ter se interessado por ele?!

- Bom raciocínio, foi isso mesmo. – Ele sorriu, seus dentes eram brancos como a neve. – Deixe-me continuar, vou lhe detalhar exatamente tudo, não se assuste se eu me empolgar. – Continuou sua história sério. – Durante alguns dias, Coldheart ficou mais próximo de Lilia. Andava pra cima e pra baixo com ela. Então, ele percebeu que era hora de acabar com aquilo ou ele não conseguiria mata-la. Foi estranho como Lilia reagia ao fato de estar com um vampiro. Lilia era católica fervorosa, freqüentava e cantava no coral de uma igreja. Acho que ela não sabia sobre seu avô.

- O que tem o avô dela? – Ainda curiosa e atenta a cada palavra que ele dizia, olhando fixamente para seus olhos.

- Eu já chegarei lá! – Ele continuava sério, aquela lembrança lhe pesava na mente e no coração. – Uma noite, Coldheart a buscou na igreja, logo após a missa. Ele a acompanhou até em casa. Lilia que havia se afeiçoado a Coldheart e até ali guardara seu segredo vampírico, o convidou para entrar em sua casa. Ele como legítimo cavalheiro não recusou e adentrou a pequenina casa. – Ele parou pensativo, tentando organizar seus pensamentos para poder me explicar melhor o que houve, então ele continuou. – Os dois conversaram até a madrugada. Como ele não podia ingerir comida, ela apenas lhe ofereceu um copo de vinho. Ele lhe disse que poderia bebe-lo, mas que depois de uma noite aquele vinho teria de sair e o único modo era vomitando.

- Eles continuaram. Em uma das conversas, Coldheart resolveu mostrar a Lilia como se dançava em sua época. Por sorte, Lilia guardava em sua casa, alguns cds que continham músicas muito antigas, do agrado de Coldheart. Então, ele escolheu um cd e colocou no aparelho de som. Uma linda melodia invadiu o ar. Coldheart esticou a mão para Lilia, que a segurou, levantando-se do sofá. Ele conduziu Lilia pela música, dançaram por um longo tempo. Depois eles pararam e se olharam, Lilia sorria.

- Como você é lindo. – Lilia disse passando as mãos no cabelo de Coldheart.

- Você também é muito bonita. – Ele sorriu se aproximando do rosto de Lilia que também fazia o mesmo.

- Seus lábios se tocaram e eles se beijaram, um beijo apaixonado. Ele a apertou contra o próprio corpo. Será que ela não sentiu o frio de seu corpo? Ou será que não se importou com isso? Bom, eu realmente não sei! Mas eles ficaram se beijando e se acariciando. Até que Coldheart a pegou no colo, ela era bem leve e ele bastante forte. Ele á levou para o quarto. Abriu a porta e entrou. Era bem pequeno, mas aconchegante. Ela colocou Lilia na cama com toda delicadeza possível. Lilia estava com um fino vestido de seda, florido e ele o tirou delicadamente, deixando-a somente com um conjuntinho de calcinha e sutiã, azul bem claro. Lilia era muito bonita apesar de sua aparência frágil. Coldheart tirou a própria roupa, mostrando seus músculos definidos e sua pele branca e pálida pelos anos e a falta de luz do sol. Ele pôde notar o nervosismo tomar conta dela, será que ela virgem? Ele não sabia e não fez questão de perguntar! Somente se deitou ao lado dela e recomeçou a beija-la, acariciando-lhe o corpo. Passando sua mão fria pelos seios de Lilia, deixando-a excitada. Ela também acariciava o corpo de Coldheart, que logo se demonstrou excitado e pronto para o que viesse pela frente. – Taylor mantinha seu olhar fixo na lareira, porém, uma leve excitação tomava conta de seu ser. – Coldheart terminou de despir Lilia, beijando seus seios e descendo bem devagar até chegar aonde queria, fazendo Lilia se contorcer de prazer. Ela fez o mesmo com ele, também deixando doido para subir em cima dela, brutamente, mas se conteve. O carinho nessa hora é crucial, além de deixar tudo mais envolvente. – Sorriu. – Ele se sentou na cama de frente para Lilia que continuava deitada. Abriu lentamente suas pernas e começou a penetra-la, bem devagar. Ela gemia de dor e de prazer. Pouco tempo depois um odor acre chegou ao nariz de Coldheart. Um cheiro irresistível para ele, sangue. Ela estava sangrando, era virgem. Mas isso não fez com que ele parasse, lhe daria todo prazer antes de mata-la. Então ele começou a beija-la até lá embaixo limpado com a língua o sangue puro da virgindade. – Taylor riu. – Com as luzes apagadas, Lilia não via nada, ao contrário de Coldheart que podia ver tudo com seus olhos vampíricos. Ele lentamente mostrou seus caninos e continuou a dar prazer para Lilia, afim de que ela não percebesse o que ele estava fazendo. Ele tinha outros planos. Subiu ao pescoço de Lilia, beijando-o e sentindo seu cheiro, seu perfume, aquele que só as mulheres possuem. Ele estava apaixonado. Abriu sua boca e cravou seus caninos na carne macia de Lilia.

- Deve ter doído, ela não percebeu o que ele estava fazendo? – Perguntei intrigada.

- Não, não percebeu de imediato, só depois. A mordida ou o beijo de um vampiro, como muitos dizem, não dói, pelo contrário, proporciona prazer... – Ele me olhou. – Muito prazer. Mas deixe-me continuar. Coldheart sugou todo o sangue de Lilia, e com a mão que estava desocupada, tateou o criado-mudo e acendeu o abajur. Ela já estava praticamente morta quando ele parou de sugar seu sangue. Os olhos de Lilia estavam arregalados e olhavam para ele com espanto. Ela tentava se levantar, mas a morte era certa e ela estava fraca demais. – Taylor voltou seu olhar para mim. – Foi aí que o milagre aconteceu.

- Milagre? – Perguntei olhando em seus olhos.

- Sim, podemos chamar de milagre! É como todos nós chamamos, o milagre vampírico. – Ele sorriu. – Lilia conseguiu vislumbrar os caninos sujos de sangue de Coldheart e só aí entendeu o que ele havia feito, mas já era tarde para se arrepender. Com os caninos afiados, Coldheart fez um pequeno corte no pulso, do qual pressionando o ferimento recente, começou a gotejar sangue. Ele levou o ferimento até a boca de Lilia.

- Vamos beba meu sangue e viva para sempre. – Ele disse à agonizante Lilia que sem muita força, pegou o pulso de Coldheart e sugou o sangue.

- O precioso sangue vampírico agora vertia para dentro do corpo da jovem mulher. O que ele estava fazendo? Não podia transforma-la, seria loucura e é exatamente o que foi, loucura. – Murmurou Taylor em devaneio. - Se não o tivesse feito ainda estaria vivo! – Olhou para mim como se esperasse que eu perguntasse alguma coisa. E foi o que fiz.

- E o que aconteceu com ele? E com ela? – Ainda curiosa e excitada com a história.

- Lilia não aceitou muito bem o presente das trevas, mas ao longo de uma semana parou de chorar e começou a aprender como sobreviver. Durante todo esse tempo, Coldheart não teve notícias de Londres. Parece que haviam se esquecido dele. Foi o que ele pensou, mas estava equivocado.

- Como assim? O que houve?

- Acalme-se, já vou chegar lá! – Afirmou Taylor. – Ele ensinou tudo o que pode a Lilia em um curto período de tempo.

Eu ia interrompê-lo com mais uma pergunta, mas não consegui fazê-lo. Só de olhar pra ele já me deixava eufórica e, além disso, a história estava prendendo minha atenção.

- Ela já se acostumara e se tornara uma grande predadora. O maior problema era o regente da cidade.

- Por que ele seria um problema? – Curiosa, fixando o olhar na lareira.

- Pelo simples fato de que todos os vampiros precisam da autorização do regente de sua cidade para “procriar”, além, de conhecer bem a vítima e saber se ela trará algum bem a sociedade. – Ele riu. – Coldheart não havia feito isso e logo a notícia de um vampiro quase ancião andando pela cidade de Nova York, com uma vampira recém-criada chegou aos ouvidos do regente. Causando-lhe fúria, pois a vampira recém-criada era sua neta.

- Calma aí. Ele não a assassinou, e sim a transformou. – Eu olhei para ele intrigada, minha feições demonstravam isso. – E ainda por cima ela é neta do regente. Não estou entendendo.- Fiz cara de quem não estava entendendo nada mesmo, porém, alguma idéia do que estava acontecendo se formava em minha mente.

- Deixe-me terminar de lhe contar e você irá entender. – Continuou. – David, o regente como você já conhece, mandou que caçassem Coldheart e o trouxessem a sua presença. Eles o fizeram. Depois de um longo tempo de busca encontraram Coldheart e Lilia em um velho apartamento. Ele, claro, já sabia que estavam a sua procura. Só que não adiantou se esconder. Lilia não sabia e nem conseguia entender o que estava acontecendo. Ficou apavorada quando viu quatro homens que mais pareciam gorilas, amarrarem suas mãos e a colocarem nas costas. Ela se debatia, tentando em vão se soltar.

- Eles foram levados até o regente?

- Sim, foram! Os capangas de David os levaram até um antigo prédio no centro da cidade. Qualquer um diria que estava abandonado, totalmente destruído. Mas as aparências enganam. O prédio destruído, por dentro era altamente luxuoso. Um hotel de luxo se assim ouso dizer. Muito mais bonito e luxuoso que qualquer mansão ou castelo, que seja. Bem bonito já ta de bom tamanho. – Riu baixinho. – Lilia e Jonathan foram levados até o quarto andar, entraram em uma ante-sala. Vários sofás, um pequeno bar e algumas pessoas, estranhas, aqui e ali. Coldheart mal teve tempo de olhar ao seu redor quando foi arrastado até uma porta dupla no fundo da sala. Um dos capangas abriu a porta, os outros os levaram para dentro. Era uma grande sala, dois sofás de couro de algum animal que infelizmente eu não sei qual é. Uma mesa de vidro, cheia de papéis, um pouco mais ao fundo, próxima a janela. A enorme cadeira que lembrava um trono, estava virada para a parede. Foi quando lentamente ela foi se virando em direção aos recém-chegados. Havia um homem sentado. Aparentemente alto, cabelos grisalhos, oclinhos meia-lua, bigode. Teria por volta de cinqüenta anos.

- Era o David, não era?

- Sim, era ele mesmo! – Afirmou sem entusiasmo. – David se levantou da cadeira e andou em direção a Lilia e Coldheart. Lilia ficara espantada e não parava de olhar para David, não o estava reconhecendo, mas lhe parecia familiar.

- Vovô? Ma...mas o sen...- Lilia engoliu seco. – O senhor tinha morrido! – Afirmou apavorada.

- Sim, de certa maneira morri! – Ele olhou para Coldheart com desdém. – E se não fosse por esse idiota. – Disse proferindo um soco no rosto de Coldheart. – Você não saberia disso e ainda estaria viva.

- Ma..mas...

- Sem mas, minha querida netinha. – Ele riu sarcasticamente. – Ele quebrou as regras e agora terá de pagar. – Soltou uma gargalhada e se ajoelhando até Coldheart que havia tombado com o soco, levantou seu rosto. – Ela não era nenhuma espiã, como seu querido regente o informou. Thomas apenas queria me atingir, acabar comigo, mas não irá conseguir tão fácil. – Ele começou a circular a sala bem devagar. – Thomas acha que você é uma ameaça, que pode roubar o “reinado” dele. Por isso o mandou caçar minha neta e tentar me atingir. Provavelmente você não resistiria aos encantos de Lilia e não a matasse e talvez eu descobrisse que você estava com ela e o procurasse. – Ele riu novamente. – E aqui está você, um vampiro, general dos antigos exércitos. Prostrado aos meus pés, é belo plano seu amiguinho teve, mas agora é tarde, os dois sofrerão o preço por quebrar uma regra, na minha cidade. – David pronunciou as últimas palavras bem devagar e com desdém. – Leve-nos para as câmaras de tortura.

- Porquê o senhor irá me matar, eu sou sua neta! – Afirmou chorando ao ser colocada de pé pelos capangas.

- Sim, você é minha neta e eu fico triste em perde-la, mas lei é lei, e a lei diz que se um vampiro procriar sem a autorização do regente de sua cidade. – Ele parou e a olhou nos olhos, como um animal pronto para atacar. – Cria e criador devem morrer, e a morte de vocês será através da tortura. –Ele se virou e ordenou aos seus homens. – Leve-nos e torture-os e depois os mate, pela luz do sol.

- Não, por favor vovô, não faça isso! – Lilia chorava desesperadamente, lágrimas vermelhas escorriam de seus olhos.

- Lilia e Coldheart foram separados. Lilia foi levada até o porão do prédio. Lá eles a amarraram e a violentaram de todo jeito possível. Depois abriram seu corpo e ficaram vendo ele cicatrizar sozinho, também a vendo gritar de dor. Eles apenas riam. Enquanto Coldheart foi levado para outra área do porão, lá também foi muito torturado. Tendo até seus órgãos podres arrancados. – Uma lágrima escorreu pelo canto do olho de Taylor, lembrar daquilo lhe deixava triste. – Quando amanheceu, os homens vestiram roupas protetoras e capacetes. Pegaram Lilia e Coldheart que se fossem mortais, já estariam mortos e os levou para o último andar do prédio. Subiram as escadas e chegaram a uma porta de ferro velha e enferrujada. Eles a abriram, o sol invadiu a escada. Todos tamparam os olhos. Lilia e Coldheart fecharam os olhos, os sol ainda estava fraco e apenas esquentava a pele. Logo eles iriam sentir a pele queimar até explodir. – Taylor me olhou, se olhar era triste e distante. – Os homens que protegidos da luz solar estavam ali, amarraram Lilia e Coldheart em estacas de madeiras. Elas estavam fincadas no chão, presas pelo cimento, pareciam duas cruzes.

- No instante seguinte ao serem amarrados, David chegou ao terraço. Também encapuzado e bem protegido, para não ser afetado pelos raios solares. Ele contemplava o céu azul, limpo de nuvens ou aves.

- Bem Coldheart, contemple o sol, pois será a última coisa que verá. – David gargalhou, estava satisfeito com tudo aquilo. – Adeus. – E saiu, desceu as escadas e sumiu, ignorando completamente a agonia de Coldheart e Lilia, sua neta.

- Coldheart não falou nada desde que chegou ali, somente olhava com compaixão para Lilia. “Eu te amo, Jonathan”. Foram as últimas palavras de Lilia. Ela não gritou, apenas chorou, enquanto seu corpo era consumido pelas chamas, ele também morreu em silêncio, com honra. Os dois viraram cinzas, as quais foram mandadas para o regente de Londres, que as enviou a mim. – Ele olhou para a lareira. – Está vendo aqueles dois potes de marfim ali em cima da lareira? São eles. – Ele se levantou e foi contempla-los. – Somente Lilia o chamava de Jonathan, por isso coloquei desse jeito.

- Sim, estou vendo! – Compadecida com seu sofrimento, vendo o nome Jonathan gravado em ouro na urna de marfim, o outro dizia, “Lilia amante de Jonathan”.- Mas como você soube de todos os detalhes? – Perguntei, realmente estava curiosa para saber, como ele soube para me contar a história tão detalhadamente.

- Num ato desesperado, quando soube mais ou menos o que aconteceu, procurei um necromante que por meios misteriosos, me ajudou a descobrir.

- Mas, como?

- É só isso que você deve saber! Por favor não me pergunte mais. – Ele se dirigiu até a porta. – Venha conhecer o resto da mansão.

Eu pude sentir o que ele sentiu. Não é fácil perder a pessoa que amamos. Jonathan Coldheart era como um pai, um irmão e um amante para Taylor. Como se já bastasse o fato de ter ficado sabendo pela pessoa que mandou seu criador para morte. Taylor viu a morte de seu senhor através dos olhos de um necromante. Sei que você deve estar curioso para saber como ele fez isso, ou o que fez, aliás o que um necromante faz? Não é? Bem, não poderei esclarecer essa sua dúvida, pois Taylor não deixou que eu soubesse e anos após bloqueou sua mente para que eu não descobrisse. Fiquei a me perguntar se era exatamente isso que o fez ir para o deserto. Ele também não me falou, mas acho que posso tirar minhas próprias conclusões e você também. Vou dizer o que acho.

Após falar com o necromante e ver tudo o que aconteceu com Coldheart. Taylor entrou em desespero, sua mente ficou perturbada. Era muito novo, um neófito. Não conseguiria sobreviver sozinho. Era isso o que ele deveria pensar. Por isso foi para o deserto, tentou se matar, mas não conseguiu. Voltando desiludido e parcialmente queimado para casa. Taylor ainda guarda marcas de sua passagem pelo deserto. Na época em que o conheci, ele estava com a pele morena clara, mas ainda sim, pálida. Hoje em dia ele já está recuperado e sua pele é branca novamente. Só um lugar continuou escuro, seu coração e a pele de seu peito guarda uma cicatriz escurecida pelo sol do deserto.

Vamos voltar ao assunto anterior. Taylor me mostrou toda sua mansão. Fiquei encantada com o lugar e mais encantada com a beleza de Taylor, nós vagamos pelo lugar, o dia já havia amanhecido e pelo que sei Taylor não podia mais sair de casa até o anoitecer, seu rosto mostrava sinal de cansaço, pois os vampiros não costumam ficar acordados durante o dia. Ele queria descansar, mas era um cavalheiro e primeiro iria mostrar sua casa à convidada.

Taylor foi bem gentil comigo. Só uma coisa que ele falou me deixou assustada, mas eu já desconfiava desde o momento em que me encontrei com ele pela primeira vez. Ele me explicou que dali eu não sairia viva, mas poderia optar por sair morta, sabia qual era meu destino e não lutei para mudá-lo. Não fiquei com medo e sim, nervosa. Taylor me seduziu conforme seu desejo, era assim que ele fazia com suas vítimas. Procurava deixa-las relaxadas e não tensas, facilitando seu trabalho. Agora eu estava mais calma, levada pelo perfume envolvente que emanava dele. Taylor me levou até um quarto, que seria meu logo depois. Era lindo, espaçoso, em tons de vinho e branco. Do lado oposto a porta havia um guarda-roupa enorme, era de madeira bem antiga e trabalhada. Havia nele desenhos de flores, vários tipos, gravados na madeira. A cômoda que também havia no quarto, era do mesmo material e continha os mesmos desenhos que o guarda-roupa. Pequenos animaizinhos de cristal ornamentavam a cômoda. O que mais me chamou a atenção foi á cama, era enorme e assustadoramente linda. De madeira escura e também desenhada. Possuía um cortinado vinho escuro, seu lençol era de seda branca, seus travesseiros de penas, super macios. O colchão também era muito macio. É extremamente maravilhoso deitar em uma cama dessas e fechar suas cortinas, deixando tudo escuro e aconchegante (e além do mais não lembro o nome que se dá a esse cortinado que fica envolta da cama), confortável. A cama havia sido arrumada especialmente para aquela noite.

Depois de observar rapidamente o quarto, tudo aconteceu. Taylor me levou e gentilmente me deitou na cama, ajeitando meus cabelos e acariciando meu rosto com suas mãos frias como o gelo. Beijou-me docemente. Seus lábios apesar de frios, eram macios e doces. Agora ele me daria seu presente, o presente das trevas, me trazendo ao mundo vampírico, à eternidade. Taylor virou lentamente meu pescoço, desceu sua boca sobre ele. Ele beijou meu pescoço, me deixando arrepiada. Quanto mais ele beijava, mais eu ficava relaxada e excitada. Ele levantou a cabeça e olhou para mim, abriu a boca num sorriso, seus dentes cresceram, seus olhos mudaram. Dentes de vampiro e rapidamente sem que eu percebesse ele mordeu meu pescoço, sugando meu sangue, minha vida, até a última gota. Dando-me uma nova vida, um novo mundo.

Posso lhe dizer que o êxtase de sua mordida percorria todo o meu corpo, aquela sensação era maravilhosa e nova para mim, não há palavras para descrever o quanto é prazeroso seu beijo. O quanto é maravilhoso, e existem pessoas que se viciaram pelo beijo vampírico e servem de fonte de alimento, deixando que os vampiros lhe mordam a vontade. Acho isso uma doença, é prazeroso, mas não se deve tornar um vício. Assim também é o nosso gosto por sangue, não há como descrever o quão bom é saborear sangue fresco, vindo da fonte, quente, entrando em nosso corpo morto, trazendo-nos, mesmo que por instantes, à vida. Foi maravilhoso quando ele me transformou, ele sugou todo meu sangue e depois como num ritual (que na verdade é!), ele cortou os próprios lábios com os dentes e me beijou ardentemente, deixando que o sangue vampírico entrasse pela minha boca e descesse pela minha garganta. Eu pude sentir seu corpo quente por alguns segundos, mas depois voltou a ficar frio.

O pior veio logo em seguida. Assim que ele parou de me beijar, eu já havia ingerido sangue suficiente para me transformar. Ele se sentou à beirada da cama e olhou para mim com um sorriso sincero no rosto. O ferimento em seus lábios foi cicatrizando lentamente depois que passou a língua sobre ele. Pensei que nada mais fosse acontecer e enquanto olhava para aquele fenômeno, ali deitada na cama, senti meu corpo morrer. Uma dor terrível tomou conta de mim, meu corpo se debatia sozinho e contrações tomavam conta de meus órgãos. Eu gritava e me contorcia de dor, nem podia pensar que estava morrendo, pois eu realmente estava. Taylor simplesmente olhava para mim e nada fazia ou dizia.

Em questão de minutos a dor foi passando e meu corpo se acalmando. Descansei por alguns minutos e só depois me levantei. Cruzei as pernas e olhei para tudo a minha volta. Estava tão diferente, estava tudo mais claro e agora eu enxergava detalhes nos objetos que eu não via antes.

- Não se preocupe, você já passou pelo pior! Agora virão as coisas boas, e pelo que vejo você já percebeu uma delas! – Ele sorriu.

- Minha visão está bem diferente do que era antes. – Disse espantada. – Parece dia. Legal! – Exclamei.

- E coisas melhores virão, agora você deve se alimentar. – Ele bateu palmas e logo uma de suas criadas apareceu à porta do quarto. – Traga-me a menina.

A fome que me afetou assim que me transformei por completo, foi terrível, mas Taylor era muito generoso, tinha guardado alimento para minha primeira fome. Depois de alguns minutos a criada voltou ao quarto trazendo consigo uma menina. Ela aparentava dez anos. Loira, olhos claros, indefesa e com medo. Ah... o medo, o medo entrava em minhas narinas e me excitava. Fazia meus sentidos se alegrarem. Taylor conduziu a menina medrosa para cima da cama. Ela não falava, nem nos olhava. Ele virou a cabeça dela, passou a mão em seus cabelos para tira-los de cima do pescoço e deixa-lo livre. Assim que vi as veias da pobre menina, meus dentes cresceram, meus olhos mudaram de cor e eu deitei minha boca no pescoço fino. Suguei todo o sangue que pude, até sentir ela morrer, seu corpo se contorceu e parou com o último suspiro de vida que fugia daquele corpinho para minha boca. Olhei para a pobre menina e admirei vossa beleza. Enquanto olhava para ela, Taylor novamente chamou a criada que levou o corpo embora. Eu lambi os lábios para levar até minha garganta o restinho de sangue que ficara ali. Passados alguns minutos me levantei. Taylor me conduziu até o espelho e eu olhei para mim mesma. Fiquei pasma com o que via. Estava mais branca, pálida para ser mais exata. Meu corpo parecia mais desenhado, as curvas mais acentuadas. O violeta de meus olhos, mais vivos. Meus dentes mais brancos e pontiagudos. Meus cabelos mais brilhosos. Enfim, estava diferente. Viva e muito mais bonita. Eu sentia isso, sentia-me mais viva, sentia-me bem, mais bela e sedutora.

Eu não sabia o que fazer no começo e Taylor como bom mestre me ensinou muita coisa. A primeira coisa que aconteceu, foi que Taylor me levou para ser apresentada ao regente da cidade de Londres. Seu nome é Thomas Dibouah, ele me recebeu bem, mas eu podia ver o mal em seu olhar e o mal que havia feito ao senhor de Taylor. Pelo que posso perceber, Taylor guarda um grande rancor por Thomas. É claro que ele não revela isso a ninguém, mas quando seus olhos pousaram em cima de Thomas, eu pude ver que ele ainda tinha muita mágoa. Nunca imaginei que um homem como Thomas fosse capaz de tal atrocidade, ainda mais com um vampiro que era respeitado pela sociedade. Acho que ele fez isso por medo de que Coldheart pudesse roubar seu reinado. Porém, Thomas não demonstrou remorso, muito pelo contrário, quando me viu com Taylor, ficou alegre e tratou Taylor como um velho amigo, apesar de não terem sido íntimos. É muito estranho, mas agradeço por Taylor ser muito paciente, levando tudo na brincadeira e deixando de lado as provocações e indiretas de Thomas.

Thomas me aceitou e ordenou que meu senhor tomasse conta de mim e que eu fosse vigiada até no mínimo meus cem anos. Sabe o que é isso? Cem anos sendo monitorado, com alguém de olho no que você anda fazendo. Só que isso nem sempre dá certo. Alguns neófitos podem causar mais estragos do que um matusalém, se revelar aos mortais e outras coisas. Há punição! E ela é dura. Morte, morte para o neófito que infringiu as regras e para seu senhor, por não ter cuidado de sua cria. As coisas não são tão fáceis como pensei que fossem, mas também não são tão difíceis. Taylor sempre foi um homem de prestígio na sociedade, muito respeitado, assim como seu mestre um dia fora, para minha sorte é claro. Viver entre vampiros não é fácil, são cobras prontas para dar o bote e quanto mais prestigiado você for, mais proteção você terá. E isso pode ser de grande ajuda no futuro.

Aos poucos fui aprendendo a dominar algumas das disciplinas que o clã de feiticeiros conquistaram durante os anos, outras não consegui, mas não irei desistir de aprende-las um dia. Aprendi também todas as tradições do clã e da sociedade. No começo achava isso bem legal e me divertia ao treinar minhas “magias”, ao ler os livros antigos que a biblioteca da capela possuía. Só que eu sentia um vazio por dentro e até hoje ainda me sinto assim. Ter deixado tudo pra trás, meus amigos, meu futuro, minha vida, foi muito difícil. É bem normal entre nós ter esses surtos de depressão, muitos guardam mágoas de terem deixado suas vidas e se tornado o que são, outros não tiveram escolha. Nós temos duas escolhas, ou você segue em frente e esquece de tudo ou você se mata, mas apenas a primeira opção é válida, pois nenhum de nós quer se matar ou ser morto.

Por mera satisfação de meu ego, devo lhe dizer que meu senhor fez parecer que eu fui morta, o que realmente acontecera, mas como se houvesse sido assassinada e o que encontram foram meus documentos próximos a um corpo totalmente carbonizado. Era impossível de se descobrir quem era, mesmo que tentassem fazer o teste com a arcada dentária. Só deduziram que era eu pelos documentos encontrados com o corpo. Ele fez tudo direitinho para que não percebessem o que estava por trás de tudo. É muito interessante, não é?

Os anos se passaram e eu fui me aperfeiçoando, passei por muitas dificuldades, principalmente para me manter escondida dos mortais, ou melhor dizendo, cobrindo as evidências de que eu existia. Sugar o sangue de um mortal, mata-lo e deixa-lo pelo caminho não é uma coisa aceitável. Quando nos alimentamos temos todo o cuidado do mundo para faze-lo. Esconder os corpos é o primeiro passo. Há quem saiba apagar as lembranças da mente de sua vítima, deixando-a viva para seguir seu caminho, mas isso é muito arriscado. O mais fácil é matar e esconder o corpo. No início isso é realmente traumatizante. Eu não conseguia matar minhas vítimas, era horrível. Com o tempo você vai se acostumando e quando vê, é um assassino nato. Perito em esconder corpos. Mesmo que um dia eles sejam encontrados, mas até lá já estão em decomposição ou pelo menos já se levou tempo bastante para ser impossível de descobrir a causa da morte. Tudo bem, eu sei que a pergunta básica que qualquer um faria seria, “Mas eles não veriam a marca dos dentes no pescoço da pessoa?”. Resposta rápida, não. É impossível, a nossa saliva é altamente curativa. Uma lambida no ferimento e ele some. Somente descobririam se algum otário esquecesse de lamber o ferimento para cicatriza-lo. E é claro que nenhum de nós seria louco de esquecer esse pequeno detalhe ao final de nossa refeição.

Vamos continuar comigo. Eu já passava dos 27 anos de idade após ter sido morta, vi muita coisa acontecer neste mundo. Prédios caírem e em seus lugares surgirem outros, mais novos e modernos. E foi nessa época também que conheci uma pessoa, ele se chama Kristian Mcgregor. Um rapaz maravilhoso, um mago, um mortal. Alto, loiro e de olhos claros. Parecia um elfo saído dos livros de rpg medieval, magnífico. Kristian me ajudou muito por um longo tempo, era um grande amigo. Isso até desaparecer, eu não fazia idéia para onde ele deve ter ido, nem o por quê. Fiquei muito triste por ele ter partido sem avisar ou dar qualquer recado, pois ele é o único que me ouve e me entende como realmente sou. No mundo vampírico você não pode confiar em ninguém, mas mesmo assim eu coloquei toda minha confiança em Kristian, ele me prometeu que nunca iria me deixar desamparada, mais deixou. Eu encontrei nele qualidades que não havia encontrado em ninguém, além do fato dele me aceitar como sou.

Durante os dois anos em que ele ficou desaparecido, fiz de tudo para encontra-lo, mas alguns vampiros de dentro do meu clã me impediram. Meu senhor não gostava nem um pouco da minha amizade com Kristian, apesar do fato de sermos feiticeiros, nós confiamos muito pouco nos magos mortais. Sendo assim eu acabava entrando em atrito com Taylor, eu tinha de ouvi-lo, ele é meu criador e para evitar mais problemas, desisti de procurar Kristian e prometi a mim mesmo que nunca mais pensaria nele. Era o mais certo a se fazer, não podia continuar a brigar por uma pessoa que não estava por perto e nem se comunicava. Não mandara uma carta, não dera um telefonema, nada, para dizer se estava vivo, bem, como estava vivendo e aonde. Se ele não se importava com os meus sentimentos, porque eu me importaria com os dele. Não valia de nada continuar a lutar por uma amizade que acabou há muito tempo. O problema que era essa a lógica, mas meu coração dizia outra coisa. “Vá, procure por ele”. “Ele deve ter tido seus motivos para não dizer pra onde foi.”. Era isso que meu coração sentia, ouvia e dizia pra mim. Era tudo o que precisava para alimentar esperanças.

Na mesma época, eu vendi minha antiga casa e comprei um apartamento no centro de Londres. Voltei a morar sozinha e meu senhor apenas me visitava e tomava conta de mim. Não era mais obrigada a viver sob o mesmo teto que ele, agora teria minha própria vida. Eu possuía uma “empregada”, uma pessoa que cuidava para que nada acontecesse enquanto eu estivesse dormindo e também para que não entrassem em minha casa ou coisa assim, enquanto eu estivesse fora. Uma “secretária”. Nós chamamos esses empregados de Covers. Quando damos nosso sangue a mortais sem matá-los ou sugá-los, fazemos com que eles fiquem submissos a nós, sob nossa ordem por toda vida deles. É necessário que ele aceite nosso sangue quatro vezes, sendo que na última nós devemos sugar um pouco do sangue da pessoa escolhida como escravo. Jilian é o nome da minha cover, ela cuida de mim.

Estava satisfeita em ter minha própria casa, quer dizer apartamento. Eu havia vendido minha antiga casa, eu a mantive fechada por anos, e a única coisa que tive que fazer foi arrumá-la. Tirar as coisas velhas e sujas e comprar coisas novas, modernas. Depois da arrumação eu a vendi por um bom preço. Foi triste vende-la, mas eu não queria relação com o passado. É triste lembrar da minha antiga vida, lembrar que não tive chance de despedir-me de meus pais, mesmo quando morreram. Hoje só posso ir ao cemitério e rezar em seus túmulos. Meu irmão sumiu, nunca mais o encontrei. Nem ao menos sei se está vivo ou morto. Além do mais, não quero saber. Como disse, quero esquecer meu passado, tudo que deixei para trás.

Comprei meu querido apartamento, lindo, possui uma vista maravilhosa. Na sala, um grande televisor chamava a atenção, eu o havia visto em uma loja e não resisti, agora estava na minha sala. Isso juntamente com uma enorme estante de madeira que contem vários livros de todos os tipos, dos mais antigos aos mais modernos. Os móveis de minha casa são todos de madeira escura, bem trabalhada e igualmente com desenhos de flores. Como o guarda-roupa da casa de Taylor. A cozinha que é unicamente usada por Jilian, é em tons de azul e branco. As paredes foram pintadas na cor bege, dica de Jilian e ficou realmente bonito. As cortinas que possuo nas três janelas do apartamento são brancas com detalhes azuis. Meu quarto é bem amplo, fica de frente para o de Jilian. Ele possui uma cama enorme, que ganhei de Taylor. Uma televisão e um aparelho de som. Vários cd’s repousam ao lado do aparelho. Que estilo? Puro Rock, Gótico, Doom e Metal. Também possuo um aparelho de DVD que fica na sala, juntos com vários filmes. O banheiro que tenho no quarto é daqueles embutido no armário. Tem uma banheira linda e espaçosa. Na parede acima da minha cama, tem uma espada pendurada, uma Katana que ganhei de um espadachim! É muito bela, raramente a uso. Prefiro minha magnum, é mais rápida e eficiente. O tipo da magnum? É uma magnum pistola, cromada. Isso que acabei de detalhar é para que você tenha uma idéia de como eu vivo, como é a casa onde moro. E para que não fixe na cabeça que todo vampiro vive em buracos fétidos e sempre está imundo, não, isso só acontece em poucos casos. Vampiros que não se importam com nada, vivem assim. A maioria é elegante, limpo e belo. Vive como um mortal, mas com um pouco mais de luxo e tempo.

Ah, é claro que sempre mantive contato com Taylor, sempre vou à capela que nosso clã possui nesta cidade, pois tenho responsabilidades e lá converso por horas com ele. Lembro-me da primeira vez em que fui à capela, ela é muito mais antiga do que qualquer pessoa possa imaginar, é linda, até hoje fico desnorteada com sua beleza. Mas não irei detalha-la muito, pois acho que não conseguiria faze-lo. É impossível detalhar com exatidão sua beleza e imponência. Mas preciso te dar algo no que se basear. Imagine um monastério, aqueles bem antigos, onde você encontrar pilhas e mais pilhas de livros. Só que com a beleza de um castelo, um palácio, com suas armaduras e tapetes vermelhos. É mais ou menos isso. Ta, você deve estar se perguntando “Mas será que ninguém veria algo tão grande e suntuoso?”. A resposta é simples, mas complicada de explicar. Magia, pura magia antiga. Quem olha a capela por fora, imagina uma igreja em decomposição, simples, ninguém sabe o que há dentro. Os anciãos encontraram mágicas e feitiços muito antigos, procuraram e uniram o que encontraram ao que já conheciam. E se fez a capela como ela é hoje em dia. Há uma entrada secreta, só os de dentro do clã sabem dela. Ao decorrer da história você ficará sabendo mais coisas, é só prestar atenção.

Eu passava um bom tempo na capela, estudando.Mas enquanto estava em casa ficava pensando em Kristian, sentia muita falta dele ao meu lado, mas eu ia superando, evitava pensar que eu o amava e só de me lembrar do que eu sou, perdia todas as esperanças. Mesmo que ele voltasse, pra ele eu continuaria sendo sua amiga, nada mais. Uma das tristezas de ser o que sou é essa, o amor. Nós sentimos, pois um dia já fomos humanos e isso não muda. Amar, qualquer vampiro pode amar, é só querer e eu queria, mas não podia.

Faye moncryef
Enviado por Faye moncryef em 21/10/2010
Código do texto: T2570617
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